Ele
tocava com seu aspecto sujo, seu rasta, sua voz raspada e ao mesmo tempo limpa
ocupando todo o ônibus, mas seu rosto não tinha nenhum pelo. Um domingo destes
onde a nação roqueira ocupava o Autódromo de Interlagos e se hospedava na
região. Estava em pé na porta se equilibrando enquanto tocava o violão e cantava
um reggae gospel capaz de silenciar todos.
Um
ar leve dominado pela música dele. Todas as atenções, quando não estavam de
olhos nele, estavam naquela música do jovem. Outros violões estavam com seus
donos sentados pelo coletivo. Como eu, o olhavam com ar de satisfação e ao
mesmo tempo de “a qualquer momento me junto a ti”.
Com
ele uma mochila pequena e aparentemente com pouquíssimas coisas. As pessoas
tinham vergonha de interromper aquele show ininterrupto e tão paulistano para
um domingo de manhã. Afinado e intenso talvez não fosse o tema cantado tocando
as pessoas. Abraão, Jesus, os apóstolos... Velho e Novo Testamento celebrado na
voz de um hippie.
Mas
era a alma imposta(da) em cada tom, nas frases de coração, aliás de peito, de
cabeça... O tenor do ônibus, morador de qualquer lugar mudando a manhã de tanta
gente, empunhava música para todos. Não era porque estávamos em um domingo que
o coletivo não estava lotado e justamente por isso, ouvir, sentir aquilo era um alívio.
Quando
a música agradeceu e desceu, pouco antes do Parque Ibirapuera, a mensagem
parece ter ficado, pois as pessoas permaneciam caladas com os olhos brilhando e
um sorriso de esperança nos lábios.
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