terça-feira, março 30, 2010

Sonhador

8 e no meio das folhas secas brota a vida no outono... Tirei do lado da minha janela.

Por Rafael Belo

Às vezes meus sonhos se afastam da minha memória como um deja vu qualquer. Mas, mesmo assim eles me percorrem até saírem na interrupção da manhã. Não gosto de dormir apenas pelo descanso, procuro acordar e continuar sonhando aquele sonho de todo o blecaute dos olhos abertos. Olho para o teto, mas na verdade estou olhando para meu interior tentando não deixar escapar as minúcias psicológicas da minha imaginação inconsciente consistente.

Sou sonhador invicto, admito, pois em nem um instante parei de sonhar. Sou convicto de ter meu tempo para espalhar sonhos e como é bom entender cada detalhe lembrado da noite dormida para acordar sorrindo mesmo se for de um pesadelo, pois afinal sei de onde veio, para onde vai e onde está. Dizemos-nos muito quando nos lembramos dos sonhos. Claro, há aqueles não lembrados, mas como sonhador continuo a sonhar, pois o “esquecido” há de ser sonhado de novo, saibamos disso ou não.

Quando acaba a madrugada já no novo dia e a manhã incide pela janela ou simplesmente fica lá batendo nos chamando, ela revela nosso ser sonhador. Este esquecido em muitos. Este de esquecimento, de quem somos realmente por baixo do trabalho, por dentro das palavras, por trás dos olhos, lá no subconsciente latente na consciência a sonhar todos os dias, enquanto por algum motivo egoísta esquecemos termos sonhado todas as noites.

Acordado ou desperto somos sim sonhadores. Quantos sonhos deixamos para trás e depois não “sabemos” o “motivo” de estar faltando algo? Sonhar parece ser o objetivo da vida, pois um sonho real não destrói o lugar no qual vivemos nem nos destrói. Quem nunca ouviu aquela famosa frase iniciada assim: “Eu tive um sonho...” Ainda era preto e branco e uns achavam ser raça definição de coloração enquanto outros viam a união, não como um arco-íris, mas raios solares de um único provedor de vida – o sol. Meu sonho é partilhar e expressar minha ação no mundo. Sonhas tu?

quinta-feira, março 25, 2010

Encontro com Liberdade

8 e há tempos quero tirar fotos das folhas de outono. e há folhas livres da seiva prontas para nutrirem o solo e fecundarem o mundo... tirei no meu quintal hehehe pra variar



Por Rafael Belo

A melhor roupa foi solicitada. E lá estava Simplício dos Santos de regata branca gasta, shorts branco com rasgos, chinelos havaianas sem cores e aquele sorriso rasgado de quem teve um encontro com Felicidade. Mas, o encontro era com Liberdade. Sim usava as vestes da vontade. Àquela na qual se sentia livre e fazia todo sentido esta ser sua melhor roupa. Levantou antes do despertador e por isso mesmo nem havia o programado para despertar. Tomou um elo banho de bom dia e vestiu a segunda pele.

Primeiro Liberdade estava uma grife. Armani, Pierre Cardin, Prada... Exatamente nesta sequencia dos olhos para os pés. No entanto, chamava mais atenção o exalado Chanel N° 5. Inebriante, estimulante e... hummm... Afrodisíaco! Havia um sabor de excitação naquele aroma suave e paliativo de uma textura sobressalente e um visual crepuscular ao som de uma incalculável queda d’água. Ela era a ninfa grega abraçada pela delicadeza de uma túnica com seu ombro esquerdo a mostra, os pés nus apoiados pelo solo e uma aura convidativa carnal de esquecimento.

Foi livre de qualquer olhar a visão de Sim ao ver Liberdade. Aquela primeira imagem se desmanchou ao toque dos olhares e uma aura áurea cintilou nos contornos melindrosos dela. Um oceano em chamas transbordava de toda Liberdade. Sim sentia o mesmo em si. As horas ou corriam demais ou se embriagavam no embrear de um convite subentendido.

Era Tempo. Era Felicidade. Era Liberdade. Era Sim... Os chinelos se foram e Liberdade rasgava a bobagem das vestes sem tirar os olhos daqueles outros olhos despidos. As respirações se trocavam, as bocas se testavam, as peles se tocavam, os corações vibravam um tremor bobo na boca derramada em sorrisos suspirados e a carne era toda alma sublime das sensações absurdas fumegadas por dentro das brasas a beira de incendiar as marcas acorrentadas no âmago dos seres. Livre lá Liberdade.

terça-feira, março 23, 2010

A liberdade e eu

8 comer jabuticaba em casa é disputar com a natureza... Tudo bem desde que eu consiga registrar e comê-las. Tirei esta foto hoje (23), na liberdade de comer uma fruta do pé...

por Rafael Belo


A liberdade e eu é algo como o Brasil e as notícias. Somos tão sinceros que não escondemos os podres e tão carentes que só os mostramos. Não que eu tenha algo a esconder, mas minha liberdade é melindrosa e muitas vezes espaçosa. Não, eu não invado os limites alheios. Mas, meu fora de casa, meu distante do lar é parte do todo, todo em parte... É dividido. Estou exposto quando estou longe dos amigos e da família e esta exposição me preenche de novidade de olhares somados a volta à amizade e familiaridade.

Melindrosa porque julgar explodir sem interagir é cercear minha liberdade, não minha, pois possessivos não me combinam. Planos não me agradam. É como alguém contar todo o filme, destrinchar um livro,... No entanto são necessários no trabalho. Melindrosa sim, no sentido de mudança repentina de comportamento no relacionamento seja qual for a relação. Enfim, a liberdade e eu, eu e a liberdade somos como o menisco e o joelho o sono e os sonho. Não caminho, na escrevo, não existo se não compartilhar o mesmo espaço com a liberdade.

Não é fugir de casa morando sozinho, morar longe da família, fazer novos amigos, ter independência financeira, ninguém para dar satisfação... É uma estrada de possibilidades de escolhas a marcar a ferro e fogo, mas com chances de recomeçar mesmo se parecer impossível. Gosto de ser liberto das correntes da nossa realidade insólita e burocrática, mesmo quando aparenta ao contrário. Aprendi a não falar qualquer coisa mesmo quando há de se dizer, quem disse que sabedoria é julgamento? A liberdade me ensinou a olhar as pessoas com a mente aberta e vazia para a possibilidade de quem ela se transforma com a própria personalidade.

O eu e a liberdade é algo além de uma relação mútua. É uma relação diária com o mundo e cada mundo. Uma atitude e personalidade de poder sorrir e o fazer, de poder chorar e salgar o rosto mais ainda. Não é uma cartilha e sim uma determinação. Também pode ser simplesmente abrir a janela e olhar, esvaziar a mente e relaxar. Sair sem se sentir pressionado por tantas pressões livremente impostas sobre eu, sobre você, sobre a liberdade. Essa tal!

segunda-feira, março 22, 2010

caídas em folhas

8 meio desfocada na sua intensidade de ser folha, orvalho chuva e intensidade esta é a liberdade; tirei no meu quintal


Salto sobre o abismo branco de braços abertos para voar
acima das peculiaridades das correntes forjadas para solucionar
libertos inglórios da filial desconhecida bastarda de fechar os olhos e não olhar
o vento contornando o corpo leve no ar a quilômetros de parar de sonhar

além do arrebentar destes grilhões abertos presos no meu limitar
acentuado pelo objetivo de lado acompanhando o limiar do precipício
principado pelo principiante filho de primeira viagem do reino de artifícios
a estourar os fogos brilhantes longe da espiral silenciosa do centro de qualquer planalto

a usar salto alto enquanto me dispo de qualquer preceito e revelo a nudez sincera,
da obliqua sinceridade das partículas caídas em folhas secas a flutuar sem espera.


às 18h59, Folha de Outono ( Rafael Belo), 14 de março de 2010.

sexta-feira, março 19, 2010

caso ocaso o acaso casar

 8 admirei-as até registrá-las e dividí-las do quintal de casa

Casa a casa com os moradores casando um lar
de quantos casamentos vivemos atores, tentando continuar?
troca-se alianças no emprego até o emprego passar
mas era de mentirinha, criança só deve brincar
passa o anel de mão em mão até o anel acabar
agora passa-se sua extensão sem sair do lugar

na brincadeirinha da vida uma hora um se torna dois
na bainha da hora da demora do tempo casado com a circunstância
não passar de clima e chover trovoadas depois de nublar
o claro dia contrariado com o casório da noite com o planeta

é claro, o dia Ama a noite separada dele pelo casamento das horas com o relógio passado
a moradores do momento lembrando seu lar casado com a memória genealógica...Da Árvore da Vida.

às 22h50, 15 de março de 2010, rafael belo (folha de outono).

quarta-feira, março 17, 2010

Casados pela solidão

*antes de esvaziar o vaso para vazar com a possibiliade de dengue, é sempre bom registrar... E tirei a foto

por Rafael Belo

Na verdade ele não queria ficar sozinho. Não, nunca esteve fisicamente só. Mas sua vida de galante colecionador de... Relações... O mantinha solitário. Praticamente uma compulsão sexual impossível onde apenas seu “órgão espérmico” se sentia confortavelmente seguro, acomodado e praticante de atividade física constante... Resolveu casar como quem resolve continuar dormindo em um domingo de manhã chuvoso. Deixou no ar como queria sua vida e esposa. Alguma solitária respirou profundamente na sua feitura para o casório e apenas para ele. É ainda existem criações assim nos anos 2000.

Pouco tempo se passara desde o encontro dos dois. Hélios das Alamedas e Iris dos Cantos eram um casal comum de efeito celebridade: Gostou, provou, casou...Casaram em uma quarta-feira e pareciam... Bem. Trocavam ligações diariamente supriam suas solidões. No entanto eram completos desconhecidos vivendo em uma casa alugada longe dos comentários dos amigos e familiares presentes no fast married. Porque pelo menos deu tempo de chamar família e os da amizade próxima.

Foi assim, até a casa um dia se encontrar vazia. Iris se irritara com as novas atividades caseiras e com a faculdade iniciada para ser algo além de... Bom, já Hélios fingia até suas relações sexuais. Ela havia tentado uma vez não voltar logo no primeiro mês, mas a coragem virou uma ligação e lágrimas não compreendidas pelo marido. Ele se consumia com suas escolhas bobas, apressadas e imaturas. Mas Hélios lá sabia que cada idade tem sua maturidade?!

Decisões tomadas como uma noite de ressaca pra tequila. Para solidão acabar. Mas, na real ela parecia maior. Na verdade eles não queriam ficar sozinhos, mas nunca viram propósito na união deles. Sabe? O Amor. Havia o sexo e o silêncio. Ah, sim! E a solidão. Nenhum nunca fora de conversar e nem sempre a simples presença basta. A não ser se amassem um ao outro. Não aprenderam também... Abandonaram a união, aparentemente seus nomes e as pessoas ainda os acham naquela vida abandonada.

segunda-feira, março 15, 2010

Reencontros de quem não se desencontra

8 Tirei esta hoje enquanto parava a chuva de uma manhã. É o tema em si, pois muita água doce forma um rio, mas como temos nossos temperos... Formamos um oceano.

por Rafael Belo

Casamentos! Uma boa pedida para encontrar, ou melhor, reencontrar aqueles dos quais não nos desencontramos. Explico. Estes são família e amigos com os quais mantemos contatos, porém nem sempre, dificilmente ah... Quase nunca nos encontramos para abraços apertados, lembranças públicas e conversas olho no olho. E concordando com as pesquisas e contrariando a maiorias dos pensamentos... Como tem gente se casando! Não encontrei dados do ano passado, mas de 2007 para 2008 houve um aumento de 4,5% se aproximando de 1 milhão de uniões civis.

No trocar das alianças isso “não vem ao caso”. O fato é a confraternização da família, amigos e novas amizades. Tios, tias, primos, primas, irmãos, irmãs e quem ainda se encontrar por entre a gente - mesmo os faltosos são lembrados. Falando em lembranças... Como escapar da partilha daquelas recordações com risadas das estripulias infantis e adolescentes? Impossível. O jeito é gargalhar e ter uma boa memória de contrapartida.

Um casamento de segunda. Não é trocadilho maldoso. Foi em plena segunda-feira início de mês e querem saber... Foi incrível. Porque até os “incasaveis” casam. Eu sou bem família também sabem, mas andava no time dos faltosos e o motivo é simples: não os visitava e pouco falava com meus primos e primas. Até dois anos... Bem, três... Eu ia à casa de todos praticamente. Boa parte da infância nos encontramos e eu dormia na casa deles e a gente dormia na casa do nosso avó. Até não ser mais assim. E lá estávamos no casamento de um de nós. Nervosismo e felicidade.

Enquanto não começava ou seria: enquanto a noiva não chegava e meu primo sorria congelado de nervoso, eu reconheci um rosto sem reconhecer já sentado na mesma das minhas primas trocando upgrades de dois anos. Me virei para um movimento à minha esquerda. Nos olhamos e ela já me sabia, mas eu desconhecia a saber até ela passar, sentar ao lado e “toim” meu sorriso se ampliou. Ela e a filha clone. Sim porque a personalidade era idêntica da qual eu me lembrava na nossa adolescência e a maioria dos traços menos os olhos azuis. Sentei perto dos meus pais em seguida para esperar a troca de alianças. Foram trocadas. Emoção inevitável ou quase...

Fomos para o salão, voltei para resgatá-la(s) e sentamos todos na mesma mesa a apresentando. Conversamos o resto do casamento e dá-lhe lembranças. Só não disse ainda da minha felicidade ao vê-la há 14 anos chegar à minha festa de despedida... No fim da noite – simplesmente porque terça a gente trabalha né!? - são mais boas lembranças e o fortalecimento de laços não necessariamente estremecidos ou esquecidos. E viva a união dos casais verdadeiros de uma instituição sacramentada imune da falência anunciada.

sábado, março 13, 2010

Um gole de absinto

8 este era os fundos do meu antigo emprego devedor, havia de se caminhar entre uma pauta e outra e claro tirar fotos como esta.

Guinados a trajetória de um roteiro coletivo há o grito do indivíduo
dividido entre sonhos e capitais guinchados da parada proibida
na garagem de um emprego qualquer espelhado do mal-me-quer
da manada silenciosa da multidão clicada na palavra embriagada de estabilidade,

instável mental do tremor das mãos calejadas de incoerências linchadas
pela insônia sonâmbula de um futuro melhor marcado pelo suor sangrado
do correr da veias diárias nas vias sedentárias entupidas de veículos a mais
engarrafados na bebida mágica social dos bares da vida inchados de palavras vagas
e silêncios ocupados gripados da virose dos relacionamentos de oi e tchau,

alterados pela sobriedade mórbida de conviver com a dor, até precisar deixá-la por um gole de raciocínio.

Às 14h36, rafael belo (folha de outono), 02 de março de 2010.

quinta-feira, março 11, 2010

Eterno novo

*esta tirei de bobeira pela luz e pela textura e pelo ócio do tempo
Sol brilhe intenso sobre os tensos rostos da manhã
de raiados poetas adormecidos entorpecidos pela vida
reconhecidos na manha sã pretensa de se descobrirem
na janela aberta admirada de ti a invadir um sorriso

versado na rima de diluir a pele transpassada de motivo
para ser arrepio preciso de deleite na beleza de enxergar
em sentidos os corações guardados da alma do mundo a fluir
nos nossos nós fluentes parentes da redenção latente a revelar

entre os crepúsculos da alvorada e do ocaso nosso caso exposto ao dia
nosso fato exposto à noite em nosso sonho de se rebelar a arrebentação do novo eterno de se entregar.


09h30, rafael belo (folha de outono) 02 de março de 2010.

terça-feira, março 09, 2010

De tão igual

*nada mais comum e diferente: "All stars" ainda mais sob a luz do entardecer... (tirei faz tempo e há tempos quero utilizá-la...)

E toca o vento o silêncio de estar presente ao volante sem precisar acelerar
moda estranha de querer chegar antes na competição psicológica do tempo
entre o templo sagrado de ser com intenso sentido da lógica de existir agora

na glória de sentir o fluxo do movimento em troca da parada dos ponteiros
de pensar no próximo minuto e esquecer ao qual se passa, na velocidade
máxima da queda da lágrima da gratidão de haver tempo para olhar ao redor

a maior contemplação de ver o mundo girando anti-horário lento a se alcançar
o Amor te Amar de graça na doação das graças concebidas ao se tocar frescor
na brisa da vida vinda vaga para nosso lugar entregar no olhar do coração sobressalente
crente em poder aprender a ver o mesmo Amando em cada gente diferente de tão... igual.

1º de março de 2010, às 15h28, Rafael Belo (Folha de Outono).

domingo, março 07, 2010

Perda e ganho

 *esta flor me conquistou pelo contexto lá nos fundos do serviço também, boas fotos por lá.

Miríades de picadas vieram das caudas dos escorpiões
como mergulho amargo nos mar de águas-vivas das ferroadas fatais
mais mortais a qualquer fatalidade no mundo, a dor do fundo de perder
o nunca encontrado atado aos espasmos das lágrimas afogadas afogando
chuvas salgadas na expressão do corpo em sete vidas aprofundadas em laços

enlaçados nos aracnídeos na extensão de seu veneno mantendo a couraça no cais
da tentativa em massa de Amar além da palavra na proximidade do verbo
conjugado em infinitesimais vozes mudas no olhar terno sem a cegueira
de não chorar, quando o coração ameaçar rasgar por anjos caídos
e não passar por papel picado na poeira será o achado pranto
para a criação de asas e o voar.

Rafael Belo (Folha de Outono), às 22h21 de 27 de fevereiro de 2010.

sexta-feira, março 05, 2010

Casa dos Escorpiões – um Roxo a mais

* esta foto tirei de bobeira nos fundos do serviço, afinal subir no telhado por estes degraus é querer ficar lá em cima.
Por Rafael Belo

Bávaro Baas não parecia sequer respirar. Remexia os olhos lentamente para não fazer qualquer barulho, tentava não suar. Seus olhos foram se acostumando com a escuridão e as nuances dos Roxos começavam a ganhar formas para ele. Era o dilema fatal. Seria Baas passivo da vida ou ativo da morte? Esta parecia ser a neblina a começar a se diluir neste momento. Como se fosse o fim, não importava se da vida da forma conhecida ou de uma angustia carregada... Era esse o peso do ar.

A Casa dos Escorpiões estava gélida feita uma caverna Antártida em processo de derretimento. Havia uma gotejar constante e parecia haver estalactites e estalagmites por toda parte. Baas estava incerto se tremia pelo frio, pelo medo ou pelas possibilidades. O som de laminas afiadas sendo afiadas o estava enlouquecendo e ele se lembrava do motivo de seu ser biólogo: a Sanguinária. Sua tese PhD. Pela sua teoria da inexistência do isolamento e pela ferocidade aflorada do pseudoisolamento acabou se deparando com os escorpiões.

Para ele havia sempre conexões impedindo o total isolamento, o completo rodear de águas salinas. Subitamente ele sentiu sua mente formar frases e direcionamentos rústicos como desenhar na areia. Direcionou os olhos calmamente para um palmo diante dos pés e lá estava um tremendo aracnídeo roxo balançando o ferrão na altura de seu pescoço ainda avançando com suas pinças para seus tornozelos. “Não resista. Não resista e tudo ficará bem!” eram palavras formadas nas areias da mente e dentro dos olhos. Ele cedeu.

Sua sina seguia passo a passo em revelação em um cinema particular dentro de sua cabeça. Parecia haver curiosidade em cada Roxo presente. Eles o circundavam o tocando gelados. Eram espirais bailarinas andando de grau em grau em frente. Seu medo dispersou e ficou tão maravilhado a perceber seus tensos músculos sorrirem por todos os poros. Não sabia se viveria, mas poderia morrer feliz. O mesmo Roxo a o conduzir revelava um caminho de justiça e predestinação. Esta era a parte da história desconhecida por todos... Até por Bávaro. Na parte interna da buchecha esquerda havia uma mancha roxa vista por ele pelos olhos do líder escorpião.

Bávaro Baas. Descendente do único humano a ver tanto Sanguinária quanto a Casa dos Escorpiões, agora a custo de sua vida dividiria a alma com os Roxos e guiá-los-ia rumo aos males para sempre tortos exalados pelos humanos. Não teria limite de existência, mas tão pouco existência teria.

Seu dever era o anonimato da Casa e o fim do apocalipse da crise da falta de escrúpulos e de consciência abalando a Terra. Roubaria a vida de ladrões. Mataria assassinos. Dilaceraria estupradores. Aniquilaria covardias. Bávaro Baas Roxo se encontrava agora com todos os ferrões deslizando cortes suaves na garganta, cada lâmina pincelada no corpo e uma tatuagem em veneno dilatava como uma couraça em sua pele. Era um Escorpião Roxo pela eternidade a lhe restar.

quarta-feira, março 03, 2010

Casa dos Escorpiões

* esta foto foi alterada para não ser identificada a casa da qual tirei foto e pertencente aos escorpiões (rs). Este abaixo da foto erapara ser miniconto, no entanto não sei ainda quando acaba mas vamos em frente ...
Por Rafael Belo

Olhos atentos e faiscantes vasculham o local cheirando a óleo rançoso se movimentando no ar. As mãos baixas na altura da cintura prontas para uma eventual proteção. O coração tamborilando na espreita de algo estar fazendo o mesmo. Milhares de olhos o medem em arrepios desencorajadores. Como bom biólogo, Bávaro Baas acabou nesta situação encurralado na Casa dos Escorpiões. Trêmulo a cada cadência de pinças atiçando seus ouvidos, sua tensão aumentava.

Pareciam recortes afiados de lâminas o perseguindo. Ameaçadores na escuridão aqueles seres aracnídeos amarelos alaranjados estavam sendo invadidos por uma pessoa “comum”, pensava Bávaro. Contudo toda história com escorpiões começa com uma maldição e sempre há um porém e Bávaro era o próprio. Na casa destes gladiadores de oito patas não havia um com as cores esperadas e transformadas em lendas urbanas na cidade de Caosina, em algum ponto onde em épocas distantes a Amazônia e o Pantanal se encontravam.

