sábado, agosto 30, 2014

Alegoria nossa (resenha do livro Ele está de volta) – por Rafael Belo



O passado deve permanecer no passado. Não aguentaria a velocidade do presente, a não ser se aparecessem neste momento gênios a frente do próprio tempo. Mas, não Hitler. Adolf Hitler não tem graça. Até quem não se lembra das atrocidades e ampliações territoriais da Alemanha nazista durante o assombrado holocausto no regime hitlerista, quer esquecer este período obscuro.

Ele está de volta, de Timur Vermes, me ganhou pelo designer clean, simples e significativo da capa e pela ideia de trazer o Führer führioso, mas a profundidade do personagem em um texto narrado o tempo todo em primeira pessoa nos cansa e não leva a crer no bizarro Reich alemão, porém vale a crítica à política atual alemã que reflete o posicionamento partidário mundial.

Uma coisa ruim não desaparece por uma coisa boa, então ele voltar e se adequar aos veículos de 2011, com todos os achando um comediante genial sem aceitar a possibilidade de ser realmente quem é, é típico da nossa desatenção e descrença. O perfil que conhecemos dele sem levar em conta seus (de)feitos e efeitos é levemente engraçado levando em consideração o cabelo e o bigode junto com a mania de grandeza.

São 300 páginas em um ritmo questionador sobre nossa realidade e o que aceitamos como cultura e valor. Nesse novo mundo se atropelando onde dizer a verdade é tão perturbador que preferem rir e achar graça na seriedade. Local das distorções e manipulações adaptadas conforme se quer acreditar na sombra da caverna enquanto permanecemos acorrentados de costas para a fresta onde a luz invade para acreditarmos ser os ecos e reflexos a realidade.


ELE VOLTOU. E ESTÁ FÜHRIOSOELE ESTÁ DE VOLTA - Timur Vermes

Adolf Hitler acorda num terreno baldio. Vivo. As coisas mudaram: não há mais  Eva Braun,  nem partido nazista, nem guerra.  Hitler  mal  pode  identificar  sua  amada  pátria,  infestada  de imigrantes e governada por uma mulher. As pessoas, claro, o reconhecem— como um imitador talentoso que se recusa a sair do personagem. Até que o impensável acontece: o discurso de Hitler torna-se um viral, um campeão de audiência  no  YouTube,  ele  ganha  o  próprio  programa de  televisão e todos querem ouvi-lo. Tudo isso enquanto tenta convencer as pessoas de que sim, ele é realmente quem diz ser, e, sim, ele quer mesmo dizer o que está dizendo. Ele está  de  volta  é  uma  sátira  mordaz  sobre  a  sociedade contemporânea  governada  pela  mídia.  Uma história  bizarramente inteligente, bizarramente engraçada e bizarramente plausível contada pela perspectiva de um personagem repulsivo, carismático e até mesmo ridículo, mas indiscutivelmente marcante.

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