Maria
caminha. Ia olhando para cima involuntariamente e da mesma maneira involuntária
as pessoas desatentas desviavam dela sem a ver ou ter esta função no cotidiano
automático paulistano. É, nem tudo se explica porque a explicação, às vezes, só
tem a função de acabar com a magia das coisas, da vida. Talvez fosse este o
pensamento de Maria e lá ia ela.
Disse-me
nem perceber sua repentina obsessão pelo céu, pelas nuvens, me disse querer
enxergar as estrelas de dia. Pensei: Ah,
Maria. Poluição, sol, meio-dia, não querida, não verá nada não. Por isso,
sorri quando a ouvi, mas ela imaginou ser outro o motivo do meu sorriso. Percebi
– antes de me aproximar – que até os ladrões a evitavam.
É... Loucura, pensavam e se afastavam depressa. Maria me disse se
imaginar centenária e até mais. – Mais de 100?!, perguntei surpreso e dizendo
não me imaginar planejando nada, indo adiante, mas sim via meus sonhos se
realizando, dando entrevista para o Jô, aliás até sonhava tal alegria algumas
vezes...
Interrompendo
meu ego, Maria voltava com a mania de se perder olhando para cima e envelhecia
com a mesma idade. Dizia, que no futuro cada idoso teria até a sexta idade, mas
provavelmente o desrespeito – infelizmente – até pioraria, então queria
envelhecer agora porque amanhã o tempo passaria, mas o corpo pararia aos 25 e
ninguém mais perceberia a vida como ela é: mais bela porque havia a morte para
a enaltecer.
Um comentário:
"As vezes,a explicação pode acabar com a magia das coisas"! Perfeito,lindo.
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