“Quase
selvagens”, pensava ela olhando para ele e para as próprias linhas das mãos. “Estou
perdido e Aura está me encarando... Eu fiquei distante e ela ganhou outras
formas”, pensava ele. - Lauro... Será que nos amamos? Ele sabe que não adianta
fingir. A pergunta foi feita em voz alta e lhe ocorre a destruição que causaria
se dissesse seu esperado para a noite anunciando: ninguém dorme e ficamos em
claro passando por todas as posições do Kama Sutra ou nenhuma palavra e vamos
dormir... Não! Somente traria mais chororô e dúvidas.
Ele
se senta. Olha ao redor. Ouve a insônia da cidade e tenta focar no rosto dela. Aperta
os olhos mais para desfocar do que manter uma imagem nítida de Aura e espera.
Lauro espera para quem sabe haja uma repetição da pergunta e o que pensa
imediatamente é na variação de idade. Não entre eles, mas às vezes a diferença
da correta e da aparente é enorme. Já passaram de 18 a 25 anos, mas raramente
os 30 e poucos de ambos. Nesta noite qualquer um juraria terem mais de 50
anos...
-
Como a gente sabe o que quer? Lauro pergunta sem resposta. – Você sabe o que
quer? Ele insinua a cabeça em direção de Aura e mais uma vez espera. Tenta não
dar seu sorriso cínico e definitivamente evita o de superioridade. Faz cara de
paisagem desolada para disfarçar seus pensamentos sobre o objetivo da vida,
sobre as atrocidades e toda esta pancadaria em estilhaços de guerra.
Lauro sabe como brigar, mas seu maior
conhecimento é como não brigar. Ele se declara e umedece os lábios com o
coração. Sussurra as mais belas palavras possíveis àquela hora da madrugada. Eles
se abraçam. Choram e choram mais um pouco. Choram pelas interrogações, por não
ser como era antes, pela juventude, pela velhice e, então adormecem mais leves
mesmo sem saberem se foram as lágrimas o motivo do alívio ou por conseguirem
dormir sem brigar. Antes do dia despertar seus corpos se entrelaçam e amassam o
tempo. Algumas coisas voltam a fazer sentido por enquanto e é o bastante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário