quarta-feira, março 08, 2017

Não sei lidar (miniconto)




por Rafael Belo

Escandalizados estão os corações neste momento de orfandade. Foi-lhes dito: o amor morreu. Mas, confusos, cada coração o matou do seu jeito e deixou para a posteridade a dor atribuída a este diminutivo derivado de fragmentos. Só poderiam despedaçar em uma automutilação lenta e selvagem. Uma gritaria convulsiva postada em todas as redes sociais saturadas de exposição recebeu curtidas para constar: eu presto atenção!

Eu ali, um pouco em cada pedaço, fazia estardalhaço com pequenos dramas na lama das plateias íntimas. Há uma descrença, uma falta de fé dolorida, mas a comitiva ateia acredita no sofrimento, na pobreza de sentimento chamada na superfície da poeira de qualquer nome. Porém, toda a preferência é para chamar de Amor. Chamando assim também, o outro no próximo relacionamento em um desmembramento de desejos repetidos e continuados neste quebra- cabeças tumultuado.

Vendo-me a preço de banana… Não, me perdoe a descontração. Estou todo contraído aqui me vendo esquartejado no meu suicídio. Nesta projeção querendo velocidade nas expectativas rabiscadas no rascunho dos papéis amassados já no lixo. Como um bicho, mexo, remexo… Sou prolixo. Reaproveito restos de celas para formar novas prisões em outras versões disfarçadas de projetos de entrega, ali só para o esfrega-esfrega na minha cara fingindo não perceber o novo no velho não querendo morrer.


Conto as decepções as remoendo, me doendo de mim novamente, vítima dependente do vitimismo. Arranco um olho para ver se viro rei.Mas, ei! Que rei sou eu? Arrogante e egoísta, machista em um mundo de mulheres. Ainda sou mulher usando do outro gênero para me negar rainha. Vivo das migalhas do que fizeram do amor porque se tiver O Amor serei livre de verdade e com a liberdade de verdade, não sei lidar.

terça-feira, março 07, 2017

sempre inteiro



fragmentos de Amor lampejam a Luz no túnel dos sentimentos
onde derivados do amor são devorados vorazmente
impunemente o fim não acaba encarna acontecimentos

completos no drama pós-almoço dispostos a ser disponíveis
inesquecíveis para si mesmos brinquedos prontos para não repartir
discretos quando as expectativas não param de rugir e ruir

animal humano digladiando narciso impreciso quando o maior preciso é não fugir
partir a si em falsas liberdades voando na redes das inverdades feitas para reais borboletas
espetadas nas cortadas asas das admiráveis vitrines dos valores desiguais

há um preço no apreço pela prisão de ser a mesma estação quando há outono inverno primavera verão onde o Amor está inteiro sempre primeiro multiplicação.


+ às 00h40, Rafael Belo, terça-feira, 07 de março de 2017+

segunda-feira, março 06, 2017

Pequenas luzes refletidas do Amor



por Rafael Belo

Há tantas formas de se relacionar nesta extensão virtual de nós. Tornamo-nos trocadores de likes, interpretadores de indiretas, avaliadores de hahaha, desculpe é haha só, uau, amei e grr. Na hora do diálogo aparecem centenas de páginas em branco e sorrisos amarelos. Naturalmente é possível ir para os ditos finalmentes sem antes, durante e depois. Mas, nosso coração está distante dos nossos pensamentos e mesmo assim eles estão em conflito. Ao mesmo tempo do querer, há o medo de sofrer e de se machucar de novo. Quando vamos em fragmentos para onde deveríamos estar inteiros nada acontece de verdade, é só um trailer bem editado.

O filme na verdade é bem ruim nem valeria à pena assistir porque a vida não é um filme, porém, precisamos praticar para aprender e nos permitir. Somos protagonistas mesmo em plena amnésia alucinatória do nosso amador coadjuvante, escrevemos nossa história. Óbvio. Existe o medo, a insegurança e todos os obstáculos para vencermos. Demoramos para entender e, às vezes, nem entendemos qual é o nosso caminho, mas temos uma necessidade imensa de compartilhar, torcer por alguém, ter alguém ao nosso lado, mas quase a totalidade dos nossos relacionamentos estão longe do Amor. Cobramos presença, reciprocidade, satisfação, atenção, carinho... Amar é espontâneo, é soma, é liberdade, leveza e totalmente de graça.

Se precisarmos cobrar, já tem algo errado fazendo ruídos de correntes arrastando no chão. Não nascemos para sofrer, nem perder, é uma questão de ângulos do olhar. Estamos evoluindo – ou pelo menos deveríamos. Honestidade e sinceridade são os melhores guias e olhar pela visão da outra pessoa também. Não somos donos de nada nem ninguém. No entanto, jogamos expectativas para toda parte e deixamos de somar para dividir, diminuir... Vejo anulação, acúmulos, parcialidades e submissão por toda parte, presentes em relações nada saudáveis. O Amor não é cego. Cegos somos nós com nossa arrogância e egoísmo pintados na aparência, peso, conhecimento e tão pouco discernimento quanto à pequenez da alma. É fácil matar a palavra amor e seus derivados, mas o verbo, a encarnação Amor não acaba, não morre.


Somos fortalecidos por Ele. Os relacionamentos vividos por mim e aqueles do meu conhecimento não me deixaram hoje só, pelo contrário, me esvaziaram de preconceitos e clichês para um novo eu crescer. Precisamos estar bem e saber sermos inteiros para abrirmos a mais tenra intimidade para o outro. Não aquele a nos completar, mas a caminhar conosco. Somos completos. Somos inteiros. Quando formamos casais de qualquer gênero só precisamos estar dispostos e disponíveis a sermos mais livres, além de entender o caminhar juntos, mas individualmente nós mesmos. Até lá, viveremos fragmentos, lampejos, pequenas luzes refletidas do Amor.

sexta-feira, março 03, 2017

Agora eu (miniconto)



por Rafael Belo

Sou outro eu agora. Estou agora aqui. Posso dizer meu nome sem me incomodar, sem disfarçar ou perguntar o motivo. Erina Navi. Não há quem me afete além de mim mais. Este é meu terceiro país em três semanas. Minha preocupação é aprender novas línguas em troca de ensinar um pouco de tudo considerado meu aprendizado. Se você está lendo isso, esta mensagem se autodestruíra ao fim. Há um leitor de retina aí mesmo na câmera. Não copie para reprodução, por favor. Deixei quem eu fui para trás. Sou uma nova mulher. Sem preocupações, sem marcas, sem rugas, com um passado morto onde as lembranças são só lembranças.

Não tenho a intenção de ficar mais de sete dias em lugar nenhum. Também não vou digitar mais nada depois de hoje. Eventualmente, continuarei a escrever à mão. Sim, com lápis, papel e caneta. Tenho um estoque ainda acessível, mas não codificado em nada conectado ao mundo virtual. Já há um tempo eu vinha me desconectando das dependências fora de mim. Já não utilizava redes sociais nem respondia nada no whatsapp. Foi graduado e no fim me encontrei. Pelo menos um pouco mais. Minha alma queria conexões capazes de realizar a realidade. Por isso, eu sempre ligava quando via mensagens direcionadas a mim. Agora não existo onde vocês tanto vivem.

Não sei quantos anos serão necessários para eu conhecer todos os países do mundo. São mais de 200, apesar da lista de lá atrás, em 2017, registrar 193 e já com ausências. Estou aqui para confirmar as possibilidades em ti de ser o mundo, de Deus ser você e você ser Deus. Mas, precisamos nos dar conta da imagem diante dos espelhos. É necessário descobrir as palavras do silêncio, os dizeres do corpo, os clamores da alma... Onde aconteceu o seu desvio de si? Quando você parou de seguir o caminho feito para você sorrir, ser leve, ser realizado...? Aqui na realidade, não na imaginação. Sem as ilusões jogadas nos nossos olhos como óculos dentro da retina, nem lentes se parecem tanto com nossos olhos.


Eu me desviei há dez anos. Quase enlouqueci andando nos caminhos fora de mim, presa em versões minhas da infância emburrada... Hoje estou aqui. Sou outro eu sem deixar de ser eu mesma. Sou, de verdade, pela primeira vez consciente do me tornar. Ver tantas culturas diferentes me acolhendo, vai encolhendo um ego moldado para riquezas materiais sem sentido no abismo sem fundo onde ainda cavamos em nós. Esta busca sem fim de agradar, de se destacar, de ganhar ou ganhar, de sofrer para se elevar, de trabalhar para trabalhar, acabou. Escuto tantos silêncios antes calados ao meu redor. Tente escutar também. Não me procure.

quinta-feira, março 02, 2017

Meu chip



fumaça arde nos olhos fuma minha pele viciada em me detonar em carbono
pequenas explosões de bactérias desvirtuando as artérias à ataques mentais
há vermes tentando teimosamente trucidar minhas ilusões
perfuradas pelas privadas balas das metralhadoras do cotidiano

os bisturis nos governam nos lobotomizando misturando sangue e pensamentos
necrotério disfarçado de critérios engavetando corpos apagando digitais
sou virtuais sensações reais projetando minhas falsas certezas

há uma delicadeza cirúrgica nos matando as dúzias enquanto nos comportamos imortais
caos no cais afundado dado a repetir nosso afogamento

no momento estou percebendo o quanto foi ontem todo o amanhã e este agora implantado em déjà vu no chip da minha enganação.

+às 12h19, Rafael Belo, quinta-feira, 02 de março de 2017+


quarta-feira, março 01, 2017

Bina, a Colombina (miniconto)



por Rafael Belo

Mais uma vez estou aqui. Mas, desta vez é pior. É carnaval. Não gosto nem devia estar aqui. Estou mais velha. Não gosto de multidão. Aperto, aglomeração... Também não tenho coragem de dizer o quanto penso em sexo e o quanto acho chata estas pessoas sem idade acima dos 18 até aquelas com mais de 40. Nossa! É um vazio nada atraente. Já não sinto mais atração pela beleza padrão de um corpo, de um rosto... Estou recolhendo minhas cinzas faz tempo. O pior é chamar Colombina. Obrigado pai, valeu mesmo mãe. Ninguém sabe meu nome. Todos me chamam de Bina e eu nunca explico o motivo nem origem.

Meus amigos de escola, de faculdade já não estão mais próximos e não fazem questão de me envergonhar quando nos encontramos. Só eles ouviam todo meu nome. Hoje estou com outros amigos. Vim pelo erro da insistência. Olho para todas estas fantasias e duvido serem só fantasias... Eu aqui sorrindo misteriosamente pareço um atrativo para todos os gostos e só estou sorrindo para minhas descobertas de mim ou seriam revelações? Só posso fazer divagações dos meus Pierros e Arlequins quantos troquei, quantas vezes fui trocada... Ainda estou tentando estar no agora. Matar este passado me matando aos poucos de hora em hora...

Se for ler minha história colocarei em dúvida quantas realizações são realmente minhas, são reais... Dói não me deixar sentir dor, não liberar a raiva, não soltar a mágoa presa neste meu rosto pintado. Sou uma palhaça porque riem quando sou honesta e sincera. É minha ligeira amargura das falsas inocências cavando buracos para si mesmas por aí. Preciso desesperadamente de profundidade para manter o pouco de sanidade aqui, fugindo da minha cabeça ainda insistindo em perguntar para onde vou agora, quando preciso saber onde estou... Minhas perspectivas, minhas expectativas me sufocam por aí e eu fingindo respirar bem.


Estou respirando com ajuda de aparelhos. Muletas sociais substituindo minhas reais vontades, meus anseios verdadeiros... Como meus pais eram os pais deles, sou órfã e como meus pais. Sou minha mãe, sou meu pai... Não uma mistura dos dois. Eu sou meus pais. Sou os dois. Mas, nego se disserem eu ter dito isso. Ainda assim, ainda assim... Ainda assim preciso admitir eu ser a culpada de mim. Eu sou o remoer dos meus erros e o exagero dos meus acertos, mas um espelho no qual não quero ver os reflexo feitos por mim. Eu sou O Carnaval. Não! Eu estou um Carnaval. Não posso ser só isto. Esta festa da carne feita para esquecer os pensamentos, os sentimentos, os arrependimentos, liberar os desejos e se divertir. Vou adotar a diversão. Vou dar um perdido fácil nestes meus amigos e depois vejo até onde vão a brincadeiras e suposições. Agora vou. Sou Bina, a Colombina.

terça-feira, fevereiro 28, 2017

comprimidos reprimidos



há uma colisão de pressões de onde do meio me saio
um desmaio dedicado da dor dizendo a um eu passado sobre um eu futuro
seguro de nenhum existir agora querendo quase questionar nossa ânsia de ganhar
todo ar de atenção latindo contra contradições comendo miados medos

meu segredo é tirar fantasias liberar caninos felinos domésticos dos destinos
pinos do meu desencaixe desnecessário dilatando minhas pupilas para o abate
debate dos caminhos cruzados causando jogos viciados em recuperação

ação dos comprimidos reprimidos aditivos das ilusões das realizações
junções ideais das expectativas previsíveis do drama
cama dos espelhos da realidade rachando responsabilidades com o reflexo

estou anexo ao desconexo desfiar destes fios desejando me manipular.


+ às 11h32, Rafael Belo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2017 +

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Olhe bem para nós



por Rafael Belo

Olhe bem para nós. Temos uma ânsia por atenção quase canina. Abrimos olhos grandes felinos e colocamos em prática nossa atuação. No carnaval das fantasias liberamos nossas inibições, tiramos as máscaras e tentamos nos encaixar até a quarta-feira de cinzas chegar. Mas, o quebra-cabeça pode parecer perfeito na superfície, em tudo visto de fora, porém, por dentro, em profundidade nada se encaixa. Nossas peças soltas se soltaram apenas por uma razão: nós. Não há nada errado com o mundo. Errado foi como aprendemos a lidar de maneira precária com o exterior e nula com o interior.

Sim! Projetamos ideais, idealizamos expectativas parciais para receber a totalidade da responsabilidade dos nossos sentimentos do outro, muitas vezes, sem ele sequer desconfiar. Construímos castelos de ouro e diamantes com areia e ar, montamos seres perfeitos com peças sobressalentes da imaginação, então, quando tudo dá previsivelmente errado há drama. Choro e ranger de dentes se espalham no inferno tão mobiliado por nós. Mas, espere! Quem somos nós? Quais nossas vontades? Quais os anseios das nossas almas? Quantos espelhos negamos nos rodear?

Temos tanto a admitir para nós mesmos... Mas, claro, é mais fácil culpar os pais, a família, a escola, os professores, os políticos eleitos sozinhos, o mundo... Além, é óbvio, de todas as acomodações feitas para não nos incomodarmos tanto com nossa falsa satisfação. É tão passageira esta satisfação... Passamos tanto tempo insatisfeitos a ponto de qualquer estímulo em direção a uma realização verdadeira já injetar novo ânimo nos nossos projetos. Engraçado... Crescemos direcionados por todas as referências a buscarmos as riquezas, a sermos ricos, ou então aquela ideia da pobreza ser o objetivo, ou ainda quando nos dizem faça a sua felicidade, siga seus passos, ficamos tão confusos. Nunca nos mostraram este caminho.


Não poderiam porque não sabem. Precisamos descobrir por nós mesmos. Este ciclo infinito de busca da riqueza, felicidade e amor adaptado para as bilheterias atuais do American Dream é individual. Não é este caminho único da autoajuda coletiva reprimindo nossos eus de tantas maneiras com aquisições materiais e metas empresarias, industriais, mecânicas a ponto de nos fazer sentir fracassados, inadequados, incapazes em algum momento das nossas vidas. Talvez nem nos tenhamos suprimido nas nossas necessidades imateriais inorgânicas em uma substituição qualquer porque cada caminho traçado é marcado por apenas um de nós e para suprimirmos algo devemos ter algo para suprimir. 

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Preferência mortal (miniconto)




por Rafael Belo

Estava tudo bem até elas falarem. Não, não estava, não é?! O silêncio trouxe o clima tenso cortando o ar com a navalha delinqüente guardada sob a língua. Não! Espera! Também não era isso?! Era uma imposição. Isso! Isso sim incomodava. Não era a opinião. Porque esta pertence a cada um. Mas, a vitimização como argumento, a dramatização como fundo, a obrigação como cotidiano e o livre-arbítrio para o de vez em quando estava à flor da pele. Era preferível a gritaria do estouro, da explosão da raiva incabida a este silêncio matador, assassino, tão pesado deixando as duas curvadas ruminando as próprias, opiniões, as próprias frustrações, aquelas expectativas irreais e mudas.

Mas é Carnaval, vamos deixar encerrado por aqui, na quarta-feira de cinzas a gente desmuda e começa de novo... Não? Não podemos voltar só daqui a cinco dias de folia? Não é assim o funcionamento do Brasil, das pessoas? Esquecer não é o normal? Como?! Ah, sim! Ninguém esquece realmente se não seguir em frente... Mas, não é tão simples aceitar este fato e quem somos de fato, Katilneila, afinal, fomos criados para projetar nossas expectativas, para cobrar do externo, ou seja, dos pais, dos chefes, do mundo, dos políticos, mas o outro não tem nada a ver com nossos pensamentos, nossos sentimentos, só nós temos, Katilneila, é isso mesmo?

Causa e efeito não funciona mais do mesmo jeito?! Certo. Estou me fazendo de boba? Você tem razão! Estou negando saber, eu sei. Admitir isso é admitir minha capacidade de mudar e é doloroso ser completa. Fragmentos assim é mais fácil lidar, sabe?! Menos intenso. Distribuir minhas responsabilidades torna mais leve. Nada posso fazer se não sou eu, certo? Oi? Sim, sim... Ilusões perdidas, perdidas ilusões... Então, causa e efeito mudaram. Como? Bom, se eu, uma executiva com sobrenome famosa roubar posso nem ser acusada, mas se a Edilaia, for fazer faxina e sumir algo na casa, ela poderia ser presa... Achou errado. Não pode ser presa sem provas, o sindicato é forte, a imprensa dá visibilidade...

Fugindo do assunto? Não tenho nada a dizer. Não preciso me desculpar, não quero obrigados, só pare de esperar algo de mim. Nesta época de relatividade há infinitas possibilidades para a mesma ação. São tantas reações, tantos pensamentos diferentes, tantos sentimentos subdesenvolvidos... Não. Subdesenvolvido não é categoria, é burocrático, é rótulo...! Aprendi a lidar só com meu exterior, com quem está fora. Quem está dentro é uma desconhecida! Por isso, volto ao início e prefiro o silêncio tenso desta imensidão aqui fora a gritaria e pancadaria aqui dentro. Volto ao sofrimento das expectativas. 

quinta-feira, fevereiro 23, 2017

protesto!



a pequena flor amarela está na tela do olhar
é a imagem no centro da minha mente acumulando o pensar
uma aquarela surreal aberta alerta em uma bandeira natural a brotar
brasileira tremulando no instante de luz o chacoalhar da necessidade de parar

cópias diferentes da gente eu comigo pensando nos reflexos

ecos discretos no desenrolar do fio da noite foice racional dos sentimentos
confusão sentimental dos pensamentos fazendo história
passado passou dizendo não existir além da memória

longe de entender e ainda assim querer supor simples o complexo
há um anexo enviado com cópias do passado parado no acesso

aventuro-me dentro de mim para me achar fora da minha imitação
preservo a vegetação nativa na minha natureza minhas pegadas se misturam
apuram os sentidos às alturas dos pensamentos sentindo o meu vento interno
sincero sopro singelo refresco o honesto elo se completam

não são o mesmo me aceito primeiro em um gesto
vai-se o medo sou o próprio protesto.


