por
Rafael Belo
Mais um ônibus quebrou
naquela manhã de rodízio. Mais uma vez a correria. De um ônibus lotado para
outro correndo para tentar se encaixar. Mário João era o único sem fones de
ouvido procurando outra distração e isolamento, mas mesmo assim ouvia a música
dos outros. Uma população espremida que logo não precisaria fingir surdez. Um som
no início indecifrável ruía de algum lugar. Se até o “enfonados” ouviam imagina
Mário João.
Sempre há formas de
piorar um dia ruim... Pareciam raspar uma lixa em um quadro negro sendo fritado
em óleo fervente. Todos acordaram, mas apesar de incomodados ninguém manifestou
a visível indignação. Porém, riram com um doce sabor frio quando em mais uma
freada brusca o sem noção foi arremessado pelo corredor do ônibus... Mas, o
infernal ruído continuava queimando os ouvidos.
Mário João imaginou
qual seria o caminho da verdade. Viu-se chutando o ruidoso incômodo. Pensou em
chutar, quebrar apenas aquele celular e ser ovacionado pelo público obrigado a
brincar daquele lego sem graça com assustadora trilha sonora. Afinal ele faria
a lei ser cumprida e subiria às graças dos sofridos do busão, mas foi somente verbalmente
grosseiro para o júbilo dos inativos. Perdeu a paciência...
Foi pelo caminho do
meio assim que o ônibus seguiu acima do limite de velocidade, não queria
tesouros. Agiu como um cão perturbado por horríveis sons agudos. Mordeu. Tinha raiva.
Preferia o som do motor desregulado e entupido do coletivo abafando até os
pensamentos a tudo isso ou aquilo. Depois disso, borboletas o cercaram e ele
apenas apreciava silenciosamente o silêncio... Quem sabe poderia finalmente
dormir, o caminho até o trabalho é sempre longo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário