sexta-feira, maio 09, 2014

Aninha mocinha (miniconto) – por Rafael Belo


Estava aquela escuridão contornada de neblina. Mas a criança estava acordada. Também... Era dia. Anunciavam uma tempestade diariamente e nada. Aninha tinha toda a curiosidade das crianças e também sabedoria. Queria ver esta chuva medonha que os adultos tantos falavam. Aos cinco anos, Aninha estava tão convicta e certa quanto podia. Bastava fazer como o papai ensinava e a mamãe dizia: A verdade é o suficiente. Inocente, mas nem tanto, Aninha sabia das mentiras vindas dos adultos... Só não sabia porque complicavam tanto a vida. Ainda mais naqueles assuntos chatos que deixam todo mundo tenso e gritando.

Cores e valores. Ela gostava tanto de colorir e daquilo chamado pelo papai de valorizar o dom natural dela. Mesmo assim a subestimavam – como costumam fazer os adultos tolos. Ela entendia todo aquele assunto. Mamãe e papai já falaram com ela. Economizaram palavras, ela tinha certeza. Era espera demais para a idade. Vivia ouvindo isto. Talvez porque a subestimassem... Mamãe não dizia serem todos iguais?! Papai não contava sobre todos terem o mesmo valor?! Nem mais nem menos?! Então, porque isto?! Ela já era mocinha, papai e mamãe diziam às vezes. Mas ela gostava tanto da Galinha Pintadinha...

Lá estava o tio brigando com o tio. Tio Amá casou com a tia Cadinha. Lembro que não podia falar nada, só sorrir e olhar para os lados um pouquinho... Fui a daminha de honra. Isso foi a um milhão de anos, pensava Aninha. Tio Dézão não tinha tia... Mas, não vivia rindo do Tio Amá. Isso não deveria ser bom?! Aninha foi caminhando para a sala onde os tios estavam. Pararam na hora e se agacharam para conversar com ela. – Ti-o por que cês tão rigando? – Por que você acha que estamos brigando princesinha? – Por que sou mocinha... E o primo Teteu está chorando bem ali... Os dois olharam para o lugar onde Aninha apontava.


Aninha puxou o tio Dézão para junto do tio Amá. Ambos não sabiam o quê fazer. Tentaram sair, mas Aninha fez cara de choro e Teteu começou a chorar alto. Aninha pediu para se abraçarem. Ela perguntou: - por que tão bigando? Família não biga ti-oo. Mamãe e papai me sseram sermos todos igais e que inguém vale menos que inguém. Nem mais... Parecia ter criado vergonha suficiente nos dois e algo mais... Algo parecido com orgulho. Não satisfeita. Aninha foi até Teteu e pediu para ele parar de chorar. Ela pegou a mão do priminho Teteu e juntou com a mão do tio. E pediu: - Agora chega né?! Vamos bincá?! E saiu puxando os dois pela porta em direção ao quintal.

Nenhum comentário: