Naquela comunidade
isolada, a lei era outra. A taxa de natalidade era sorteada por casal e gêmeos
eram considerados uma maldição. Uma alma indecisa partida. Cuja única decisão
foi viver em corpo quase idênticos, mas com escolhas diferentes. Então, há
séculos eles matava. Era uma cidadezinha brasileira não encontrada nos mapas,
muito menos nos GPS. Ficava entre dois morros, onde no início da colonização
passava uma estrada de comerciantes itinerantes. Eles mesmo a destruíram. Nunca
se soube o motivo. Mas, neste mesmo instante o gêmeos sentenciados a morte
foram dados como mortos. O parteiro era o pai e havia guardado dois corpinhos
para trocar nesta hora.
Os gêmeos Posse e
Próprio foram escondidos e levados com a mãe, também declarada morta e
substituída por um cadáver genuíno, para a cidade mais próxima. Cerca de 300 km
dali. Próprio aos cincos anos, só queria ter coisas dele. Posse na mesma época,
só queria se apossar das coisas do irmão. Claro, aos dez já se batiam. Brigavam
e viviam de olho roxo. Na escolinha já eram chamados de gêmeos do poder. Tinha a
personalidade mais forte já registrada. Era
parecidas. Tanto a serem quase iguais. Quase... Posse tinha seguidores aos
milhares em todas as mídias digitais e delegava todo trabalho da sua empresa
Possuindo o Hoje. Próprio nem conversava com seus milhares de puxa-sacos nas
mídias digitais. Ele só mandava e milhares obedeciam e disfarçadamente
boicotavam a empresa Propriedade do Amanhã.
Um reflexo pálido de
Esaú e Jacó e Pedro e Paulo. Só que no ventre Posse segurou Próprio e nasceu
primeiro. O segundo filho nasceu primeiro, mas isto não tem importância nenhuma
na história. Ficaram órfão assim... Praticamente um dia de nascidos.
Descobriram a farsa do pai e o mataram. Seguiram a mãe e a mataram. Mas antes,
avisada, ela os escondeu em um orfanato durante a madrugada. Lá ele já exerciam
a liderança e alimentavam o confronto entre eles. Não havia nada de bonitinho
de ter alguém praticamente idêntico. Eles odiavam se olhar. Era um espelho.
Havia desespero na
aura de confiabilidade, segurança e chamado para seguir emanando deles. Apenas isto
era exatamente igual. Porém, Hoje e Amanhã foram trágicos e cegos. Ambos vendiam
aplicativos de vigilância e disputavam o mercado. Existia Poder em toda parte. Não
havia limites e para acabar com a concorrência, se corromperam. E em um mundo
descartável a falência grita a presença a cada seis meses. Faliram como poucos
meses de diferença. Tudo foi rapidamente robotizado. Posse e Próprio focados em
se destruírem. Acabaram como vieram: juntos. Encontraram-se na cobertura da
Arena Pantanal a intenção era acabar com a rivalidade de ventre. Mas, não houve
qualquer contenção. Rolaram, se socaram e caíram... Mais de 30 metros de queda
livre. Foi o fim do Poder. Chamado: nem a morte os separam.
Um comentário:
Olá.
Para você, os meus sentimentos carinho.
Meus desejos de um tempo de harmonia e contentamentos.
Abraços.
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