por
Rafael Belo
Mais uma vez estou aqui. Mas,
desta vez é pior. É carnaval. Não gosto nem devia estar aqui. Estou mais velha.
Não gosto de multidão. Aperto, aglomeração... Também não tenho coragem de dizer
o quanto penso em sexo e o quanto acho chata estas pessoas sem idade acima dos
18 até aquelas com mais de 40. Nossa! É um vazio nada atraente. Já não sinto
mais atração pela beleza padrão de um corpo, de um rosto... Estou recolhendo
minhas cinzas faz tempo. O pior é chamar Colombina. Obrigado pai, valeu mesmo
mãe. Ninguém sabe meu nome. Todos me chamam de Bina e eu nunca explico o
motivo nem origem.
Meus amigos de escola, de
faculdade já não estão mais próximos e não fazem questão de me envergonhar
quando nos encontramos. Só eles ouviam todo meu nome. Hoje estou com outros
amigos. Vim pelo erro da insistência. Olho para todas estas fantasias e duvido
serem só fantasias... Eu aqui sorrindo misteriosamente pareço um atrativo para
todos os gostos e só estou sorrindo para minhas descobertas de mim ou seriam
revelações? Só posso fazer divagações dos meus Pierros e Arlequins quantos
troquei, quantas vezes fui trocada... Ainda estou tentando estar no agora. Matar
este passado me matando aos poucos de hora em hora...
Se for ler minha história
colocarei em dúvida quantas realizações são realmente minhas, são reais... Dói
não me deixar sentir dor, não liberar a raiva, não soltar a mágoa presa neste
meu rosto pintado. Sou uma palhaça porque riem quando sou honesta e sincera. É minha
ligeira amargura das falsas inocências cavando buracos para si mesmas por aí. Preciso
desesperadamente de profundidade para manter o pouco de sanidade aqui, fugindo
da minha cabeça ainda insistindo em perguntar para onde vou agora, quando
preciso saber onde estou... Minhas perspectivas, minhas expectativas me sufocam
por aí e eu fingindo respirar bem.
Estou respirando com ajuda de
aparelhos. Muletas sociais substituindo minhas reais vontades, meus anseios
verdadeiros... Como meus pais eram os pais deles, sou órfã e como meus pais. Sou
minha mãe, sou meu pai... Não uma mistura dos dois. Eu sou meus pais. Sou os
dois. Mas, nego se disserem eu ter dito isso. Ainda assim, ainda assim... Ainda
assim preciso admitir eu ser a culpada de mim. Eu sou o remoer dos meus erros e
o exagero dos meus acertos, mas um espelho no qual não quero ver os reflexo
feitos por mim. Eu sou O Carnaval. Não! Eu estou um Carnaval. Não posso ser só
isto. Esta festa da carne feita para esquecer os pensamentos, os sentimentos,
os arrependimentos, liberar os desejos e se divertir. Vou adotar a diversão. Vou
dar um perdido fácil nestes meus amigos e depois vejo até onde vão a
brincadeiras e suposições. Agora vou. Sou Bina, a Colombina.
Um comentário:
"Vou adotar a diversão" muito bom!
Postar um comentário