Estela
não podia... (miniconto)
Estela não podia andar,
mas andava. Não conseguia falar, mas falava. Não era possível estar ali ou em
qualquer outro lugar, mas estava. Ela, Estela, olha tijolos na calçada
abandonada sendo apropriada pelo verde. Retomada. Tanto ela quando aquele aspecto
abandonado daquele espectro de lugar. E aquele verde-laranja passou a verde olho
no olho, rosto a cara... Aparecendo direto da luz desviada do sol daquele dia. Era
uma manhã, talvez não qualquer. Mas, logo o luar estava ali sorrindo aquele
frágil roxo das pequenas flores bloqueando a passagem. Estela ainda estava ali,
não importava se não podia.
Estela era forte. Tão forte
a ponto de ser comparada a uma estrela. Comparação exata, desde nome. Confiante
e magnética, por onde passava levava olhares de todos os tipos. Eles iam independentes
de homem ou mulher e preferência sexual. Não era bela, mas os passos firmes, o
olhar à frente, brilhante, a cabeça erguida e o corpo ereto, faziam as pessoas
pensarem Qual é a dela?! Até a
natureza se aproximava sem medo de Estela. Pássaros curiosos, borboletas e seus
efeitos, joaninhas e suas crenças, beija-flores e seus milagres. Mesmo assim
Estela não podia ser assim... Mas era.
Parecia Estela provocar
o silêncio. Talvez fossem as dúvidas brotando como mensagens no WhatsApp acima
da cabeça das pessoas. Porém, ninguém se irritava ou malpensava ela. Estela inspirava a totalidade, viventes, e ninguém
sabia o porquê. Isso, porque Estela se
isolava. Ajudava, fazia e refazia, revirava, levantava, mas guardava suas dores
nas lágrimas para o papel. Ah, sim. Estela escrevia, cantava, desenhava,
compunha, mas só mostrava pouco e o suficiente. Não era exibida, afinal. Compartilhava
mais a fala pela mídias digitais, mas mais pelo Facebook. Gostava de se
esconder no falecido Orkut... No impossível lugar onde não podia estar... Mas
nem ligava.
Estela não podia um
monte de coisas. No entanto duvidava resolver sentar, deitar, esperar... Não!
Ela absorvia todo minuto há vários anos, não importava laudo, diagnósticos,
especialistas... Estela prolongava e se estendia por onde alcançava. Não pensava
em marcar, mas marcava. Por isso, quando a cama a abraçou e o povo de branco a
encheu de dependência de fios e tubos. Ela sorria e dizia Eu posso e podia. Todos, então, diziam Estela Pode... Podia tudo e ainda pode. Não sabemos e ela não
divulga. Seu sobrenome era Impossível e ela admirava centenárias tartarugas.
Pensava nas rugas das Estrelas mortas ainda a brilhar por milhares de anos.
3 comentários:
Eu entendi que a personagem deste miniconto,tem um personalidade forte.É um exemplo de mulher guerreira destas que conhecemos atualmente.
Há quem, por desconhecimento, acaso ou ousadia, desafie os limites do improvável, e é um ato nobre, seja como for.
Muito bom, moço! Inspirador!
Um beijo.
Também é isso tia.
Sem dispersão nobre José Maria.
Há quem, moça inspiradora. Obrigado Luna.
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