Por
Rafael Belo
As
noites são mais tortuosas para quem ainda está preso ao conceito de formarmos
pares por ter sido sempre assim. Crescemos sobre vales feitos dos acúmulos dos
erros de ficarmos sozinhos, da projeção dos sonhos das materiais riquezas, dos
planos alheios, na dualidade, de sermos os melhores, em tantas amarras, em
tantas prisões... Como estar inteiro se vivemos saindo de uma prisão por vez
sem saber quantas ainda nos prendem? A ignorância é uma dádiva do conhecimento
dado a quem nada sabe fazer com ele. Vivemos em uma insignificância tão branda
e a nomeamos de fase, de passageira mesmo sentindo sermos o oposto disto. Claro,
estamos cansados.
Já
cansamos de falar sobre sermos inteiros, sermos completos, mas a mentira de
sermos pedaços, partes, fragmentos, uma peça com o encaixe feito só para outra
pessoa nos faz sairmos em uma jornada inglória, a nos submetermos a situações
bizarras, a seguirmos sem situar nossa localização. Apesar de aprendermos assim,
não fomos feitos apenas para um tipo de ação, um tipo de posição, um tipo de
ideia, uma profissão, um amor, uma vida... Saímos de nós sem sequer saber
voltar. Não aprendemos isso e se quisermos voltar para sair intensos havemos de
enxergar quantas formas existem de se acomodar. Não precisamos atuar neste
roteiro raso e repetitivo. Quer sair?
Vejo
as baladas badalando nas cabeças no dia seguinte. São rolês para evitar a
solidão já causando surdez temporária e aquela seletiva de todo dia – não para
todos, alguns de nós só festejam realmente. Estamos acomodados nas palavras,
nas desculpas superfíciais e nas atitudes desconhecidas de viver intensamente. Sabemos
o significado de viver intensamente? Achamos ter conhecimento, mas sabemos
usá-lo? A sabedoria esta perdida em algumas pichações por aí e espalhadas nos
papéis colados nas paredes ignoradas das cidades onde há palcos e mais palcos
para nos entorpecermos, massagearmos o ego e fazermos o check-in para podermos nos conectar e avisar o mundo onde
festejamos.
Parece
uma conspiração para continuarmos acreditando ser isso não se acomodar, ser
isso intensidade... É isso mesmo ser intenso? Sair sempre, marcar as fotos com
as pessoas, com os lugares, este excesso de exposição é apenas mais um desvio
da importância de nós mesmos, do desabafo social... Há muita loucura envolvida
na razão e separar uma da outra pode ser ilusão, mas por qual se deixar levar?
Não tirar o próprio significado, nos afastar da possibilidade de conquistarmos
a sabedoria, de nos vivermos e assim incendiar cada dia pode nos tirar desta
vontade de ser somente um ponto de wi-fi.
Um comentário:
Muito bom! Perfeito!
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