por Rafael Belo
Nos nós das
vielas, ruas e avenidas há sempre o princípio, as origens. Muitos cruzamentos,
várias intersecções e a mesma finalidade: nos levar a algum lugar. As pontes,
tuneis e viadutos conectam um ponto ao outro e o movimento não para, mesmo se o
domingo for estendido além das horas. Não há atalhos e quando aparece algum
caminho disfarçado de mais rápido acaba sendo ao contrário, demoramos mais para
chegar. Esta é a cidade e nós somos iguais.
Precisamos
conhecer a cidade, nos conhecer. Saber os melhores lugares, as qualidades, os
piores becos, os defeitos, as esquinas erradas e as curvas mais certas porque
não saberemos em hipótese alguma a totalidade de qualquer vida e objeto, mas
podemos chegar o mais perto possível sabendo como trafegar por aí e dentro de
nós. Não há sequer um sistema de posicionamento geográfico capaz de nos levar
onde queremos se no fundo não sabemos onde fica. As origens precisam ser
descobertas.
Por mais que o
tempo passe novas vias surgem junto com sarjetas ocupadas e ambas estão em toda
parte nos olhando como se fôssemos um quadro abstrato obrigando o outro a nos
entender, aos sinais funcionarem conforme nossa vontade... É fascinante como
pensamos ser ruas de mão única... Como o passado é causa do presente... O deslumbramento
adolescente que não nos larga, continua em larga escala nos afetando afetados
que somos e negamos. Depois temos raiva, barganhamos e ficamos depressivos, mas
nunca aceitamos. E o ciclo reinicia como se vivêssemos de luto.
Luto pela morte
do que não chegou, não veio, não reagiu porque nada agiu antes, mas lutamos,
sonhamos e de alguma forma não percebemos que nos matamos... De uma forma
incompleta nos deparamos com nós mesmos e batemos portas deslumbrados
adolescentes rebeldes que ainda estamos, explodindo hormônios, criando faces
com todas as fases da lua indo do raso ao profundo nas próprias descobertas. Enquanto
o ponto não chega, não há origem e nem destino, parece que só há o ônibus
errado para pegar com a estrutura abalada e todas as direções do avesso fazendo
o olhar enviesar. Nos deixamos no nosso labirinto sem sair do lugar.
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