segunda-feira, julho 03, 2017

O incêndio em nós



por Rafael Belo

Há muitas formas de um autêntico romance acontecer. A principal delas, deliberadamente, é a química. Aqueles olhos faiscando, o coração palpitando freneticamente, a boca salivando, o tempo quase parando, as mãos suando e uma revoada de borboletas no estômago. Ficamos agitados na presença deste outro alguém sem saber bem a fala exata, a frase certa, tentando não errar de forma alguma e talvez deixando de lado quem somos para chamar a atenção, mas o principal é saber se somos correspondidos. Ah, não podemos esquecer o clássico sorriso bobo colado na boca como um smile involuntário revelando: Yes! Temos um crush.

Somos mais idiotas de não nos entregarmos a esta faísca para incendiar de vez a começarmos a rolar no chão e abafar aquela chama com um pedaço de pano qualquer. Como vivemos de passados, comparações e adivinhações já sabotamos um possível romance para evitarmos uma possível decepção. Nossa concepção está errada se não arriscamos, se não riscamos o fósforo para realmente pegar fogo. Não tem nada a ver com sermos piromaníacos ou cleptomaníacos de corações porque não roubamos maniacamente o coração de ninguém nem ateamos fogo para ver tudo incendiar... Fazemos isso com nós mesmos e só nós somos responsáveis pelo poder dado ao outro. Matamos o sentimento ainda nas veias antes de chegar ao coração.

Ah, sim! Somos assassinos das possibilidades. Esquecemos ser tudo emprestado nesta vida. Tornamos-nos sabotadores de romances. Vivemos de propriedades e apropriações, mas não temos nada. Então, qual o motivo de não deixarmos nascer este sentimento? Às vezes tentamos, o sentimento não nasce e precisamos deixar isto claro, mas isso também pode ser confuso ao se dizer, mas é preciso falar. Mesmo se o medo criado no nosso passado relativiza a igualdade de ações para todas as pessoas. Temos traumas concretos, mas não podemos permitir eles nos afundarem na areia movediça da solidão, da negação, da depressão, da autossabotagem, nestas nossas desculpas para não nos relacionarmos de verdade.

Vamos parar de nos sabotar e deixar rolar. Certo. É fácil falar, difícil fazer... Mas quais são as opções? Se der certo por um dia precisamos fazer valer à pena por este dia. Encher-nos de combustível inflamável e deixar alastrar a chama da paixão. Esta paixão pode ser consumida rapidamente, mas se alimentada vira algo mais. Este sentimento vira um romance e só permanece assim se diariamente acendermos este fogo e aumentá-lo sem dar chance para dúvidas e incertezas. A gente pode errar e erra, mas a vida é sempre um risco o qual precisamos viver. Correr até precisar de novo fôlego e ser sincero consigo mesmo.  Sejamos romances diariamente e vamos praticar a respiração boca a boca até reacender o incêndio que somos nós.

Nenhum comentário: