Do
céu só corpos celestes e água
por Rafael Belo
Uma maca. Uma cama. Desconhecidos.
Certas situações e lugares não parecem como deveriam parecer. Apesar do coral
irradiando o som de anjos cantando no corredor, o lugar ainda é um hospital. Não
há alegria... Parece um encontro de cruzes pesadas demais para se carregar ou
um local vivo sugando sua energia trazendo uma avançada velhice rápido demais. Tubos,
bips, agulhas, medicamentos, rostos aflitos, mãos apertadas e só consigo pensar
em um jogo de setes erros... Os enfermos não precisam de mais do mesmo,
precisam alegrar a alma, ter o sorriso estimulado e, pessoas ao lado,
transmitindo força e animação.
O ambiente não ajuda. Sério
demais, branco demais, tenso demais... Então, entra a família mais próxima, os
amigos mais íntimos e, em um ciclo, mais pessoas aparecem. Neste clima, ainda
não se esquece do local, mas um alívio se generaliza, uma leveza pousa e se
espalha. A ação e a interação de quem importa e se importa pesam mais. Cruzes são divididas e as sombras agregadas ao
calor são iluminadas e um frescor toma conta do mesmo lugar antes até sombrio.
Mas sempre é preciso
agir e se unir a quem quer evoluir, melhorar. Esperar... É bom, mas, ser
passivo não. Ver pelos corredores as dores de quem está com os enfermos e o sofrimento
de quem enfermo está, em outros hospitais, é um descaso tamanho de deixar a
todos nós doentes também. Mas deixamos tão de lado a saúde, esta no dever de
vir em primeiro lugar, mas muitas vezes a deixamos por último, como se fôssemos
inatingíveis, como se só ter fé fosse o suficiente.
É como acreditar na
ação divina diante da nossa passividade ou, pior, no muro do presídio feminino
de Criciúma, Santa Catarina, ter caído, devido a um temporal justo na hora do
banho de sol das encarceradas e três fugirem... De repente têm pessoas dizendo
ter sido vontade de Deus e mais uma vez cai no esquecimento seletivo ou na
lembrança escolhida: “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”...
Crentes ou não, estrelas, cometas, meteoros, meteoritos, asteroides, lixo
espacial, aeronaves, pássaros, granizo e chuva. Apenas estes caem do céu para
todo o restante precisamos intervir, agir e lutar. Mudar o ambiente.
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