+ Rafael Belo, às 11h52, fevereiro, quinta-feira, 23 de 2017 + 

quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Só na memória (miniconto)



por Rafael Belo

O caos impera minha ordem como o amanhecer precede a tarde e o anoitecer. A família esta toda ali se encarando, se analisando, falando amenidades só para enfatizar não ter diálogo, não terem nada haver. É uma legião de pessoas com legiões de pessoas dentro da própria mente. Arquivos de mágoa, rancor, ódio, confusão e o silencio mortal. Há tanto veneno destilado, guardado e destinado... A cada individuação ali, o Eu grita para ser sentido dentro da própria ignorância, mas a percepção só percebe a partir dela mesma e, às vezes, tudo são resmas empilhadas de papel sulfite em branco. Não adiante escrever, ler, perceber, mas não se envolver... Meriene tenta só observar, porém todo vez é arrastada para o meio de qualquer coisa.

O ambiente e o comportamento padrão e repetitivos podem remontar há milhares de anos do mesmo nesta família, a Mixes. É possível eles nem sequer terem tido oportunidade de fundir, ou equilibrar, pensamentos e coração. Sentir e pensar entram em conflitos de emails pela distância absurda criada por Meriene Mixes. Cara mente de Meriene, sabichona como é, sabe quem somos, mesmo assim nos apresento para, afinal, agir. Somos os sentimentos longínquos perdidos de Meriene. Fomos isolados do coração. Pelo movimento e correria, estamos nos pés. Estamos muito doloridos e latejantes. Deve haver muita quina e objetos escondidos no caminho...

Viramos fobias e medos criando sintomas doloridos em diversas partes do corpo, mas não podíamos nos desenvolver apenas sendo nós mesmos, precisávamos de orientação. Juntos, saímos todos dos fragmentos do coração e depois de tanto tempo tentando chegar até você, nos perdemos. A mente não se envolver sozinha, mas consegue lembrar de como era se envolver, aí estão os erros tanto procurados por ti. Para se resolver, precisamos nos encontrar para identificarmos nossas origens. Nosso coração só tem cicatrizes frágeis. Ainda somos os mesmos e vivemos as sombras de sermos mais. Sabemos, somos o coletivo sentimentos e precisamos dos seus conhecimentos para ir a algum lugar.


Seria o começo do fim, mas não sabemos haver meio ou meios. Este email pode acabar na lixeira ou ser eliminado como spam e todos nós vamos viver como teclados, cordas, válvulas, sopros... Enfim, instrumentos com notas de outros tons, de outros sons, emoções adulteradas, formas corrompidas de viver ou extravasar nós mesmos, os sentimentos. Lamento, lamentamos, se puder entender o significado, se não, acesse a memória e entenderá, espero. Esperar vem de esperança. Você entende o conceito, mas já não esta cansada de só pensar sem se conectar com o agora? Separados assim podemos ambos deixar de existir porque o passado não existe mais, está só na sua memória. Vamos nos encontrar e começar uma nova história. Atenciosamente, Sentimentos.

terça-feira, fevereiro 21, 2017

Verbete das pétalas



ramalhetes contém belezas em conjunto
buquês o brilho de quando chegar junto
fases da mesma flor se sobrepõem ao fundo
banquetes da primavera no derretimento do verão
são o outono adubando o artificial inverno
congelado no inferno das misturadas mentes diferenciais

nada iguais os pensamentos nem o mesmo ukelele diminui o violão
cada cérebro contém o próprio firmamento mas o céu é outro lugar
a tradução nunca significa exatamente o querer falar acima das traves
há entraves pagando todos os males sob o tapete do verbete dos ipês

glacê das pétalas apontando clichês nos aromas únicos perdidos discretamente na própria mente.


+ Rafael Belo, Às 13h30, terça-feira, 21 de fevereiro de 2017+

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

Contaminação global



por Rafael Belo

A percepção de cada um sobre o mundo - se não for cópia - não é a mesma. O cérebro e a própria lógica deste funciona com uma particularidade tamanha difícil de medir. Como dimensionar o imaterial, às vezes nem entendido por quem o possui? Com respeito, certamente. A relatividade da simplicidade e da complexidade está ligada diretamente a quem esta diante deste dilema. Pode ser solução, problema ou sinceramente não significar nada e os rótulos distribuídos na saída do útero só aumentam o suficiente para nos reduzir às superfícies do olhar.

Neste caso, até cópias são diferentes. Só parecem iguais e tentam imitar. Ao primeiro olhar as percepções são só impressões. Estas não podem ser marcadas, não podem ficar. Nada fica no lugar por muito tempo. Até prédios e empreendimentos sólidos vão se liquefazendo diante do tempo e qualificar os efeitos do cotidiano é se manter irredutível em uma opinião, admitir a inexistência da deterioração e da evolução. A construção de cada um de nós é um mosaico, não um vidro liso sem cortes e recortes. Nós somos uma mudança constante mesmo quando não parece.

Aparência é uma palavra dizendo tudo: não significa nada sem contexto nem explicação. Na sociedade da imagem, confundimos paisagens com pessoas e temos raciocínios à toa sobre julgar o visto. Os pensamentos e posicionamentos sim são significantes como o verdadeiro diálogo. Mas, há ainda um algo mais em nós, ditos racionais. Uma conexão excessiva nesta sociedade conectada da informação e do instantâneo igualmente carente e solitária. Cara e coração são smiles e emotions avisando a chegada a todo instante no celular. Somos encontrados em todo lugar, mas estamos perdidos, desconectados da importância do outro.


Supomos ser simples para nós o mesmo para o outro e perdermos o tato, a percepção das necessidades deste. Assim como elogios são a Nutella de uns e o inferno de outros, o silêncio é o pesadelo de uns e a necessidade de outros... Se não nos dispomos a entender nem a diferença dos organismos, o contraste dos corpos, dos tamanhos, dos pesos, das medidas, da saúde de cada um como querer falar sobre o modo de pensar? Estamos longe de nos entender realmente, mas nem precisamos de entendimento. Precisamos de uma audição boa, excesso de paciência, a morte total do julgamento e a contaminação global do respeito. 

sexta-feira, fevereiro 17, 2017

Apagada (miniconto)




por Rafael Belo

Absurdos em séries surtam no mundo e eu já não ligo a televisão mais. Trump decidiu: “o Brasil é da América do Norte. Sorte para os brasileiros”. Um muro gringo terminou de ser erguido para a gente pagar. Outros muros são construídos por aí. Picharam meu nome errado ao me chamar reacionário… Nem o gênero acertaram. Ainda escreveram otário… Anaê Hinário… Meu nome ao contrário é Êana.

Os universitários estão todos nas ruas nervosos. Policiais a paisana questionam, gritam: “mais impostos?!”. São expostos por defenderem uma opinião. Deve haver outra questão. Quem acredita na televisão? Há um grupo em rebelião com protesto violento, uma violação ao decreto de pacificação. Já não se é minha imaginação ou realmente vida em ação. Pode ser apenas mais uma série de destruição…

Uma fase de ilusão para pensar nas possibilidades. Longe ou perto da verdade? Ê Anaê, como foi se envolver com uma pichação ?! Não, não! Envolveram-me. Nem assisto tevê para poder pensar buscando informação em mais de um lugar. Brigar comigo mesma é uma inação ou afobação? Não pode ter só um lado na televisão, com certeza há grades com melhor programação.

Quem sabe a gente ouça a intuição ou ao menos o coração, pois a razão já perdemos como história… Esquecemos! Vivemos tanto nos livros, na humana trajetória e só repetimos esta série sem fim, esperando espaço na agenda para marcar uma nova data para o mundo acabar. A política bate na minha casa, o sistema na minha cara… O problema é ter a vida revistada, cada vírgula interpretada da maneira adotada, minha mente está revirada. Haverá reviravolta e na próxima volta virá violência. Ao invés de um tapa, ser interrogada… Serei fuzilada! Apagada!

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Imortal


assassinatos em série de todas as formas do tempo vão surgindo a cada minuto no noticiário
uma nova temporada termina uma antiga começa
há excessos à beça pregando pequenas peças de realidade na ficção dos meus olhos
há acontecimentos tão ilusórios coexistindo sem se dividirem nem somarem
multiplicando a divisão diminuindo as somatórias
mudando destinos histórias criando trajetórias paralelas aos sonhos
de nada somos donos só nossos pensamentos são patrimônios onde nem o esquecimento chega há armazenamentos nas nossas sinapses
sou ser seriado somado a criar conexões constantes e em um instante imortal sou

+Às 12h27, Rafael Belo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017 +

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

Despetalar (miniconto)




Por Rafael Belo

Ella sumiu durante um ano. Queria gravar suas próprias séries, mas se distanciou do próprio mundo. Seria a cineasta com mais bagagem. Teria seus próprios recordes no Guinnes Book e eram tantas probabilidades... Sua mente saia fumaça. Havia uma quantidade de opções incontáveis e, Gabriella, preferia ser Ella. Todos diziam seja isso, você é boa nisso, trabalhe com aquilo... Só faziam gerar irritação, então, Ella se afastou. Já era órfã até de parentes parou com a vida tão badalada indo a todos os eventos possíveis de participar. Resolveu não atender celular, não responder nada das redes sociais...

Estava sozinha como se sentia. Órfã de si mesma. Só absorvia aquelas imagens intermináveis de séries sem fim. Utilizou suas habilidades de cracker para criar uma nova identidade e com isso mudou todos os seus números. Ninguém mais a conhecia nem poderia falar com ela. Recebia por pequenos trabalhos, mas com grandes quantias. Era investigadora virtual. Procurava cada curtida, cada compartilhamento, cada conversa... Enfim, tudo passível de incriminação e procurava a cliente ou o cliente em potencial. Juntou dinheiro suficiente para realmente sumir e assim o fez.

Não se dava conta do tempo. Só via séries crackeadas e não tinha necessidade de horário para nada. Mal se higienizava. Talvez tivesse o mal do século, mas não parecia depressiva. Só desistira das pessoas e as pessoas desistiram dela. Na verdade, Ella havia mudado tantas vezes na surdina... Era muito difícil localizar quem não queria ser encontrado. Fazia questão de ser intratável e grosseira com todos... Não deixou saudades. Mas, há sempre alguém em busca de você. Ella não era diferente. Não tinha morrido. Então, um certo alguém a procurava por toda parte. Não sabemos o nome dele...


