Pétalas amarelas são perfeitas
até na imperfeição. Juntas formam a flor e o perfume contrastando com o verde
como um desmaio de olhos abertos. É um sair de si e ser outra pétala desta
mesma primavera neste botão aberto. Sair de si e ser outras possibilidades é se
dar a liberdade de imaginar e poder ser todos os seus dons. Perder o tom e
desafinar a vida é um caminho a ser percorrido.
Como saber a afinação e o dom sem
sabermos a desafinação e aquilo com o qual não temos afinidade? Perdoar-se e o
outro pode variar entre o grave e o agudo, mas deixar a ignorância ganhar
nuances de drama é perder por desistência ou simples ausência. Não podemos
vestir este traje da depressão, vale mais o desapego. Temos de estender a mão e
nos despir de preconceitos.
Mas ficar nu e ostentar a magreza
com adornos de adoradores do corpo malhado é aquela velha história de chover no
molhado, de usar flores para disfarçar o cheiro de decomposição. Talvez da
nossa consciência iludida, dos nossos óculos corretores da miopia e do
astigmatismo, mas com lentes da fantasia. Usando da brincadeira e da ironia, ou
melhor sarcasmo, para humilhar e ofender dizendo com outras palavras o que
queria dizer.
Proporcionando dor em si e no
próximo é se despetalar, desbotar e acelerar a própria decomposição. Sem cor e
sem odor a vida vai ficando sem graça e realmente começa a doer. Não podemos
ignorar a dor alheia, mas precisamos acabar com nossa dor, encontrar nossas
cores originais e saber mudar de pétala se preciso for. Então, nossas mãos se
estendem naturalmente até parar de doer.
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