quarta-feira, maio 21, 2014

Gêmeos do poder (miniconto) – por Rafael Belo



Naquela comunidade isolada, a lei era outra. A taxa de natalidade era sorteada por casal e gêmeos eram considerados uma maldição. Uma alma indecisa partida. Cuja única decisão foi viver em corpo quase idênticos, mas com escolhas diferentes. Então, há séculos eles matava. Era uma cidadezinha brasileira não encontrada nos mapas, muito menos nos GPS. Ficava entre dois morros, onde no início da colonização passava uma estrada de comerciantes itinerantes. Eles mesmo a destruíram. Nunca se soube o motivo. Mas, neste mesmo instante o gêmeos sentenciados a morte foram dados como mortos. O parteiro era o pai e havia guardado dois corpinhos para trocar nesta hora.

Os gêmeos Posse e Próprio foram escondidos e levados com a mãe, também declarada morta e substituída por um cadáver genuíno, para a cidade mais próxima. Cerca de 300 km dali. Próprio aos cincos anos, só queria ter coisas dele. Posse na mesma época, só queria se apossar das coisas do irmão. Claro, aos dez já se batiam. Brigavam e viviam de olho roxo. Na escolinha já eram chamados de gêmeos do poder. Tinha a personalidade mais forte já registrada.  Era parecidas. Tanto a serem quase iguais. Quase... Posse tinha seguidores aos milhares em todas as mídias digitais e delegava todo trabalho da sua empresa Possuindo o Hoje. Próprio nem conversava com seus milhares de puxa-sacos nas mídias digitais. Ele só mandava e milhares obedeciam e disfarçadamente boicotavam a empresa Propriedade do Amanhã.

Um reflexo pálido de Esaú e Jacó e Pedro e Paulo. Só que no ventre Posse segurou Próprio e nasceu primeiro. O segundo filho nasceu primeiro, mas isto não tem importância nenhuma na história. Ficaram órfão assim... Praticamente um dia de nascidos. Descobriram a farsa do pai e o mataram. Seguiram a mãe e a mataram. Mas antes, avisada, ela os escondeu em um orfanato durante a madrugada. Lá ele já exerciam a liderança e alimentavam o confronto entre eles. Não havia nada de bonitinho de ter alguém praticamente idêntico. Eles odiavam se olhar. Era um espelho.


Havia desespero na aura de confiabilidade, segurança e chamado para seguir emanando deles. Apenas isto era exatamente igual. Porém, Hoje e Amanhã foram trágicos e cegos. Ambos vendiam aplicativos de vigilância e disputavam o mercado. Existia Poder em toda parte. Não havia limites e para acabar com a concorrência, se corromperam. E em um mundo descartável a falência grita a presença a cada seis meses. Faliram como poucos meses de diferença. Tudo foi rapidamente robotizado. Posse e Próprio focados em se destruírem. Acabaram como vieram: juntos. Encontraram-se na cobertura da Arena Pantanal a intenção era acabar com a rivalidade de ventre. Mas, não houve qualquer contenção. Rolaram, se socaram e caíram... Mais de 30 metros de queda livre. Foi o fim do Poder. Chamado: nem a morte os separam.

Um comentário:

José María Souza Costa disse...

Olá.

Para você, os meus sentimentos carinho.
Meus desejos de um tempo de harmonia e contentamentos.
Abraços.