quarta-feira, março 08, 2017

Não sei lidar (miniconto)




por Rafael Belo

Escandalizados estão os corações neste momento de orfandade. Foi-lhes dito: o amor morreu. Mas, confusos, cada coração o matou do seu jeito e deixou para a posteridade a dor atribuída a este diminutivo derivado de fragmentos. Só poderiam despedaçar em uma automutilação lenta e selvagem. Uma gritaria convulsiva postada em todas as redes sociais saturadas de exposição recebeu curtidas para constar: eu presto atenção!

Eu ali, um pouco em cada pedaço, fazia estardalhaço com pequenos dramas na lama das plateias íntimas. Há uma descrença, uma falta de fé dolorida, mas a comitiva ateia acredita no sofrimento, na pobreza de sentimento chamada na superfície da poeira de qualquer nome. Porém, toda a preferência é para chamar de Amor. Chamando assim também, o outro no próximo relacionamento em um desmembramento de desejos repetidos e continuados neste quebra- cabeças tumultuado.

Vendo-me a preço de banana… Não, me perdoe a descontração. Estou todo contraído aqui me vendo esquartejado no meu suicídio. Nesta projeção querendo velocidade nas expectativas rabiscadas no rascunho dos papéis amassados já no lixo. Como um bicho, mexo, remexo… Sou prolixo. Reaproveito restos de celas para formar novas prisões em outras versões disfarçadas de projetos de entrega, ali só para o esfrega-esfrega na minha cara fingindo não perceber o novo no velho não querendo morrer.


Conto as decepções as remoendo, me doendo de mim novamente, vítima dependente do vitimismo. Arranco um olho para ver se viro rei.Mas, ei! Que rei sou eu? Arrogante e egoísta, machista em um mundo de mulheres. Ainda sou mulher usando do outro gênero para me negar rainha. Vivo das migalhas do que fizeram do amor porque se tiver O Amor serei livre de verdade e com a liberdade de verdade, não sei lidar.

Nenhum comentário: