por Rafael Belo
As pegadas atrás de nós mostram o
peso da gente. Não os quilos do nosso corpo, mas o tanto de desnecessidades se
acumulando dentro da gente. Cada um de nós traz uma quantidade incalculável de
poeira escondendo quem somos e quem podemos ser. É uma sujeira curvando o corpo,
baixando os olhos, adiantando um envelhecer inexistente no cansar dos olhos, no
arrastar dos pés, na desistência triste lapidada na expressão sempre distante
da face. Nossos pés estão tão fundo no concreto que é preciso muita
flexibilidade para retirar a perna do buraco para o próximo passo.
Não estamos ocupando nosso espaço,
nem estamos presentes. Vivemos de uma ausência complexa fabricando um vazio
constante e estamos de enfeite na estante assistindo nosso próprio espetáculo
sem nos reconhecer. Somos novos! Um novo ano acaba de nascer! Não somos
promessas nem este ano ou os que foram e virão. Somos realidade, sonhos,
presente... A simplicidade, os detalhes dos pequenos gestos... Nada de espera. Não
me venha sentar e aguardar o fim dos tempos, o advento porque já acontece tudo
isso em nós.
Somos este milagre que a gente
tanto espera, esta chance de prosperar, esta oportunidade de se realizar, as
boas novas, a Paz e o Amor. Nenhum destes é um sentimento. São estados da nossa
Alma, são sujeitos do nosso Coração. Nós somos o tempo. Não há idade. Há a
experiência e a sabedoria tentando serem vestidas, respeitadas... Mas, veja só
- olha a gente – nos deixando levar pela ira, pela discórdia, pela ausência,
confundindo esvaziar com vazio, esquecendo de nos olhar nos olhos, entregar um
sorriso, desejar o bem e o bom...!
É de se envergonhar nossas mentiras,
nosso comportamento, este temperamento velho, rançoso dominando a necessidade
criada de dinheiro e glória. Quem ganha com nosso egoísmo, nosso empobrecimento
de ideias, nosso esfriar do coração, nosso apequenamento da alma, nossa
descrença? Por que matar nossa criança e impedir a infância de quem nem chegou
a adolescência? Estamos nos tornando máquinas da eficiência: duros, mecânicos e
conectados. Buracos negros engolindo nossas mãos estendidas entretidas com as
coisas erradas. Nossa liberdade faz revoada de um pássaro multiplicado e nós
não vemos nada.
Um comentário:
Pura verdade!...."nossa liberdade faz revoada de um pássaro multiplicado e nós não vemos nada" Estamos cegos, mas tá na hora de tirarmos as vendas!
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