Espera agitada
(miniconto)
por Rafael Belo
Ela andava de um lado
para o outro. Às vezes um brilho intenso
iluminava seus olhos e de repente se apagava. Sentia-se em um corredor estreito
repleto de lembranças, mas ao mesmo tempo era branco. Um branco impecável. Tão branco
de doer os olhos. Então, Elena parava. Para ela, tudo escurecia. Era como fios
desencapados soltos se tocando até tudo ser fogo e consumição. Nada fazia sentido. Quando alguém a lembrava
disto, Elena gritava de dor. Seu corredor era de dor. Mas sofria por algo
distante... Algo não feito. Até, por fim, se perder e sorrir sem perceber.
Sem saber por onde
caminhava... Seu corredor tinha fim se olhasse bem, mas se vacilasse o olhar
ficava interminável. Tinham momentos de confusão. Suas lembranças se misturavam
e o corredor oscilava, vivo. De estreito e solitário se transformava em largo e
em uma multidão. Em instantes eram conhecidos no segundo seguinte desconhecidos
apavorantes. Quando isso acontecia, Elena revelava uma mania. Ela tinha a mania
de passar ambas as mãos pela cabeça. Adorava ouvir tão perto aquele som de roçar
no mato fechado. Não entedia o motivo, mas tinha algo a ver com carinho e
segurança.
Seu corredor na verdade
eram corredores doloridos, escondendo sofrimentos. No fundo sem fim de algum
deles, estava o conhecimento mais dolorido. Elena estava doente e sabia. Mas escondia
tão bem, mas tão bem, mas tão bem... Sua força de vontade falsificava sorrisos
e força. Ela estava fraca e tentava se distrair de todos os sinais do corpo, de
todas as manobras da mente. Tanto esforço para não lembrar, a fazia esquecer de
tantas coisas... Criava colapsos na mente, porém, ainda assim sentia. Havia um
peso desproporcional, uma energia vital sugada...
Enferma. Sufocava com
seus esconderijos, seus artifícios para não contar. Quando decidiu respirar,
começou a falar sem parar. Mas tudo era sua imaginação. Não passava de auto-conto-de-fadas,
da mesma forma os gestos da sequência. Gestos expansivos e veementes, cheios de
vírgulas, reticências e outras pontuações. Ela estava morrendo. Um pouco a cada
dia. Morria nos últimos cento e 15 anos. Vivia da mesma forma. Todos eram assim
e ainda são. Mas, poucos serão centenários. Se levarmos em conta como cuidam da
saúde ou como a exageram. Aliás, Elena está na espera. Espera o próximo
centenário tomar o seu lugar.
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