Estava aquela
escuridão contornada de neblina. Mas a criança estava acordada. Também... Era
dia. Anunciavam uma tempestade diariamente e nada. Aninha tinha toda a
curiosidade das crianças e também sabedoria. Queria ver esta chuva medonha que
os adultos tantos falavam. Aos cinco anos, Aninha estava tão convicta e certa
quanto podia. Bastava fazer como o papai ensinava e a mamãe dizia: A verdade é
o suficiente. Inocente, mas nem tanto, Aninha sabia das mentiras vindas dos
adultos... Só não sabia porque complicavam tanto a vida. Ainda mais naqueles
assuntos chatos que deixam todo mundo tenso e gritando.
Cores e valores. Ela gostava
tanto de colorir e daquilo chamado pelo papai de valorizar o dom natural dela. Mesmo
assim a subestimavam – como costumam fazer os adultos tolos. Ela entendia todo
aquele assunto. Mamãe e papai já falaram com ela. Economizaram palavras, ela
tinha certeza. Era espera demais para a
idade. Vivia ouvindo isto. Talvez porque a subestimassem... Mamãe não dizia
serem todos iguais?! Papai não contava sobre todos terem o mesmo valor?! Nem mais
nem menos?! Então, porque isto?! Ela já era mocinha, papai e mamãe diziam às
vezes. Mas ela gostava tanto da Galinha
Pintadinha...
Lá estava o tio
brigando com o tio. Tio Amá casou com a tia Cadinha. Lembro que não podia falar nada, só sorrir e olhar para os lados um
pouquinho... Fui a daminha de honra. Isso foi a um milhão de anos, pensava
Aninha. Tio Dézão não tinha tia... Mas, não vivia rindo do Tio Amá. Isso não
deveria ser bom?! Aninha foi caminhando para a sala onde os tios estavam. Pararam
na hora e se agacharam para conversar com ela. – Ti-o por que cês tão rigando? –
Por que você acha que estamos brigando princesinha? – Por que sou mocinha... E
o primo Teteu está chorando bem ali... Os dois olharam para o lugar onde Aninha
apontava.
Aninha puxou o tio
Dézão para junto do tio Amá. Ambos não sabiam o quê fazer. Tentaram sair, mas
Aninha fez cara de choro e Teteu começou a chorar alto. Aninha pediu para se
abraçarem. Ela perguntou: - por que tão bigando? Família não biga ti-oo. Mamãe
e papai me sseram sermos todos igais e que inguém vale menos que inguém. Nem mais...
Parecia ter criado vergonha suficiente nos dois e algo mais... Algo parecido
com orgulho. Não satisfeita. Aninha foi até Teteu e pediu para ele parar de
chorar. Ela pegou a mão do priminho Teteu e juntou com a mão do tio. E pediu: -
Agora chega né?! Vamos bincá?! E saiu puxando os dois pela porta em direção ao
quintal.
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