quarta-feira, setembro 07, 2016

Engano (miniconto)



A neblina estava tão densa a ponto de parecer escuridão. Mais um dia de mostrar as armas, de mostrar orgulho. Há 50 anos não fazia frio no 7 de setembro, então, estavam todos preparados para o desfile tradicional como esquimós no inverno. Bem, todos menos Mailaine. Um daqueles fardados havia despedaçado o coração dela depois de ter declarado: É Amor! Mas, obviamente não era. Aliás, Não É Amor! Além da dor, Mailaine sentia raiva, porém ela não se preocupava em concentrar só naquele símbolo perfeito do machismo. Ah, não! Ela permitia se inundar daquele sentimento de revanche para atingir quaisquer destes seres se achando homens!

Como pude ser tão estúpida para achar existir a possibilidade de ser diferente com este. Nenhum deles presta. Não sou deste tipo de encher a cara e precisar de baba/amiga para eu não ligar para ex ou outro babaca. Olha eu nos separando por tipo também. Esta merda pega. Homens são minoria... Hummm... Será que se começassem a desaparecer o IBAMA colocaria na zona de perigo de extinção ou liberaria a temporada de caça? Não, eu não sumiria com meu pai, talvez com um dos meus irmãos... Não, não, não...! Não posso ser escrota como eles, posso?

Talvez só um pouquinho... Lá está o canalha! Que filha da.... Mãe!!! Se ele me bater de novo, posso estragar minha vida e quem vai ganhar com isso? Preciso me controlar. Será que vão sair do quartel com toda esta neblina? Poutz! ansiedade mata também, não mata? Por que não prestei atenção na previsão do tempo antes de sair de casa, heim? Está congelando aqui e se eu não parar de morder meus dedos eles vão cair... Por que tenho que me controlar sempre e ele não se controla nunca... Eu quero me descontrolar um pouco, não posso? Tenho direito também.

Não sou a garotinha assustada e oferecida que dizem... Embora possa ser! Não vale à pena me envenenar de raiva por causa dele, deste monte de bosta! Quando eu pensar melhor vou perceber que nunca amei este ser também. Nem deu tempo para isso. É só raiva e vai passar de um jeito ou de outro. Ele me viu! Merda merda merda merda!! Ele está vindo e agora? Sigo com o plano ou viro às costas e corro embora antes dele me alcançar? Não devia continuar parada aqui. Eu não consigo sair daqui... Seria o descontrole. Ai dele se me pedir para ficar calma...


Foi pior! Ele pediu desculpas e jurou não repetir mais. Foi o estopim, a gota d’água, o fim... Para Mailaine. Ela descarregou nele a .38 dele esquecida no dia anterior na casa dela. Na neblina e confusão, os militares só dispararam de volta... Mailaine só sussurrava: Não é Amor, é engano! Não é Amor, é engano, Não é Amor, é engano...