por Rafael Belo
Depois de tanto
empinar o focinho, o porquinho conseguiu focar a visão. Porquinho, não! Porco! Não
como o besta do Baby, porcos nunca foram nem seriam daquele jeito. Orwellianos,
então, nem serão. Aliás, ele era o leitão que mandava. Leitão grande e
vistoso, sempre à vista. Era a revolução em “porcoa”. Nada de bicho, nada mais animal
que o homem.
Territorial, tinha
presença de cercado e o atravessava, às vezes, a passos cruzados, mas
normalmente trotava imperial de cá pra lá, de lá pra cá. Só queria consumir e
se consumia na impaciência e agitação. Inquieto grunhia e bufando tentava
encarar do lado de baixo. Deixando tantas marcas de patas quanto uma legião de
porcos. Uma vara invadindo e devorando até a suposta chusma dominante por ali.
Mas, não! Era
sozinho. Corrupta solidão... Só, sentia raiva e cercava a cerca por dentro...
Sua ambição diária era mostrar ser a própria vara independente servida por uma
pessoa ou uma chusma. Para Porco era corja o servindo e o alimentando. Tudo a
ser feito era comer e crescer. “Ah, que
belo leitão eu sou...”, se suspirava.
Tinha uma vaga
perturbação e enuveava seus brilhantes olhos desafiadores. Quando a chusma se
divertia, sua corja “porcoal”, um dia antes sumia uma galinha e codornas do
quintal... Sem noção de tempo, sabia haver uma hora só dele, mas preferia ser déspota
imortal. Lembrava de histórias de terror natalinas do tempo “porcal” do fim da
engorda quando a corja devorava o melhor leitão... Por isso, se fazia
selvagem, fingia voltar a ser javali, mas tudo isso porque temia acumulações de
gente, era o cúmulo a diversão dos outros ser seu provável funeral.
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