sexta-feira, julho 21, 2017

Naturalmente (miniconto)





por Rafael Belo

Aparentemente ela não se movia. Mas era difícil perceber à distância. Fui me aproximando e agradeci pelo frio não a ter matado. Era para ela ter congelado. Envolta daquelas flores... Bem! Pensando bem... Não deveria ter nenhuma flor aberta, mas aquela ali no rosto dela... Estranho. Está brilhando, vibrando enquanto todas as outras fechadinhas... Não entendo.  Sempre me disseram para não sair: “O inverno mata”. Eu queria saber como e o motivo. Diziam sermos descendentes do inverno original e nossa frieza vir daí, da mesma maneira este jeito seco de tratar o outro... Quero saber o motivo e esta sobrevivente vai me contar.

Mal dei um passo e os olhos dela se abriram. Havia pouco branco neles. Era de um azul gelo de uma tonalidade indefinida como se houvesse um vento soprando para sempre naquele espaço cintilante. Ao invés de medo, senti uma familiaridade e uma conexão apertando meu coração instantaneamente. Todas as flores se abriram quando a olhei nos olhos. Ela me chamou de irmã, mas não disse nada. Ainda permitindo um aquecer na minha frieza, da mesma forma silenciosa disse seu nome: Nivis Cristal e me chamou de uma forma ainda nova para mim: Flori Petali.

Tudo, até então disperdiçado e disperso, se concentrou e valorizou a ponto de eu me sentir um campo florido com um aroma inebriante e incentivador. Muda, ela me explicou preferir não falar. Se o fizesse as temperaturas voltariam ao negativo como estavam enquanto ela dormia... Tentei juntar estes pensamentos na minha mente, mas pareciam pétalas em um vendaval. Fiz mais força e ela simplesmente balançou a cabeça reforçando não ter motivo para pressa desde que já havia um entendimento no coração. Haveria o tempo de entender totalmente, mas por enquanto precisávamos juntar toda A Família, afinal nos separaram pensando ser possível controlar alguma coisa.


Nivis explicou, então, o significado de todas aquelas folhas e flores estarem no chão há tanto tempo e todos os animais hibernando. Todos precisavam aprender a mais antiga lição: tudo tem seu tempo e é preciso passar por todas as estações. Mas, não só passar. É preciso viver, sentir, estar lá inteiro, pois, só dessa maneira é possível ir adiante e entender algumas coisas. Eu percebi nunca ter sido seca ou fria de verdade. O desconhecido é frio e seco até o conhecermos sem julgar. O inverno tinha tinah sua porção em tudo da natureza, naturalmente e juntas íamos contar a boa nova.

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