segunda-feira, novembro 20, 2017

Nossa incapacidade





por Rafael Belo

Uma pessoa querida me falou de conexões e fiquei pensando ao que somos conectados se constantemente estamos desconectados de nós mesmos. O futuro não tem conexão o passado é uma prisão da mente e o agora... Bem, o Agora é apenas convocado como um deus pagão precisando de um sacrifício para acontecer. Talvez, nem mais sejamos conjugados porque falta o tempo certo para flexionar o verbo que deveríamos ser. Então, onde estamos? Não queremos ficar sozinhos de verdade, mas não queremos outra pessoa com medo de nos machucar e nesta contradição paralela do impossível nossa selfie revela um borrão ou um apagão distorcido no olhar.

É tão difícil assim se conectar? Vou detalhar para ninguém vir falar de dados e wi-fi. Falo de conexões físicas, emocionais e mentais. Não vejo mais muito disso, pelo contrário... E, aliás, a gente repara sim. Quando quer... Leio declarações hipócritas nas redes sociais e não julgo apesar do adjetivo, só fico pensando o que esta passando a pessoa, o que ela está pensando...? Aqui neste fluxo seria um luxo não associar o fim dos dados, a oscilação da conexão do wi-fi, a queda do sinal... Não vou fugir deste lugar comum de alegorias e analogias. Quando os dados acabam vamos em busca de um wi-fi free ou começamos a nos desesperar? Se o sinal oscila xingamos, nos irritamos ou esperamos? Se o sinal cai, qual nossa reação? É piegas, é clichê, é old school e tudo mais, mas eu sinto falta de tocar as pessoas, estar presente, olhar nos olhos...

É totalmente insuficiente teclar no whats, trocar fotos, vídeos, áudios e gifs. Eu quero mais. Arrepio-me um pouco ao pensar nas conexões físicas porque normalmente tem a ver com o corpo, a pele, o toque, os sentidos, a satisfação, o desejo... Resumimos-nos a isso? A sair nos rolês em busca de sentir novamente ou de uma nova maneira o sexo, o cheiro, o gosto? De encontrar alguém, ao invés de aproveitar quem está contigo? Isso é diversão? Contorço um pouco os lábios ao pensar nas conexões emocionais. Elas me são caras e raras. Esquentam meu coração, elevam minh’alma, abrem as janelas dos meus olhos... As quero livres, felizes com si mesmas e inspiradas. As pessoas, não as conexões...


Conexões mentais? Estas ficam em uma mão somente. São praticamente impossíveis. São naturais, profundas, diretas, admiráveis, raríssimas... Desbloqueiam sinapses esquecidas, fazem algo inexplicável com o tempo, me acalentam, me inspiram e criam em mim um fluxo de criatividade possivelmente incomparável. Enfim, até conseguimos no conectar imediatamente ou no decorrer do tempo a estas três conexões, no entanto, penso ser nosso maior problema nosso desconhecimento sobre o que nos conecta, a dependência do outro, a dependência daquele sentimento despertado com a presença do outro, o desenvolvimento de uma carência que enfiamos na nossa cabeça só ser suprida pela pessoa “escolhida”, “destinada”, o que, por fim, acaba nos levando ao verdadeiro obstáculo: a incapacidade de desconectar. Você já desconectou hoje?

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