Centenas
de pétalas estavam esparramadas no pátio. Vinham ondulando do terraço do prédio
mais alto da cidade. A maioria estava seca e enrugada. Estas tinham caído pela
ação do vento, envelheceram e morreram por falta de poda e água nas plantas de
onde nasceram. Também lhes faltava sombra, atenção... As demais José
despetalou.
Jovem
e arrogante, jamais achou ser possível levar um fora e fora exatamente isto que
aconteceu. Despetalava as flores como seu coração despedaçado. Olhava para
baixo murmurando malmequer, malmequer, malmequer... Como um mantra e apontava
para as pessoas pequenas e se sentia pequeno também.
O primeiro
amor, o primeiro coração partido e a juventude vinha com improváveis
pensamentos suicidas... Claro, Marcela não precisava humilhá-lo na frente de
todo mundo no intervalo da faculdade. Não foram necessários nem os gritos, nem
a exposição da intimidade, nem... Vergonha. Mal sabia da aposta entre as
universitárias sobre ele...
José
envelheceu toda a vida que teria pela frente naqueles instantes quando
auxiliava na morte das flores. Podia regá-las, mas o fim do mundo acontece de
hora em hora na adolescência estendida chegando até depois dos 30 e além disso era
a terceira idade, a velhice... Ele ficou um mal idoso, não de maldade, mas
ficar mais velho fez a gravidade ganhar de José.
Ele
ainda não aprendera nada, não escutara o ensinamento de ninguém, nem sequer
sentia o aroma das flores, preferia descartar, despetalar, ao invés de cuidar,
hidratar, reviver... Ele seria obrigado a aprender em pancadas ou a surra o mataria
naquele terraço mesmo, pois, às vezes, 70 anos é um instante.
Um comentário:
Legal...."preferia descartar,despetalar"....isso ai a vida é um sopro!
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