Rafael Belo
Há um ritmo diferente rompendo
nela, abrindo portas e janelas para vê-la dançar, mas seus pés não se aguentam mesmo
levitando como se a dor nada fosse. Ela dança. Seus passos desenham no chão
anjos de neve, corações de areia soprados ao vento... São tão leves... Ela é uma pluma voando das
nuvens, mas suavidade não significa delicadeza. Ela é um puma, uma pantera. Fera.
Bela. Beija e ruge. É flecha e alvo, se lança na dança. Não se cansa de fazer
arte com movimentos. Seu corpo todo é alma seguindo o ritmo do coração, mesmo
se a mente ainda não tenha a mínima noção de toda esta força dela. Natureza
Passo não passa, permanece nos movendo.
Fluir, fluir... Rodar... O universo aqui está. Colado ao meu rosto,
dentro de mim... Trocando minha alma com a vida. É meu par, sou par dele. É um
abraço apertado deliciando viver. Dançando, esperando a música não acabar. Vida,
vida, me tirando pra dançar antes que eu mesma a tire. Dê-me a mão e solte para
eu de novo a procurar. Entrelaçar-me toda em ti. Sermos uma. Uma força tamanha.
Esta força estranha saindo do chão para o ar. Passando pelas borboletas no
estômago, no meu âmago a me entregar aos compassos deste ritmo mutante.
É mágico dançar com a Dança cada instante. A olhar nos olhos e deixar
de saber quem é quem. Que sou eu? Quem é a Dança? Minhas pernas esticam, meu
tronco vai ao estilo da postura... O chão balança... Nos passos o corpo segue as
batidas, ondula... Circula a cintura e separa sem deixar de tocar. O brilho do
meu olhar suspira pelo brilho da visão da dança. Para abraçar o todo fecho os
olhos na esperança do mundo inteiro fechar e sentir mais o fluir do sopro da
vida, do correr das águas... Não há mágoas, não há bolhas, há só a escolha de
ser Par e participar.
Não há ninguém aqui hoje participando desta Dança. Já se foram as horas,
já se foram há horas... Meditei sem saber. Encontro-me com A Dança e sou muito
mais. Vou para um tempo e espaço onde não há “eu acho”, só existe a certeza do
passo e as consequências da liberdade. Liberto os ruídos da cidade, a confusão
das pessoas e sei não haver complicações na vida nem em mim. Há fins para
recomeços e prefiro sempre recomeçar A Dança. Bailar descalça bolero, samba,
forró, valsa, tango, mambo, foxtrot, bossa, merengue, pasodoble, salsa... Quebrando
a coreografia do cotidiano transformando cada segundo em um feliz ano para continuar sendo o melhor Par.
Um comentário:
Vivo a dançar...com ritmo,sem ritmo! O texto muito bem escrito nos leva a refletir! Parabéns!
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