Nada podia ser mais úmido. Habitat ideal para o Roxium Intelectus Aracnidium. Sim... Eles são roxos, marrons e o mais inusitado neste espécime é a inteligência. Eles podem julgar uma pessoa boa ou ruim por meio de uma secreção escorrida com o suor e só então se defendem. Como os demais da espécie se alimentam de baratas, insetos, mas eles também gostam de ratos e morcegos. Medem pouco mais de uma palma e gostam de viver em grandes grupos isolados.

Bem, a história de Baas avança alguns milênios da criação desta espécie desconhecida. Uma tempestade de granizo devastadora havia destruído aquela habitação de onde jamais haviam saído os escorpiões roxos e em busca de nova morada entraram em uma mansão ilegal na beira de um rio imenso. No local, contrabandistas enraiveciam onças pintadas para elas devorarem gados e seus respectivos donos. Assim, afugentados os proprietários e com acesso livre às fazendas, utilizavam os lugares como cativeiros. Não se perguntaram sobre as consequencias de alterar e tentar controlar a natureza. Terminaram devorados eles.

As onças soltas passaram a caçar todos na região até a remota isolação total do local. Começaram a se alimentar umas das outras e por fim sobrou uma. Conhecida pelos sobreviventes locais como Sanguinária. Ela deixava inconsciente o abate e o arrastava para a Mansão Sem Vida. Os escorpiões chegaram à mansão e se depararam com o animal além de selvagem, com uma pessoa presa nas mandíbulas. Decidiram salvar aquela vida desprovida de medo e de pecados contra os seus. Em um grupo de centenas atacaram e despedaçaram Sanguinária. A partir deste momento o sangue alterou os hábitos dos roxos e a lenda urbana começou. (Continua na sexta e ...)

terça-feira, março 02, 2010

Aracnídeos “picantes”

Por Rafael Belo *o santo coqueiro do meu quintal - tirei há alguns dias.
Nesta época de chuvas torrenciais de verão e calor estalante - de tão escaldante, traz além do abafamento e mormaço ao qual nunca nos acostumamos (bem, a não ser cuiabanos e varzeagrandenses nativos ou por adoção) os “queridos” animaizinhos peçonhentos. Você dá falta das baratas assombrando sua casa em companhia dos ratos de forro e morcegos? Nãoo! Mas como não?! “Eles” sempre parecem familiares ladrões das madrugadas pulando no telhado, derrubando as coisas e as “baratinhas” sombras correndo pelo chão... De qualquer forma, de repente, eles não estão mais lá. Só nos damos conta quando aparece um arremedo de escorpião. Um filhotinho nada gracioso, a não ser para biólogos e amantes aracnídeos.

Então, ao tomar banho você acha um maiorzinho mais agressivo preso na banheira por pura incapacidade de escalar a superfície lisa, já que os banhos por lá são constantes. Há aquele anúncio de repetição vem uma pessoa da casa, vem outra e claro, na voz das mulheres, “mata!” “mata logo!” “Credo, este bicho é perigoso!” “Coloca fogo!” Olha só os requintes de crueldade feminina (brincadeira?). Quando se dá conta estão todos rodeados na varanda escura dos fundos jogando álcool na criatura “malévola”... Bem... Em vão! Nada queima mesmo fósforos após fósforos riscados.

Se pega as folhas secas mais próximas e nova tentativa e falha. Bem e agora?! Não importa o quanto ele foi esmagado pela pazinha de lixo pelo patriarca da casa fazendo barulho de pinças se debatendo e jogando a cauda venenosa e certeira até depois da morte, enfim tem que queimar, pois “o veneno ainda está lá?! “Pega o jornal lá” e você sai em mente com os últimos classificados do jornal de maior veiculação local. Fogo e nada de queimar o “tinhoso”. Enrola o aracnídeo mortinho da silva no pedaço mais longe da sua mão do jornal e o leva à churrasqueira mais próxima, assim bem ao lado. Lá dentro você dá início ao incêndio em diversas pontas do jornal e fica assistindo e sufocando até que finalmente... Finalmente... FINALMENTE... O escorpião é cremado e ficamos ali contemplando...!

Dias depois uma nova dupla aparece em rixa perto do vaso do banheiro maior. Consequentemente a paranóia justificável está instalada. Pânico. Como dedetizar os picantes escorpiões peçonhentos amarelos e alaranjados? Não há como?! Sim claro!?! Como assim??!! Só com armadilhas. Pelo menos não há mais ratos e baratas... Mas, enquanto isso evitemos levar uma picada tapando ralos e cada ligação com tubos e encanamentos, afastando camas e outros móveis das paredes, vasculhemos calçados, roupas e demais acessórios antes de tocá-los permanentemente e acabar surpresos com uma picada demaispordolorida durante as próximas 12h ou 24h.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

harmônicas cadenciais

minha capela sussurrava vogais
estendidas no meu templo fechado
de cantos seguros de fluência rítmica elétrica de um eu cadenciado,
em melodias incorporadas de vozes corpóreas afinadas de alma,
na harmonia incompleta encorpada de peles arrepiadas em sintonia.

elevação respirada em suspiros musicais sensoriais de senso som,
profundo toque auditivo percorrido no corpo em baterias espásmicas
da leveza da canção da multidão do fluxo sanguíneo em nirvana zen.

além das sensações de apego desafinadas, há afinação, mesmo momentânea
da liberação de ruídos promocionais bagunçados de repetições refrônicas,
desajustadas de filarmônicas improvisadas tocando o sentimento perdido na última esquina.

20 de fevereiro de 2010, folha de outono (rafael belo), às 15h11. *e é foto meio reveladora meio escondida que tirei sem questionar a queda da harmonia ontem.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Nosso local na cidade

Não chove aonde vou. Chove na cidade, mas nem uma gota me molha onde estou,
vagando em mim vago de um Amor concreto repleto do abstrato Amor, não gasto
de gosto colorido de um toque refinado de intensidade envolta a delicadeza sinuosa
de querer se molhar. É dolorido andar aonde a chuva não vai caminhando ao avesso,
perdido no tropeço estabacante de quicar no chão seco, do deserto da poeira alérgica
ao pó estético da desolação onde secam as lágrimas presas pela grades do orgulho,
entulho da liberdade publicitária de comprar ilusões superficiais dos consumos consumidos pelo caminhos atropelados da gente a querer mudar as mudanças empilhadas no upgrade da imaginação totalitária da enchente, escaldada de encher indigentes feito eu e você, vazando ares heróicos de mobílias preservadas no nosso local na cidade.

18 de fevereiro de 2010, Folha de Outono (Rafael Belo), 17h34. * foto que tirei da proximidade daquela planta definhando ilustrando o miniconto do último post.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Paradoxos mentais

*foto tirada enquanto esperava para trabalhar na última quinta
Por Rafael Belo

Devaneios com os pés no chão... Não! Não é um paradoxo passível da minha realidade de uma mente além. Não posso usar este paradoxo! Seria uma quebra dos meus paradigmas quebrantáveis. Posso voar sem asas, enxergar através da neblina e até por meio dela, mas preciso delirar minhas razões de ser com pés impossíveis de copiar em qualquer realidade física-virtual morta de overdose de desinformação pelas limitações impostas a artes sem limites.

Arterium Intensus... Meu nome registrado na pele em marcas de nascença. Composto e único de complexidade...! Não é assim o ser humano?! Por que negar tal dádiva da digital da alma?! Não! Leave me alone... For now... No momento quero me sentir sozinho. Há algum problema nisso?! Minhas multidões podem me encarar como querem. Se querem ser homônimos parônimos heterônimos anônimos... Serão. São implanejáveis. Vêem em linhas tênues incontroláveis paridas em qualquer hora e lugar sem preocupação com impacto ou regras literárias.

Jorro meus eus por aqui, por aí em toda parte no mesmo momento numa sensação onipresente de estar na mente de outros diferentes dos meus eus. Qual a importância do meu nascimento se não minha liberdade e o meu fazer dela. Sou paradoxo de mim, paradoxo do reflexo, paradoxo da reflexão do espelho... Enjôos do meu refluxo mundano saem em incômodos vômitos mareantes de ordens orais, manuais, mentais do meu caos.

Sou meu incomodo sendo você por dentro manifestado em berros de liberdade de sinceridade de máscaras depostas do devaneio da humanidade caminhando com as mãos, para mantê-las limpas. Minha mente paradoxal cabe na sua intensa artéria latejante pronta para uma AVC inexistente já pelo nosso olhar freudiano de Sófocles da realidade conforme nossos olhos insanos sanados da criação familiar. Deixo este lugar para viver no meu hospício banido onde só caminho com meu coração liderado pela alma consultora da mente imaginária. Vou para sempre, volto em seguida, logo.

sábado, fevereiro 20, 2010

Incômodo profundo (um surto necessário)

Por Rafael Belo * a foto de quinta(feira), tirei logo nas útlimas gotas de chuva.

Ando enjoado com refluxo do mundo, regurgitando controles a virem sobre mim em ordens mareantes. São ondas virtuais, sociais e toda a tempestade do mar invadindo a distância de léguas e léguas do litoral. Não me sinto parte e já ouvi tantas vezes minha futura descoberta de eu ser alienígena. Mas, não somos todos invasores?! Invadimos privacidades, espaços e vivemos tentando controlar algum mundo, começando do nosso. Não há controle de nada o tempo todo (se houver em algum tempo...). É impossível controlar as coisas, somos tão ilusórios iludidos.

Somos uma irritação provisória na alergia do mundo. Quanto pessimismo, não?! É a necessidade de mudar, de sair de um círculo infrutífero, mas penso nos dizeres direcionados "a mim" ontem, como fonte deste meu incômodo notório. Foi um elogio, um bom elogio. “Artista completo” foi um dos compostos de qualidade atribuída (o qual agradeço imensamente). Não me sinto completo e não me sentirei porque não quero ser. Sou incompleto e provável eterno insatisfeito com a atitude das pessoas e a minha.

Não há satisfação em rotina. Simplesmente acordar e fazer o mesmo do dia anterior me desloca de mim profundamente. Somos mais. Podemos fazer aquilo pelo qual trabalhamos e nos dedicamos. Sinto-me no Bee Movie, como o protagonista Barry B. Benson (com características e Voz de Jerry Seinfeld) percebendo não ter nascido para repetir, repetir e repetir a mesma função o resto da vida. O RESTO DA VIDA!? Nãoooooo!!

Ele sai da colméia e descobre os humanos os roubando, levando todo o mel deles para casa sem nenhuma participação das abelhas. Lá pelo desfecho do filme ele se depara com o possível fim de tudo caso as abelhas não voltem a polinizar o mundo... Estamos polinizando pelo menos nossos jardins? Não Incomoda não agir não falar normalizar tal verdadeira loucura noticiada banalmente na televisão...? Não incomoda (assim como a proibição de surtar vez ou outra?)?