Ele havia enxergado o desejo dela de afastar o mundo e isso, não há explicação do motivo, o atraiu. Ella era uma lenda na cidade onde morou por último “graças” ao desconhecido obcecado – ou seria apaixonado – por ela. Contava histórias fantásticas sobre a intratável criatura. Ele sabia quem Ella era. Talvez mais até se compararmos a decadência dela. Tudo armazenado na cabeça dela era relacionado às séries e a conversa era sobre séries. As conversas solitárias traziam arrependimento do abandono do mundo. Não queria ser mais a órfã. Quando sua campainha tocou, Ella abriu sem pensar e sorriu para Ele como quem se apaixona em uma dessas séries pela primeira vez e começa a se despetalar.

terça-feira, fevereiro 14, 2017

reverso



órfãos de ideais vagam repetidores em temporadas infinitas
amadores profissionais protestando por paradas cardíacas
órgãos vendidos em séries inacabadas pela audiência fugitiva
fogem dos senhores feudais disfarçados legados confiscados na justiça

atiça a realidade representada rente  quando o não entendido chega
achega arte imitando vida parte daquele dia diferente das séries sem fim
ai de mim nas dores passadas infiltrando agora o futuro puro aconchega

eita pega do multiverso reverso impossível de acompanhar
é apanhar um episódio de um jeito no outro se levantar

há planos individuais coletivos eles não acabam só não sonham mais
os mesmos sonhos sãos sazonais na durabilidade mais longa aliás

saudades repletas não vêm sozinhas elas alinham aninham não somos órfãos jamais.

+ às 11h34, Rafael Belo, terça-feira, 14 de fevereiro de 2017 +

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Não assista séries


por Rafael Belo

Não assista séries! Algumas são tão boas a ponto de nos viciar como os desenhos e animações dos anos 1980 e 1990 das nossas infâncias quando parávamos tudo e corríamos para frente da televisão para mergulhar nas histórias e personagens. Há poucos dias estávamos lembrando, eu e um casal de amigos, desses até o início dos anos 2000. Lembrei, além desses, de séries ainda na minha memória como Anos Incríveis e Mundo da Lua. Séries roubam nosso tempo e nos levam para onde elas passam e de repente é o nosso assunto principal. Elas não acabam mesmo se as temporadas infinitas chegarem ao fim, até porque muitas representam nossa realidade.

Você já parou para contar quantas séries acompanha? Ultimamente eu não tenho assistido. Quero esperar as temporadas acabarem e fazer minha própria maratona, deixar uma parte do tempo livre – só uma parte – para isso. Mas, há pouco eu assistia menos de dez, mas já cheguei a acompanhar algo em torno de 30... Em 2015, foram produzidas 409 séries de TV originais, de acordo com um estudo da vice-presidente executiva da FX Networks, Julie Piepenkotter. É! Você não leu errado. Foram exorbitantes 409 séries impossíveis de acompanhar, mesmo 10% delas.

As mais assistidas e comentadas são Friends, How I met your mother, Supernatural, Games of Thrones, Marco Polo, Vikings, The Walking Dead, Legends of Tomorrow, Grey’s Anatomy, Demolidor, Justiceiro, Luke Kage, Jéssica Jones, Stranger Things, The Flash, The 100, Teen Wolf e centenas de outras não necessariamente nesta ordem. Identificamo-nos, nos aventuramos, nos colocamos no lugar dos personagens, torcemos por eles, reclamamos dos roteiristas, queremos aumentar o tempo e ficamos ansiosos para o próximo capítulo.


Este ano de 2017, o número pode passar dos 455, só a Netflix prevê o lançamento de 30. Friends From College, Punho de Ferro, Os Defensores, Deuses Americanos e Legion são estreias prometidas por diversas emissoras e aguardadas por milhões de fãs.  Nem durante a vida mais longa seria possível acompanhar todas as séries nem àquelas amadas por nós. Aliás, é bom lembrar a durabilidade delas. Supernatural está em seu décimo segundo ano e promete ser o último. Friends chegou há dez anos e How I met your mother, nove. Quando elas acabam nos deixam órfãos repletos de saudades dos melhores episódios, de cada personagem... Então, não assista séries! Pelo menos não sozinho. Faça uma maratona com os amigos e aproveite a maior quantidade de tempo possível para confraternizar.

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Vou estar lá (miniconto)




por Rafael Belo

Já era um ano perdido. Eu, Anara, vou mudar de nome. Talvez as más escolhas parem de me encontrar. Se pararem de me procurar já fico satisfeita. Quem conhece meu rosto já se foi… Agora preciso de uma nota de desaparecimento e morte por dedução com um nota de falecimento veiculada em toda parte. Depois é voltar-me a força divina mais próxima, quem sabe uma novena, e pedir para ser esquecida e não atacada.

