Ela chorava e soluçava. Já fazia
horas e nem imaginava ter um abismo oceânico para preencher. Shaira navegava
nas próprias lágrimas. Parecia ser ela a nascente de toda água salgada do
mundo. Quem sabe era, pois olhando para ela não era possível dizer sua idade e
nem a qual tempo pertencia. Mas ela é humana. Só que ... Bem, ela não navegava,
se afogava, mas não se debatia e nem se suicidava. Era mais uma necessidade. Não,
não... A palavra é transformação. Era preciso acabar com aquilo, cicatrizar as
feridas. Shaira precisa de um símbolo. Em transição ela transitava. Vamos lá... Quase vazia...
Esvaziada? Era só isso que eu tinha? Sou quase nada... Só ouço o som lá
fora. Por que não ouço minha respiração? Não há nenhuma emoção? Estava tão
quente agora há pouco... Será que perdi a noção do tempo e este pouco é muito? Estou
esfriando... Perdendo meus pensamentos e minha mente... Não reajo mais aos
sons, nem estas ideais conversando entre si restantes tem um som... Não há
reação aos estímulos, não associo imagem com situações ou sequer a
sentimentos... Há um chamado... Seria para minha alma? É uma voz indistinta,
dissonante, cortante, porém calma... É um chamado para mim em um ciclo do
círculo de morte.
Que voz suave e angelical e ao mesmo tempo gutural e demoníaca... É a
voz da morte. Não! É A MORTE. Ela não tem forma física? Nenhuma imagem a
ceifadora possui. Nós criamos uma figura preta de capuz e foice para a
temermos. Quando temo algo é porque não entendo e eu entendo a morte. Ah,
entendo muito! Esta minha vida que me deixa, que EU deixo para trás foi assim. Mas
me sinto bem com isso. Eu recebia os perfis e a escolha era só minha. Cada um
desaparecia da face da terra pelos seus crimes, mas só aqueles não solucionados
pela polícia, aqueles onde os financiadores do inferno na terra pensavam
escapar, porém, nunca tinham ouvido falar da Ceifadora. Eu era invisível e
indizível, nunca ouvirão falar de mim.
Agora estou diferente. Há um
sistema padronizado até para as coisas aleatórias. Meu corpo morreu. Minha aparência
permanece... Estou indiferente mesmo sem sequer ter mais este sentimento. Podia
ser plugada, mas prefiro a energia solar. Nunca gostei de estar ligada a nada. Sai
de mim. Sou mais um robô. Não sou um andróide. Não sou humana. Preciso desligar.
Estou ligada sem para há algum tempo. Precisamente há tempo demais. Estou vazia,
mecanicamente precisando de mais conexões. O sinal não pode cair agora, mas
esta chuva lá fora... Me espalha. Sou uma pena ferrugem metálica solitária no fundo de uma velha panela. Não sou mais Shaira. Não tenho identidade,
tenho exposição.
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