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

patifes

* tirei do equilíbrio das gotas da chuva a se juntarem e formarem poças em algum momento para cairem em outro
Balança meu chão parado, improvisado de meus pés
de um equilíbrio qualquer, a nos crescer e nos matar sem querer
em dias bem quistos no mal-me-quer, enjoado dos tremores inexistentes
das ações inconsequentes de afundar, corpos programados para continuar

sem sentidos, anestesiados pelo circo itinerante da mente dopada
apagada dos sensores de reação, definhando um silêncio tagarela
no labirinto perdido do pensamento, com as mãos na nuca, aclara
escurecida pelo sentimento de nunca saber diferenciar os limites

entre cair e levantar, em meio a tempestade sem fim a despencar
patifes intenções de superar o insalubre cume movimentado de impassíveis.

20h09, Rafael Belo (Folha de Outono), 07 de fevereiro de 2010.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Fascínio

*olhando pela janela real de casa, logo atrás do mundo virtual
Um sopro engarrafado do aberto invadiu o espaço fechado
em um trânsito discreto de almas para fora do lugar dramático
de corpos erráticos bruxuleantes fortalecidos pela ausente janela abstrata
marcada pela respiração sensata daqueles a deixarem os corpos sem vagar

tudo deslocado para o estranho lado do movimento de devagar divagações
dilaceradas, diluídas nos caminhos com mais corações, menos mentes
adstringentes em toda aquela insolução diante das faces espontâneas,
das soluções momentâneas constantes a esvaziar garrafas areadas,

dos ares soprados nas bocas e ouvidos das oficinas falidas do diabo,
mantidas longe da verdadeira falência do diálogo, mantendo distante uma mente faiscante domadora do fascínio de ser, mais que reticências.

20h55, 06 de fevereiro 2010, Folha de Outono (Rafael Belo).

domingo, fevereiro 14, 2010

Colisões aparentes

Por Rafael Belo
* Foto tirada do lugar onde mais gosto de passar: na estrada em viagem
Sabe quando tudo parece normal, mas é só aparência. Dentro de si há alertas e mais alertas. E é com razão. Estou vagando desde os primeiros raios solares e não ouvi um barulho, não vi uma pessoa e ainda nem lembro como vim parar aqui. Uma cidade qualquer como as outras, no entanto tão desolada como o deserto ao meio-dia. Opa... É meio dia! Por que não cheira comida? Onde estão os carros superengarrafados? Os gritos?

Tem algo errado... E como eu sei disso?! Enlouquece não falar com ninguém, mas não ver viva alma uuuu é assustador. Não são possíveis as histórias de zumbis e de vampiros, certo? Nenhuma vida à vista, porém as coisas e lugares não estão abandonados. Humm, sem teias de aranha sem lixo sem entulhos... Quem está aí? Ouço vocês conversarem! Apareçam já!! Meu coração vai sair correndo assim. Espere...! Este... Este som... Está na minha cabeça. Esquizofrenia nãooooo!

Calm down, boy! Bread, Bread... I’m so confused. Caraca! Eu falo outras línguas?! Preciso me concentrar. Não faz sentido tantas vozes na minha cabeça... É como uma multidão falando ao mesmo tempo... Eu... Eu... Tem algo de mim... Eu não sei algo sobre... Aaaaa... Sou eu no espelho?! Quando foi... Esta barba eu não reconheço. A tarde vem caindo. Vou continuar andando. Próxima cidade... Devo ter caído de algum último sanatório! Por que diabos este sol parece estar dentro dos meus olhos?

Se bem... Desde... Não vi uma planta sequer ou água por aí. Como posso não ter sentido sede ou calor ou... Apenas solidão. Meu nome é... É... Lá está a noite, porém não escurece. É possível? Preciso alcançar a ausência de luz... Preciso... Uau! Corro muito rápido. Comparado a quem mesmo...?! Havia uma placa ali indicando perigo e raios... Por que uma seta apontada para o... Chãoooo! Uou. Produzo um som seco e indolor.

Aqui estão todos. Digam-me como faço para tirá-los da minha maldita cabeça?! Alienígena?! Supernova?! Ãn?! Três mil e quantos depois de quem? Lugar... Errado... Não? Tempo... Errado... Voltar... Mas... Mas... Ninguém! Silêncio! De novo desolado, mais uma vez deserto. Outros mundos se parecem iguais e outros iguais se parecem mundos... Qual a atitude diante de tantos mundos colidindo? Aparências...!

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Estranho do próprio ninho

*Foto tirada do ninho de sabiá a meia altura em casa

Por Rafael Belo

Deslocamento de ar, deslocamento de gente, deslocamento de informações, deslocamento de alma, desloca mente... E eu na certeza de estar de mudança completa. Afinal, já são pouco mais de cinco meses de retorno. Ainda me sinto, e nem sabia, fora de eixo. Alguns dirão “é assim mesmo, normal”. Mas, eu sou a mudança em pessoa e em nenhuma circunstância dos meus deslocamentos pelo país senti-me estrangeiro. Agora sou o próprio... Pensando bem, não é bem isso.

Montamos situações na nossa mente fantasiosa a nos deixar assim sem entender qualquer contexto ou pior, interpretando livremente sem base. As relações acabam por ser assim. Queremos fazer nossa parte e gritar para todos “eu fiz”, “eu doei” “eu sou solidário”... É uma tirania da “bondade”, mas estou tirando o foco da minha pessoa. A força doada por nós a segundos e terceiros é tamanha, a nos pesar certas horas. Porém, continuando a enrolar, porque nos achamos referência para alguma coisa. OO Prepotência. Pensamos ter sido agradáveis, sendo nós mesmos, com as pessoas e de repente mal se trocam palavras. Há um constrangimento...

Costumo tratar a todos da mesma forma e no mínimo espero honestidade. No entanto, nada se deve esperar. Ultimamente fico pensando: “onde estão as vidas inteligentes deste planeta? Ainda é possível manter uma conversa sem mencionar reality shows, contas bancárias, status e a vida alheia? Há mais franco-pensadores orais por aí?” Então, eu sento, visto um sorriso e exalo arrepios para começar a escrever. É um alívio poder reunir as palavras em algum sentido.