Houveram guerras invisíveis aos meus olhos, mas não aos meus ouvidos e minha intuição. Nada fiz. Preferi a razão tão em desuso. Minha cabeça rolou duas vezes e nada a substituiu nem minha função foi preenchida. Devo ser uma lenda ou a lenda específica da mula sem cabeça com adaptação brasileira para a burra sem cabeça. Seria redundante? O peso de uma pena pode derrubar um elefante…

Viviam me perguntando se vivo de ética, de moral e caráter. Pelo visto morro deles também, mas consigo sorrir de verdade, dormir com leveza, ser bem lembrado… E minha alma, vestindo este corpo, é toda gratidão mesmo quando não há um tostão para um filão, vulgo pão. Talvez eu tenha valores de mais ou seja demais ter valores, mas agora penso em um nome novo para mim? Você pensou em utopia? Já me sugeriram antes…


Não se preocupe. Vou encontrar um. Morro todo dia um pouco de mim. Outras pessoas vão diminuindo anonimamente minha população mental, às vezes um universo inteiro explode sem deixar vestígios, mas é bem possível um novo surgir no lugar… Uma supernova sem bandeiras separatistas, extremistas, consumistas da mente, devoradoras de alma, Jack Estripador dos corações… Quando eu me calar, vou estar lá.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Linha reta



autênticas cópias acertam os erros destecem o tecido do som surdo gritado no mudo

culpo o tempo por ainda não esquecer por ainda não curar o incurável sendo um terremoto inamovível
muto um outro ser qualquer em máscaras reais fixadas no meu imparável rosto
há um gosto salgado se fazendo de amargo no meu doce onde meu paladar insosso tem o sabor de um gosto oferecido pelas asas barulhentas do menor inseto destinado a só rastejar
há um experimento do azedo ser agradável para quem experimenta com uma boca não apenas minha
alinha o batimento acelerado no estado estático de quando a linha do coração é um bipe contínuo hospitalar
a morte não vai chegar ela equilibra a arrogância o desprezo no sossego agitado no desassossego do ombro calado ouvinte da hora acertada mesmo no erro na palma estatelada

com as raízes desenhadas da Senhora até no nosso tropeço esquecido dela nunca ter ido embora


+às 02h20, Rafael Belo, quinta-feira, 09 de fevereiro de 2017+

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Sem legado (miniconto)



por Rafael Belo

Há uma carreata logo à frente. Não há buzinas nenhum barulho. Até os veículos estão de luto. Mas, outros automotores buzinam, fazem o sinal da cruz no rosto em um total desgosto de estar perto da morte. Melhor o sarcasmo ou outra sorte como um cortejo não cruzar. Foi-se aquele malandro do meu irmão, corrupto, porém, morreu. Não vou julgar. Era meu sangue e nem sempre foi assim, tão ruim… Por que tenho estas lembranças? É família, tudo bem. Envolveu a todos nós nesta lambança nos jornais. Não há mais esperança. A lama é o mais limpo dos nossos pisos atuais.

Os sons guturais causados pelas decepções e alienações parentais sendo nós filhos de um país nos fazendo ter vergonha da Pátria Mãe Gentil. Quantas vezes já tive vontade de matar meu irmão? Fratricídio… Mas, na maior cara de pau ele me olhava com lágrimas nos olhos treinados e dizia:  Ah, Canita, irmãzinha! Perdoa-me?! Era o suficiente para me derreter. Nada mais poderia fazer. Só o enxergava pequeno, só o via na nossa infância e ele resolveu delatar. Quando um ex-presidente delatou algo? Ninguém acreditou ter sido acidente a morte por atropelamento… Caixão fechado… E agora estão todos o dividindo entre santo e demônio. Ele era os dois! Somos todos!?

Ainda recebo mensagens de ódio nas minhas mídias sociais, no meu celular, até ligações em todos os horários impróprios. Nem sei mais o número do meu celular. É qual? O décimo número em menos de uma semana? Agora de vai tarde, a por quê, Meu Deus, por quê? Conheci amigos íntimos, inexistentes até ontem... Com certeza mais aparecerão e agora? Está acontecendo alguma coisa lá na frente. Ei! Eu disse para não parar sob nenhuma circunstância, não disse?! Nada mas isso, mas aquilo… blablabla… Continue! Anda logo!!! Pela calçada! Ah, sai daí! Não quero saber. Você pode descer ou afivelado o cinto neste banco vazio ao lado. Eu me responsabilizo!

Estão todos mortos!!! Minha família inteira?! Onde estão as crianças?! Faça alguma coisa eu inútil?! Ligue pra alguém?! Não! Não, a polícia não vai resolver isso. Como? Não dá tempo pra chorar agora! Se parar para absorver tudo isso, morro eu também. Por quê você me jogou no chão? Não achei parecido com tiros… Agora sim!!! É de alto calibre. Só pode ser militar. Como eu sei? Para um segurança particular metido a detetive você não sabe nada, como pode? Eu era da defesa pessoal do exército… Sem mais perguntas. Vamos procurar algo para acharmos as crianças. 

Será um sequestro? Será que… Está tudo tão dolorido e lento. Algo queima no meu peito. Perfura minha vida, liberta minha alma... Deve ser um segundo passando, mas meu olhar é uma eternidade. Vai acontecer algo aos meu sobrinhos, meios-irmãos, primos… É uma lição deixada pra quem vive! Eles executaram minha família como exemplo. Com certeza estávamos ao vivo para o mundo inteiro. Nem terei legado. No meio de tanto barulho só fica meu silêncio e um vazio logo a ser preenchido.