por
Rafael Belo
Há
dias Lela acordava faminta, mas não comia nada. Saia do esconderijo e se
imaginava comendo todos os seus desejos, todas aquelas opções e não fazia
escolha alguma. Iria morrer no dia seguinte. Enquanto isso, imaginava todos os
seus relacionamentos intimamente amorosos se enfileirarem diante dela para a
pressionarem a escolher de uma vez por todas. De formas tão distantes da
realidade a ponto de ser comparado ao ex-planeta Plutão. Mas, não havia a
mínima razão ali.
Toda
aquelas representações seriam alocadas por Freud e seria ceci n’ est pas une
pipe. O famoso isto não é um cachimbo de René Magritte. Isto não era uma vida,
era representação de uma parte ínfima, pequeníssima da possibilidade de
sobreviver. Lela estava longe sem nem sequer cogitar contar a alguém sobre o
próprio fim. Sentia-se pela primeira vez sobre controle sem estar realmente
porque agora precisava ficar descontrolada. Todo o controle era só imaginação
diante de escolhas parciais feitas por Lela.
Nunca
abriu mão de nada e colecionava somente as partes vazias dos copos meio cheios.
Olhava em desespero pela primeira vez para si e via, não se encontrava. Não
sabia onde estava. Havia tantas opções de quem era e ela, em espera, escolhia
incertezas. Saia de cada relacionamento antes de desandarem. Previa, seriam
como os anteriores. Então, quando sentia os sintomas espreitarem, não permitia
nem se aproximarem. Terminava para não sentir dor e sentia toda ela.
Olhava
pela janela tão pequena da própria cela diminuindo e não se responsabilizava.
Não se sentia responsável por nada. Agora vagava uma gota d’água no oceano…
Ainda assim não se importava e queria entender o motivo da desimportância.
Entendia, Lela, estar desconectada por opção. Na verdade tinha medo do
turbilhão de sentimentos juntar a gota isolada com todo o oceano acenando ela
porque era ela toda aquela imensidão. Com a compreensão buscou e encontrou
todas as lágrimas a desrrobotizando.
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