por
Rafael Belo
Acordou chorando como
se tivesse nascido naquele momento. E de certa maneira aquele velho novo rebento
ainda estava nascendo. Segurou tanto tempo seus prantos a ponto de, vez ou
outra, sair aloprando. É! Estava enlouquecendo. Achou ter quebrado a ponte
entre sua imagem e seu eu. Sua emoção e sua razão, ele acreditava, não se
batiam e estavam distantes. Aliás, Cláudia, se dizia fria e vendia tal absurdo.
Mas, não naquela hora. Ao acordar de madrugada ela chorava todo um oceano antes
contido.
Amanheceu e o choro
continuava. A manhã passou em lágrimas. À tarde ainda soluçava. Dormiu assim,
mas ainda chorava. Este chorar durou uma semana. Cláudia ainda se sentia recém
parida. A recém-nascida olhava o mundo com aqueles olhos de criança. Uma nova
inocente transgressora. Com os olhos brilhando só sorria. Era outra sendo ela. Tanto
era... Ninguém a reconhecia. Nem a mãe... Nem o pai. Até os irmãos estranharam.
Acusaram-na de estar apaixonada. Estava amando. Cláudia não retrucava. Ficava sorrindo
em silêncio brilhando.
Claro. Estava apaixonada.
Amando bem certo. Seu Amor era ela. Agora se conhecia. Antes nem se gostava. Porque
ninguém gosta do desconhecido... E apesar de diferente, Cláudia não era
diferente. Mas ela sempre fingiu se amar. Porém, era sempre assim no minúsculo.
Uma palavra sem substância, sem substantivo, sem verbo... E tudo saído dela
também saia assim... Sem qualquer pontuação ou contexto. Um constante pretexto
para ser o inexistente. Gente sem choro, sem vela.
Quando a pegaram
chorando, ela ria. Respondia as infindáveis questões com lágrimas de ironia. Sempre
haviam e haveriam situações a tocarem seu coração e ela desceria do muro... E
ela tomaria partido e também derramaria o copo d’água. Perderia, aos poucos, as
medidas, os pesos, as manias. Queria ser uma página em branco por dia, mas não
deixaria esquecer (esquecerem) todas as referências. Depois sempre saia.
Cláudia partia como quem acaba de sair do mar sem se banhar em água doce. Estava
agora temperada, salgadinha.
2 comentários:
Olá, tudo bem ?
Que os anjos do céu, contemple a sua quarta feira, com o sorriso reluzente da Paz e da Compreensão. Afinal, somos todos pecadores.
Abraços
Lágrimas sempre. Fazem bem ao coração ....doces...salgadas....Bj no coração. Mamys
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