Síndrome
das alegorias
por
Rafael Belo
Cerca de 600 anos Antes de
Cristo, o gregos já caiam na folia. Com muito mais orgia do que nossa atual vã
hipocrisia pode aturar. Cerca de mil anos depois a Igreja adotou a data e há
quem diga que deu o nome em latim carnis
vallles. Daí não precisa ser especialista em nada para juntar dois mais
dois. Os prazeres da carne ou adeus carne. O período anual para ter toda a gula
possível nestes dias chamados “gordos”. Depois vinham os dias “magros” de penitência
e privação. A Quaresma. Os 40 dias para parar e pensar nos excessos e,
antigamente, se privar da carne. Todas as cidades brasileiras tinham seus
festejos carnavalescos regionais para extravasar antes de pedir perdão até chegar
o séc. XIX e Paris espalhar seu estilo, adaptado no Brasil, mais
especificamente na região carioca/paulista, e exportar para o mundo. Começa aí
a síndrome das alegorias.
Resíduo do nada do que foi será de novo do jeito que já
foi um dia porque não poderia deixar de dizer que todo carnaval tem seu
fim... Brincar de ser feliz, pintar o nariz, se festejar e alegria, alegria...
Depois... Bem e depois? Não pensamos no depois. Queremos viver agora porque, gritaria Nelson Rodrigues, toda nudez será
castigada. Mas parece haver em nós este
gene milenar de ignorar toda a ética e moral imposta pela Igreja adotada e
lapidada pelos atuais poderes. Os gregos que confirmem. Então, parece que viver é se entregar a bebida, ao sexo e
saltar todas as barreiras sociais, morais, espirituais, físicas... Para atingir
o recorde dos recordes olímpicos e mundiais da ressaca moral.
Por isso, quando chega
a Quarta-feira de Cinzas, a lembrança de que voltaremos ao pó, o
enterro-dos-osso, as sobras do Carnaval, realmente vem o chamado do arrependimento?
A vontade de penitência e reconhecimento dos erros cometidos? Posso estar bem
enganado, como todos nós, mas a maioria segue o Carnaval pelo resto do ano ou
começo deste. Então, entra na avenida da culpa/remorso/tô nem aí/sou assim
mesmo, resíduos dos dias “gordos”. O reflexo gordo e do “tudo posso”. Com suas
comissões de frente especializadas na busca pelo próximo Carnaval.
O reflexo gordo segue
guloso, mas tentando não ver o espelho onde devorou tudo o que podia e, principalmente,
tudo que não devia. Segue tentando devolver o passe-livre e todas as memórias
dos últimos três a sete dias de vale-tudo. A não ser que tenha a doença da
amnésia alcoólica... Já o “tudo posso” saí contando detalhes do libera geral
que promoveu e continua promovendo, às
escondidas, em toda oportunidade ou as
vai criando conforme exigir seu
prazer. Claro, existe áreas cinzentas e as derivações das fantasias de
Carnaval, só para depois negarmos sorridentes: brasileiro não é só folia, peito e bunda. Ah, não, somos muito
mais... Um povo que ri quando deve chorar. Afinal, chorar pra quê? Vamos cultivar
os espinhos para virarem sementes puras e os soprarmos ao vento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário