segunda-feira, julho 10, 2017

O vento na face



por Rafael Belo

Eu olho pelas janelas e não vejo prédios, casas, limitações... Não! Eu vejo possibilidades e imensidão. Não consigo ser periférico, ficar olhando enviesado, obliquamente, pelos cantos... Encaro. Olho nos olhos da vida. Vou ao centro. Estou no meio. Minha liberdade não me permite rodeios, ficar cercando enquanto os acontecimentos são centrais. Quero participar. Fazer parte. Modificar, evoluir, continuar... Abrir os braços e abraçar os riscos, abrir as gaiolas onde os cantos não alcançam seus limites e dão palpites ocasionais capazes de amarrar cordas invisíveis cerceando a si mesmo sem nem saber por quê.

Quem não sabe ter a liberdade acaba com as nuances da solidão cultivando uma variedade tão vasta de solidões para uma fazer companhia à outra e se alimentando deste plantio doente. No meio destas solidões contamina outros e espalha o sentimento de pertencimento do outro para quem já aprisiona sua liberdade. Neste ciclo de desconhecimento pensa ser possível perder o imperdível.  Não há como perder a liberdade. Ela é a essência de quem somos. O máximo permitido é uma hibernação neste inverno devastador criado por nós incapaz de semear sentimentos, pois há o medo da colheita. Mal sabemos ser a liberdade um estado de graça, uma força do espírito habitando a mente e o coração.

Se a liberdade é parte fundamental de quem somos realmente não a perdemos e, portanto, não nos perdemos. Acontece de nos afastarmos de quem somos. Tentar silenciar aquela voz clamando por mais quando só damos menos e até absolutamente nada, é tarefa inglória responsável por noites mal dormidas e pesadelos sem fim. Consequentemente quem vive nesta autoprivação acaba por desrespeitar o espaço do outro porque desconhece esta forma de viver. Em um mundo machista qualquer indício de liberdade é propositalmente confundido com libertinagem e distorcido para os demônios pessoais de cada um faça o trabalho sujo de nos arrastar de novo para nossos porões de tortura.


Torturamos assim o outro e a nós mesmos. Fazemos nossas ditaduras manipulando as situações para nosso benefício quase sempre em detrimento de um ser humano cheio de desejos, anseios e... Sobra ficar assombrando as pessoas e o nosso próprio espelho...! Não! Nada disso! Ouça seus gritos de socorro! Preste atenção ao chamamento! A liberdade é tão imensa chegando a ser capaz de libertar o outro. Liberdade é respeitar. Não é diminuir. Ela não recua nem diminui o passo. Ela vai diante do vento para sentir seu sopro e fechar os olhos para enxergar melhor ao invés de reclamar da temperatura. Ela dá as mãos para nós e amplia ainda mais esta desapropriação de tudo. Venha ser livre! Escute o ranger das portas se abrindo!

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