sexta-feira, agosto 31, 2018

Distraídos anônimos (miniconto)






por Rafael Belo

Eu levantei a cabeça. Corrigi a coluna. Doíam meus ombros, minha lombar, minhas pernas, minhas costas, meu pescoço, meus olhos lacrimejavam e eu não conseguia me concentrar em nada. Não lembrava das coisas, das pessoas… Aliás, não me lembro. Este foi o primeiro estágio. Ainda é. Sigo com problemas temporais. São temporais de conexões que já nem existiam mais. Sofria de distração aguda. Quando criei o DA, o Distraídos Anônimos tinha consciência que falaríamos todos os dias.

Este grupo é full time. Estamos online, conectados direto nos nossos smartphones para um cuidar do outro. Seremos os menos distraídos possíveis. Ser multifuncional é a maior distração quando parecemos sempre ou acelerados no efeito drogados ou trocando tudo e trançando as pernas na quase perda total alcoólica solicitando ansiolíticos e vitaminas para sair da exaustão, desta constante ocupação em busca da distração infinita…

Minha diversão hoje contém imersão sim, mas é uma diversão responsável para eu não me perder diante de tanta tentativa de enrolação na nossa vida rumando a enganação e o acúmulo de corrupções… Seria o motorista da rodada que dá certo… Sempre que alguém passar do limite da distração outro alguém vai chamar a atenção deste alguém.

Por um minuto a menos desta deturpada distração nos fazendo reclamões sobre a disponibilidade do nosso tempo, desta espiral do silêncio atualizada diariamente adaptando as informações pessoais e carências que espalhamos por aí. O Sistema principal da nossa sociedade é a distração. Podemos assumir isso? Não saiam daí. Estamos com o pacote empresarial de conexão infalível. Isso não vai cair. Procurem se distrair o menos possível. E padrinhos! Todas as notificações das mídias sociais dos seus afilhados também apitarão nos seus aparelhos. Logo mais outra intervenção com upgrade no nosso Ao Vivo. Atenção! Não se distraiam.

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