por
Rafael Belo
Lá
estava ela na mesma cela. Não tinha vitória nem escapatória. A cela era ela. É ela
foragida, escondida nas próprias folhagens... Presa em si mesma, flor
intermediária. Nem brota nem morre. Ainda assim é bela. Flor de Liz Maria não
resseca, mas é metade de si porque é completa sem saber. Soube ser corpo,
outras flores, outros corpos e matérias. Agora é aquela com outras flores em
si, outros brotos, mas todos ela. Estava toda empoderada, mas a sociedade
canalha veio machista e abusou dela. Liz fechou portas e janelas: não aguentava.
Desesperada pegou a arma, vestiu a mortalha quando a malha da escuridão enlutou
seu coração e nublou sua mente.
Ela
matou e matou e matou... Mais uma vez morreu! Sentiu a serpente drenar seu
sangue e injetar a peçonha direto nas veias. Estava fria. Estava morta. Logo ela,
na cela... Não era mais a mais nova juíza. A nova Dama de Ferro executora fora
executada por um bando de gralhas, abusando dela fora dos tribunais. As famílias
dos marginais, pais... Queriam olho por olho, ficaram cegos e no fim mataram a
alma de Liz... Ela nunca quis fazer nada além da Justiça. De realizada a vazia.
De exemplo de justiça a justiceira aprisionada, mas estava mesmo toda
acorrentada em um abismo.
Hipócritas,
consolavam com preciosismos, otimismos... Nada adiantava. Usaram da força
física para a fazerem se sentir um nada. Abusada, violentada de todas as
formas... Seus colegas de toga só chegavam até sua porta para atacá-la,
arrombavam toda aquela força, mas fisicamente não adiantava... Ela atrapalhava
os esquemas, cada novo estratagema era uma nova gema separada da clara. Um atrás
do outro, nenhum escândalo parava. Mas, apesar da vaidade, sua qualidade reinava,
imperava sua jornada paladina Deusa Thémis. O povo já idolatrava, colegas
corrompidos e políticos a odiavam. Ela estava limpando o Brasil. Liz não
imaginava como estava o fim do túnel.
Depois
de óbvias palavras clichês focando as emoções de marginais e ladrões, a
população se converteu. Quem antes abusava, roubava, agora era vítima e a deusa
virou diaba. Mesmo assim, ela se sentia imaculada e seguia com a própria
jornada, caminhava a estrada escolhida... Não esperava ser esfaqueada na
surdina, ter sua cabeça prometida e pendurada e toda a opinião sobre si
manipulada. Chegou a sua cela, apenas quando a ideia medieval de violação da
alma, invasão da psiquê rompeu quem era ela. Ela matou e matou e matou...
Depois morreu de novo. No fundo das suas folhagens ainda é possível ver a
imagem misturada de quem foi, mas ela nem se pergunta isso. Ele pensa maior,
não pensa só. Ela escreve por toda cela dela: quem somos nós?
Um comentário:
Muito bom! Somos pessoas que lutam pra sobreviver! E o tempo todo nosso tapete sendo puxado! Temos que reagir de verdade!
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