Era
possível sentir as cores se misturando no ar. Aquela brisa marítima chegava com
um sorriso na face de Mário e ele sorria. As ondas iam parar de ir e voltar só
quando acabasse o mar, mas por enquanto continuavam. Por enquanto iam e vinham
trazendo o som da tranquilidade. Iam e viam com uma frequência cada vez menor
atrás das memórias perdidas nas areias e lambiam como se fossem uma língua de
gato.
Era
um banho de pensamentos naufragados, afogados sentimentos e de uma sinestesia
inebriante.... Mário se endireitou, esfregou os olhos, inclinou o pescoço para
frente, torceu o nariz e olhou para os lados. Levantou e limpou a areia das
roupas e do corpo. Como uma onda humana mimética cronometrada várias outras
pessoas se levantaram, avançaram e recuaram diversas vezes...
Mas
a maresia mantinha meticulosamente um marrom como se a vida se desmanchasse em
barro e seu sopro cessasse. O azulado esverdeado estava maculado e trazia a
morte boiando. A corrosão do tempo agora era instantânea e enferrujava dos
olhos a alma. O som de murmúrio típico de uma multidão lamuriosa substituía a
sonoridade mais penetrante do litoral.
Manchada
a tranquilidade de Mário, ele procurou vestígios de revolta, no entanto a
drástica dramaticidade do momento levara tudo a paralisia e a vontade dele era
de voltar àquele ritmo repentinamente tomado, roubado da própria vida... “Então
era desta forma.... Assim chega a morte! Tão de repente e mesmo assim a negamos
todo as vezes”, falava alto Mário como um ensaio, uma marcação de palco. Porém,
desta vez toda a plateia encenaria a morte. Água salgada e barro estavam nelas
também e todos morriam até o mar voltar procurando o reflexo no céu.