quarta-feira, agosto 13, 2014

Liberdade para quê?! (miniconto) – por Rafael Belo





Há tanto tempo ela seguia aquelas regras surreais e rígidas que nem sequer se lembrava do motivo de ser tão caxias. Não lembrava quando a carga horária de trabalho humanamente possível foi triplicada, no momento do sumiço dos direitos do trabalhador e daquela insistência do enriquecimento rápido por meio da ditadura e escravidão. Soledad via as pessoas ao seu redor morrerem como baratas envenenadas com baygon.

Extremos. Mas, os tempos não mudaram, as pessoas simplesmente aceitaram os corruptos desdobramentos dos marajás que as comandavam, que invertiam a situação de quem era empregado e quem era patrão de quem. Aquela imagem dos pássaros voando unidos e livres, não era uma esperança para Soledad era tortura. Pior que a dor física estimulada nela diariamente.

Todos os dias, Soledad era torturada com a promessa de férias, mas o dinheiro oferecido para trabalhar também em outros setores, em outros turnos a prendiam. Já ganhara muito dinheiro, mas mal tinha tempo de comer, quem dirá sair e relaxar. Trabalhava pelo trabalho. Um círculo vicioso só inferior as correntes prendendo os pés e as mãos. Limitando os movimentos.


Empobrecidos, os pensamentos também estavam limitados. Era pura rotina de escravidão. Acordar, comer, dormir e entre estas necessidades fazer a higiene pessoal. