sexta-feira, março 21, 2014

Estela não podia... (miniconto)



Estela não podia... (miniconto)

Estela não podia andar, mas andava. Não conseguia falar, mas falava. Não era possível estar ali ou em qualquer outro lugar, mas estava. Ela, Estela, olha tijolos na calçada abandonada sendo apropriada pelo verde. Retomada. Tanto ela quando aquele aspecto abandonado daquele espectro de lugar. E aquele verde-laranja passou a verde olho no olho, rosto a cara... Aparecendo direto da luz desviada do sol daquele dia. Era uma manhã, talvez não qualquer. Mas, logo o luar estava ali sorrindo aquele frágil roxo das pequenas flores bloqueando a passagem. Estela ainda estava ali, não importava se não podia.

Estela era forte. Tão forte a ponto de ser comparada a uma estrela. Comparação exata, desde nome. Confiante e magnética, por onde passava levava olhares de todos os tipos. Eles iam independentes de homem ou mulher e preferência sexual. Não era bela, mas os passos firmes, o olhar à frente, brilhante, a cabeça erguida e o corpo ereto, faziam as pessoas pensarem Qual é a dela?! Até a natureza se aproximava sem medo de Estela. Pássaros curiosos, borboletas e seus efeitos, joaninhas e suas crenças, beija-flores e seus milagres. Mesmo assim Estela não podia ser assim... Mas era.

Parecia Estela provocar o silêncio. Talvez fossem as dúvidas brotando como mensagens no WhatsApp acima da cabeça das pessoas. Porém, ninguém se irritava ou malpensava ela. Estela inspirava a totalidade, viventes, e ninguém sabia o porquê.  Isso, porque Estela se isolava. Ajudava, fazia e refazia, revirava, levantava, mas guardava suas dores nas lágrimas para o papel. Ah, sim. Estela escrevia, cantava, desenhava, compunha, mas só mostrava pouco e o suficiente. Não era exibida, afinal. Compartilhava mais a fala pela mídias digitais, mas mais pelo Facebook. Gostava de se esconder no falecido Orkut... No impossível lugar onde não podia estar... Mas nem ligava.

Estela não podia um monte de coisas. No entanto duvidava resolver sentar, deitar, esperar... Não! Ela absorvia todo minuto há vários anos, não importava laudo, diagnósticos, especialistas... Estela prolongava e se estendia por onde alcançava. Não pensava em marcar, mas marcava. Por isso, quando a cama a abraçou e o povo de branco a encheu de dependência de fios e tubos. Ela sorria e dizia Eu posso e podia. Todos, então, diziam Estela Pode... Podia tudo e ainda pode. Não sabemos e ela não divulga. Seu sobrenome era Impossível e ela admirava centenárias tartarugas. Pensava nas rugas das Estrelas mortas ainda a brilhar por milhares de anos.


3 comentários:

Dione Bello disse...

Eu entendi que a personagem deste miniconto,tem um personalidade forte.É um exemplo de mulher guerreira destas que conhecemos atualmente.

Luna Sanchez disse...

Há quem, por desconhecimento, acaso ou ousadia, desafie os limites do improvável, e é um ato nobre, seja como for.

Muito bom, moço! Inspirador!

Um beijo.

olharesdoavesso disse...

Também é isso tia.

Sem dispersão nobre José Maria.

Há quem, moça inspiradora. Obrigado Luna.