Fantasia perdida
(miniconto)
por Rafael Belo
Ela estava catatônica. Tão
silenciosa por fora, para fora... Obrigando, vez ou outra, alguém se aproximar
para sentir o ar entrar e sair. Mas esta respiração acontecia tão len-ta-men-te...
Ins-pi-ra... Ex-pi-ra... Pareciam horas passar entre a troca de ares, a
oxigenação. Era quase um coma induzido, mas o único acidente ocorrido havia
sido no coração. Colombina nunca quis saber de Pierrô, nem sequer se envolveu
com Arlequim. Este Carnaval passou há tanto tempo. Eram todos crianças. Ninguém
amava desse jeito ainda. Mas, o coração de Bina se quebrou quando seu amado,
Valete, a descartou e, pior, caiu pela janela...
Dor. Profunda e angustiante
dor. Dor de Amor. Para Colombina, não havia mais carnavais nem haveria. Bina
sempre detestou a folia. Bem, sempre não, quase sempre... A trocação
desavergonhada de saliva começou quando viu, ainda naquela infância de Pierrô e
Arlequim, seus pais Dama e Coringa, trocarem de mãos bobas como se estivessem em
um carteado viciado em Las Vegas. Em pleno baile de carnaval... Desde então,
além do trauma, ganhou alergia a confete e serpentina. Bina se sentia como a Jardineira
vendo Camélia caindo e morrendo em dois suspiros. Espirrava sem parar e se
coçava, mas era a primeira vez catatônica...
No entanto sua
expressão era de um analista se divertindo. Havia felicidade e nostalgia
naquele rosto. Parecia ser Benjamin Button e na semana sem ação aparente,
ficava cada dia mais jovem. Se parassem para olhar nos olhos de Colombina, Bina
estaria lá sim. Até enxergava a preocupação e as pessoas cuidando dela. Mas se
olhassem bem mesmo, veriam brilhos intensos e até as lembranças piscando como
se Bina fosse Chiquita Bacana e continuasse a fazer só os desmandos do coração.
Ao entrar no estado de choque, a mente dela a fez vislumbrar cada detalhe das
lembranças.
Por esta semana,
Colombina estava dentro de si. Bina transplantava um novo coração de seus
outros mundos e tudo terminaria no sétimo dia. Ela dedilhava os detalhes dos
detalhes dos detalhes... E pedaço por pedaço começava a voltar ao mundo onde
estava os outros interessados no olhar dela. Ao redor do corpo de Bina tudo
estava vermelho. Fragmentos da dor passando, pareciam vibrar, expandir e contrair,
mas só era possível ver se prestássemos bastante atenção. Todo seu coração
quebrado estava em pedaços espalhado pelo chão. Estavam parando enquanto ela
não.
2 comentários:
Olá, bom dia. Bom tudo, para você.
Vim lhe cumprimentar nesta quarta feira com o meu sentimento de amizade e de contentamento. Desejar-te: Paz e paz.
Um abraço.
Li o miniconto.Está bem interessante.No carnaval tudo é passageiro mesmo,até o amor.Mas,hoje quero dizer-lhe que Jesus vai restabelecer a saúde de seu com certeza.Acredite,beijos.
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