quarta-feira, novembro 22, 2017

Meu estado é desconexão (miniconto)







por Rafael Belo

Estou aqui tentando buscar aquele sentimento, aquele momento, mas é como se de repente não existisse mais vento ou sequer a brisa. Quero meus pelos eriçados, meus cabelos bagunçados, minha pele arrepiada e um sorriso impossível de desfazer largado no rosto. Ao invés disso, estou me sentindo um cubo de gelo seco debaixo deste imerecido sol. Ou talvez eu mereça...! Nada é gratuito a não ser o puro Amor, a pura Amizade... Eu confundi conexões com obsessões minha vida toda e não posso dizer estar desconectada se sempre estive. Meu estado é desconexão.

Minhas emoções sempre foram instáveis e aqui amarrada, neste fim de tarde, não vejo o sol. O tempo mudou de repente para variar. As horas se arrastam, os mosquitos se alimentam de mim, zumbem dentro do meu ouvido, entram na minha boca, invadem os meus olhos, mas vão diminuindo conforme as nuvens de chuva se aproximam junto com o som do trovão fazendo cair folhas e tremer o chão. Ficou uma súbita escuridão e silêncio. Não entendo o silêncio. Não sei como proceder... Não sei como lidar. Nada aqui tem explicação.

Este flash do universo neste lugar esquecido, onde uma esquecida presa está no esquecimento ilumina tudo em um de repente e eu não sinto nada. Será possível tantos raios em sequência sobre o mesmo lugar? Claro, tudo isso é sobre mim. Sobre quem mais seria? Sou só em solidão por mais encontros, desencontros, leves ignoradas e vácuos pesados que eu tenha distribuído indiscriminadamente não me enquadro com ninguém, em nenhum cenário, mas detesto ter uma multidão em stand by... Estão esperando nem sequer sabem o quê.


Pressionada nestes vazios retrôs há uma catarse nesta chuva me encarando lá de cima. Eu estou amarrada em um lugar desconhecido sem dor, sem motivo... Bom, motivos sobram sempre mesmo não fazendo sentido e preciso sentir e mesmo assim eu não sinto. Morrer é assim? Nada de tipo isso ou eu ser tipo ou eu preferir tipos sou uma mulher cheia dos meus próprios princípios porque até de mim eu me esgoto. Esta chuva está caindo em mim com granizo ora atingindo como uma faca dilacerante meus ossos ora queimando como chuva ácida desta poluição. Serei eu forte por mais uma hora. Vou despertar ou me afogar, mas ninguém além de mim pode me encontrar.

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