quarta-feira, abril 12, 2017

Sensação sem nome (miniconto)




por Rafael Belo

Aquela lua cheia encheu o mundo, mas foi ela, e somente ela, a maré. Aquela realmente estava mudada. Quando a lua cheia chegou no meio da noite, Luarara transbordava. Todo o vestígio de pirataria naufragara e o restante do mundo sucumbiu. Toda a falsificação pôde emergir e tomar conta. Mas, Luarara esta autêntica, segue única. Ela perdeu o orgulho e a vaidade. Não precisaria se preocupar com a inveja mais. Só ela havia tomado a pílula azul. Apenas Luarara se desgarrada e deixara a manada. Ela percebia o fim chegando em todos os sentidos e pensava se iria ao encontro, de encontro ou seguia junto.

Havia silêncio. A respiração parecia um vendaval, mas Luarara estava tranquila. Aqueles passos pareciam cavalos trotando e ela sempre considerou caminhar como um anjo... Ela ouviu ecos assustadores parecendo estrondos. Tratratratrá, tratratratrá, tratratratrá... Cada vez mais próximos. Estava escuro demais até apara definir contornos, apesar da lua cheia. Alguma coisa estava completamente errada e ela lembrava as histórias contadas sobre os exércitos invasores. Precediam silêncios antes da gritaria. Antes do cerco total uma sombra parecia cair como um manto acústico isolando cada som como uma perturbação psicológica enlouquecedora.

Por uns instantes, Luarara, se perdeu, tremeu e quis gritar. Um horror tremendo a bolinava, arranhava sua garganta, apertava seu peito, sentava nos seus pulmões, saltava nas suas costas e se jogava no estômago como se fosse uma legião foragida rejeitada no inferno. Parecia uma possessão demoníaca em hordas consecutivas. O medo estava travando uma batalha com ela e o som daquele exército invisível se aproxima, se aproximando, se aproximou... Luarara suspirou, respirou fundo, fechou os olhos e tudo parecia escuridão igual, total, ela tremeu incontrolavelmente e sentiu todo aquele peso ter uma negatividade, algo péssimo, querendo juntamente o descontrole, o desespero...


Ela desejava parar de tremer, mas dentro de si havia uma força maior irrompendo, clareando, expulsando aquela invasão. Aquelas presenças a tocando simultaneamente pareciam nunca ter existido. Luarara ergueu a cabeça e desentrelaçou as mãos. Não havia percebido esta posição de oração. Será? Ela havia orado pela primeira vez? Para quem? Para o que? Estava sozinha, mas esta solidão consciente iria afetar a todos, eventualmente. Ela não enxergava mais ninguém, mesmo quem estava diante dela. Também não sentia o toque da manada. Parecia um fantasma assombrando àqueles na escuridão ainda a enxergando... Ela sorriu em ironia e aquilo pareceu dissolver de vez esta sensação sem nome. Agora precisava encontrar outros, não queria ver mais só a si mesma.

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