por Rafael Belo
Uma ponte se forma no céu. Eu paro. Eu sempre paro quando algo
surpreendente me atinge de repente. Um arco-íris faz as ligações celestes e
fico pensando quem atende... Mas sigo em seguida com aquela bela imagem na
mente. Chove em algum lugar enquanto outro lugar oposto, do avesso, só assiste,
só passa vontade e calor. Falando assim eu pareço a mulher à favor ou a do
contra. Não. Surpresas me apavoram. Eu ando pensando só em mim e é assim que
vou me curar, passar a pensar no outro nos momentos certos e em mim full time. Neste
tempo todo...
Passei a buscar o cotidiano. Passei a gostar do monótono... Mas, chegar
ao fim do dia com este espetáculo não aplaudido, não reconhecido, dói... Por
isso, prefiro não pensar e tento não sentir. Tento esquecer esta dor e a imagem
do arco-íris simplesmente brota na minha mente como se ao invés de íris, meus
olhos fossem estas cores originais. Também desejo chuva em mim e fico na
imaginação. É quando começo a desintegrar em uma desassociarão total das partes
do meu corpo. É o físico indo, a alma expandindo e a solidão chorando em
arrepios.
Quando percebi já não sabia mais se perseguia a chuva ou o arco-íris ou
vice-versa. Sei ter anoitecido e eu nem amanheci direito ainda. Estou andando
em círculos e eu nunca fui de rodar. É muita felicidade ficar girando à toa e
eu não sou exibida. Nem feliz a este ponto. Gosto de efemeridades. Coisas constantes
me incomodam. É preciso acontecer e acabar entre dois pontos definidos ou nada
feito, eu desapareço, mas neste momento me esqueço de quem sou e dirijo
procurando a Beleza no céu.
Não quero me surpreender, mas ficar desatenta ao tráfego gera surpresas
gerais e nada educadas. Recuso-me a estas diárias coisas surpreendentes ao meu
redor. Queria ser deixada em paz, mas como negar a natureza? Como negar minha
própria natureza? É uma explosão constante de tentativas intermináveis de me
tirar da mediocridade, do comodismo, deste modismo de afirmar não ser comigo...
Quero o fácil. Escolhi o fácil e todas as consequências podem vir, mas escolher
ter amnésia, viver em um autismo opcional acaba em reações frustrantes... Negar
a mim mesma é um conformismo cortante me desafiando a resistir! Preciso
descobrir qual lado da resistência é para ceder ou manter... Ah, estou
surpre... Nãooo!
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