Arrebentaram
as cordas do violão. Todas de uma vez cortando meus nove dedos de maneira
inusitada. Um chicote de aço deixando o violão vermelho, mas continuei cantando
ignorando a dor.... Não, ignorar não é a palavra. Eu, eu incorporei na minha
voz o sentimento necessário para a música. Eu era a dor. Desempregada, nas ruas
e dando minha vida para proteger meu único ganha pão.
Como
outros, mal conseguia dormir nas ruas. Precisava ficar atenta e nos albergues
eu não poderia criar, tocar, cantar... Era obrigada a ficar muda ou chamar
atenção desnecessária quando eu menos queria. Minha mente sempre me manteve com
poucas horas de sono e Insone sempre me chamaram. Dormir era bom para sonhar
com o que eu não conseguia pensar.
Mas,
agora sem as cordas como eu tocaria minha vida? Já estava em outro país sem
saber se meu “marido” tinha sobrevivido
após aquela, Aquela, AQUELA única vez...
Maldito! Como eu me deixei iludir? Eu justo eu tive que fugir... Por que eu
inventaria algo sobre alguém que eu amei?! AAAA... Não, Insone, respira, você jurou nunca deixar nada roubar sua
paciência e integridade novamente.
Sentei
na Praça da República, fechei os olhos, respirei fundo e deixei o ar sair com
tudo mais. Daria um jeito com certeza, sempre o dei... Comecei a cantar e
cantar e cantar... Não tive coragem de abrir os olhos por várias músicas,
confie em seja lá qual força a me proteger durante tanto tempo... Talvez tivessem
passado horas, mas uma canção surgia na minha alma. Abri os olhos sem lembrar
da falta de cordas e no meu violão cordas lindas e novas reluziam.
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