por Rafael Belo
Havia fumaça por toda
parte. Olhos ardiam, respirações se afogavam e o crepitar também ressoava. Mas,
nada queimava. Era tudo perfumaria, puro placebo. Arremedo remendado de quem nada
tinha, mas inventava. Caçava lagartas como se já fossem borboletas. Nem uma
coisa nem outra estava lá. Uma densa neblina invadia o dia e se espalhava.
Criança de cidade
desmatada não conhece nada de perto. É tudo na ponta dos dedos, nas imediações
do teclado. Mas aquela inocência tão assassinada por aí, chacinas diárias guardadas
em valas rasas para a enchente arrastar e ninguém poder enxergar ou alegar
existência, é fuçada... Uma baita de uma esperta. Uma esperteza natural feita
para adormecer.
Mas, então um leve
roxo topada de pé na quina da porta em um branco leite espumante tirado na hora
se transforma em pista móvel de pouso de uma borboleta e pronto. Desperta a
inocência adormecida. Daí não adianta ralhar com ela que não vai embora de
jeito nenhum, não dorme mais nem com chá de camomila nem com casca de maracujá.
O efeito borboleta faz toda a fumaça se dissipar e a neblina rareia até
desaparecer.
Sumiu e pronto, o mundo
está aí pronto para se maravilhar com as asas da criança se a criança se
maravilhar com as asas do mundo também. Uma troca constante focando e
desfocando para esta criança ser liberta... Ah, como julgam a inocência e a
culpam de ser besta e boba e chata e feia... As crianças sim sabem viver. Curiosas
e ousadas. Vê aí essa redescoberta? Tem todas as cores imaginadas em um sorriso
incontido em boca passional. Lá vou eu borboletear em outro quintal.
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