sexta-feira, maio 11, 2018

O não lugar (miniconto)





por Rafael Belo


O espaço é preenchido como se um ápice emotivo fosse o baque no final. Os braços se abrem em uma espontaneidade risonha. Então, nem percebo o reflexo de todo meu corpo. Abri o braços também. Eu até sabia das possibilidades das pausas, mas este devagar no intraduzível slow motion não parece real. Realmente o tempo se arrasta em outro tempo. Nada passa. A gente se abraça como se só houvesse um ali. Respiramos juntos…

É um alívio sem motivos. Chega de ficar chafurdando razões. A gente se abraça. Tudo passa.  Não há palavra. Absolutamente só se move o natural e o silêncio. Ninguém sabe mais nada do tempo quando nossa bolha estoura. Mas, de novo nossa pele roça para que a gente possa continuar um só respirar. Nem consigo lembrar o porquê deste separar tão longínquo agora… De hoje em diante guardo unicamente boas memórias porque até àquelas consideradas ruins me trouxeram até este abraço.

Não há espaço vago mais. Estamos transbordando. Estou falando por nós sem pensar e você nada disse. Se consigo imaginar algo, planejar qualquer coisa sempre termina com nossos abraços. Mas é mais um constante começar. Abraçar é um vício que prefiro chamar de cura. Desarmar… Eu estava armada do instrumento certo, cada palavrinha vinha com algum dissabor e depois o entendimento. Porém, não queria fingimento em momento algum. Permissões e desculpas eram um instante de cinzas ainda queimando nas brasas desta exatidão de nós.

Quem diria que as loucas estariam vivasQuem diria algo sobre este tamanho sucesso? Não só diria como disse. Tanto você quanto eu. Zeramos a vida bem aqui. A partir de então o tempo deixou de ser linear e eu falo como se estivesse no ontem e tu vai e vem sem gênero no amanhã com todo este abraço acontecendo agora e se repetindo igual no geral, outro nos detalhes até este Amar - só existindo no agir - na conjugação associada, mostre para nós uma amostra do infinito tão bonito de apreciar e criar. Assim, preenchemos todos o lugares. Respeitando ainda o vazio e o não lugar fazendo o tempo nunca mais voar.

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