quarta-feira, novembro 04, 2015

Uma Nova Canção (miniconto)


Arrebentaram as cordas do violão. Todas de uma vez cortando meus nove dedos de maneira inusitada. Um chicote de aço deixando o violão vermelho, mas continuei cantando ignorando a dor.... Não, ignorar não é a palavra. Eu, eu incorporei na minha voz o sentimento necessário para a música. Eu era a dor. Desempregada, nas ruas e dando minha vida para proteger meu único ganha pão.

Como outros, mal conseguia dormir nas ruas. Precisava ficar atenta e nos albergues eu não poderia criar, tocar, cantar... Era obrigada a ficar muda ou chamar atenção desnecessária quando eu menos queria. Minha mente sempre me manteve com poucas horas de sono e Insone sempre me chamaram. Dormir era bom para sonhar com o que eu não conseguia pensar.

Mas, agora sem as cordas como eu tocaria minha vida? Já estava em outro país sem saber se meu “marido” tinha sobrevivido após aquela, Aquela, AQUELA única vez... Maldito! Como eu me deixei iludir? Eu justo eu tive que fugir... Por que eu inventaria algo sobre alguém que eu amei?! AAAA... Não, Insone, respira, você jurou nunca deixar nada roubar sua paciência e integridade novamente.

Sentei na Praça da República, fechei os olhos, respirei fundo e deixei o ar sair com tudo mais. Daria um jeito com certeza, sempre o dei... Comecei a cantar e cantar e cantar... Não tive coragem de abrir os olhos por várias músicas, confie em seja lá qual força a me proteger durante tanto tempo... Talvez tivessem passado horas, mas uma canção surgia na minha alma. Abri os olhos sem lembrar da falta de cordas e no meu violão cordas lindas e novas reluziam.

Comecei a compor uma nova canção.

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