Nada de compactuar com as expectativas inquiridoras sociais. Quero mais originalidade ou então fica aquela expressão da boca espremida, a sobrancelha esquerda levantada, a testa “dobrada” e a respiração quase estática a encarar. Quero ouvir “não gostei de você”, “te acho arrogante...” e poder saber por que da onde. Chega da inquisição velada no banco sem pernas do júri.

Não me entendam mal, adoro socializar, extrair e trocar com as pessoas. Contudo, ando tão anti-social e a música é a companhia perfeita, é a expressão percorrendo a alma, mas quando sento é silêncio até nascer algo, até meus olhos brilharem e eu sorrir. Olhar para o som, para as consoantes e vogais juntas e saber ter sido um parto. Sou horas solitário e horas multidão. Minhas partes são assim e sinceras ao extremo. Pari sentimentos no ar empático e ganhei minha nacionalidade de novo, até voltar a ser estranho no meu próprio ninho.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Corpos estranhos

*Foto tirada com a chuva ainda moldada em gotas na beleza de um quintal

Corpos estranhos levantam as línguas em duelos
tortos pelo entender da fala tórrida estrangeira
ligeira no seu arrastar de consoantes vagas na vogais
estendidas na expressão a mais, insólita presença de nós mesmos
como estranhos corpos tomados em vazios copos dáguas
caídos transbordando o silêncio do nada módico
para um complexo sórdido de devorados devoradores de almas e mentes
em sons onipresentes de adorados adoradores adoráveis de um velho mundo em essências, de todas as língua afiadas desafiadas a adoção em corpos estranhos a própria estranheza da aldeia, presente, da pequena grandeza de falar igual e entender diferente, as diferenças.

23h12, Folha de Outono (Rafael Belo), 02 de fevereiro de 2010.

sábado, fevereiro 06, 2010

Na pele

*foto de ontem enquanto queimava o calor me queimando
Vejo sete céus em teu olhar quando fecho os olhos

então, duvido se faltam céus ou há ausência de nuvens
o celeste está na tua boca molhada suave em teu ar insinuado

chocado pela agressividade mansa domada pelo tocar, dos colos
solos das línguas acariciadas, conectam calor pelo corpo em margens
não há todo, somos reféns de mordidas invasivas, suspiros transpirados

atados, a evasivas falas do diálogo dos poros hormonais
exalados pela eternidade de sentir contornos labiais fantasmas,
camas imaginadas em um tempo de dois, em fugazes pazes selvagens
da natureza oposta suada dos sexos extasiados um pelo outro, na pele.

30 de janeiro de 2010, Rafael Belo (Folha de Outono), 23h30.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Dia óbvio

Por Rafael Belo * quem disse que o reflexo das poças nos azulejos não são reflexíveis?! Foto desta semana depois da chuva no quintal de casa.

“É um dia óbvio”. Pensou assim que acordou. As mesmas perguntas, tarefas iguais as de sempre, pessoas com as mesmas atitudes, as mesmas piadas, a velha homofobia enrustida, a malícia incrustada e o cuidado minucioso com a vida alheia. Ah! Claro! Como esquecer dos fingimentos...?! Aquela rotina enfadonha lhe fazia suspirar por algo a fazer antes do surto.

Sim, porque era óbvio, hora ou outra ia surtar. Ora ora... Nada de chacinas norte-americanas ou crise de abstinência de um viciado em maus lençóis tornando-se psicopata e matando a própria mãe. Também porque seu vício era dizer o seu enxergar e mais, o seu sentir sentia. No entanto, tudo ele passava em um resumo de acúmulo. Ele acumulava todas as gracinhas infames e todos os moinhos de ventos serpenteando para o atacar. Todo aquele vazio puxava sua alma.

Havia uma sensação de inutilidade. “Não sou inútil, mas também não possuo ausência de medo, porém sigo em frente.” Ele olhava com desprezo e ria da mediocridade o tomando e ao redor onde tinha se metido por tanto tempo. “Quanto tempo mais até eu destravar a língua e jorrar observações?” Era um fim do mundo diário. Angustiante a levá-lo a se levantar toda hora da frente do computador. Ele ouvia a trilha sonora de “Psicose” cada vez que ignorava, a cada ignorância. “Tam tam tam tam, tamdamramdamramdamramdamram...”

Era óbvio sua ineficácia com o ser deixado no seu lugar perante o espelho. Era óbvio a não continuidade de tudo isso. E começou bem cedo. Despertou com um sorriso largado de confiança pela primeira vez em tempos. Levantou com bom dia para todo lado e disse para cada uma “personas non gratas’ não devem falar se nada querem ouvir”. Respondeu cada gracinha com uma observação peculiar e sincera sobre a particularidade de cada. Foi silêncio. Só seus passos e o som de olhos estatelando.

Disse sobre a vulgaridade de uma, sobre a homossexualidade enrustida psicótica tocada diariamente de outro, sobre a carência de um terceiro, sobre a frieza e o egoísmo manipulador de uma quarta, sobre a mentalidade retrógrada e constantemente infantil da maioria, da pequenez “recompensada” com augúrios de poder fadado a não existir de um fardo...

E, foi falando a todos os seus devidos mereceres. Depois bateu palmas por meia hora pra si, diante de uma plateia envergonhada. Estava aliviado, satifeito era óbvio. Óbvio também era o fato de, em breve, se sentir contraditório consigo, pois não deveria expor a particularidade observada das pessoas em público em alto e ensurdecedor som independente da quantidade de “vergonha” a lhe querer, certo?! Certo?!