por Rafael Belo
Sou outro eu agora. Estou agora
aqui. Posso dizer meu nome sem me incomodar, sem disfarçar ou perguntar o
motivo. Erina Navi. Não há quem me afete além de mim mais. Este é meu terceiro
país em três semanas. Minha preocupação é aprender novas línguas em troca de
ensinar um pouco de tudo considerado meu aprendizado. Se você está lendo isso,
esta mensagem se autodestruíra ao fim. Há um leitor de retina aí mesmo na
câmera. Não copie para reprodução, por favor. Deixei quem eu fui para trás. Sou
uma nova mulher. Sem preocupações, sem marcas, sem rugas, com um passado morto
onde as lembranças são só lembranças.
Não tenho a intenção de ficar
mais de sete dias em lugar nenhum. Também não vou digitar mais nada depois de
hoje. Eventualmente, continuarei a escrever à mão. Sim, com lápis, papel e
caneta. Tenho um estoque ainda acessível, mas não codificado em nada conectado
ao mundo virtual. Já há um tempo eu vinha me desconectando das dependências fora
de mim. Já não utilizava redes sociais nem respondia nada no whatsapp. Foi graduado
e no fim me encontrei. Pelo menos um pouco mais. Minha alma queria conexões
capazes de realizar a realidade. Por isso, eu sempre ligava quando via
mensagens direcionadas a mim. Agora não existo onde vocês tanto vivem.
Não sei quantos anos serão
necessários para eu conhecer todos os países do mundo. São mais de 200, apesar
da lista de lá atrás, em 2017, registrar 193 e já com ausências. Estou aqui
para confirmar as possibilidades em ti de ser o mundo, de Deus ser você e você ser
Deus. Mas, precisamos nos dar conta da imagem diante dos espelhos. É necessário
descobrir as palavras do silêncio, os dizeres do corpo, os clamores da alma...
Onde aconteceu o seu desvio de si? Quando você parou de seguir o caminho feito
para você sorrir, ser leve, ser realizado...? Aqui na realidade, não na
imaginação. Sem as ilusões jogadas nos nossos olhos como óculos dentro da
retina, nem lentes se parecem tanto com nossos olhos.
Eu me desviei há dez anos. Quase enlouqueci
andando nos caminhos fora de mim, presa em versões minhas da infância
emburrada... Hoje estou aqui. Sou outro eu sem deixar de ser eu mesma. Sou, de
verdade, pela primeira vez consciente do me tornar. Ver tantas culturas diferentes
me acolhendo, vai encolhendo um ego moldado para riquezas materiais sem sentido
no abismo sem fundo onde ainda cavamos em nós. Esta busca sem fim de agradar,
de se destacar, de ganhar ou ganhar, de sofrer para se elevar, de trabalhar
para trabalhar, acabou. Escuto tantos silêncios antes calados ao meu redor. Tente
escutar também. Não me procure.
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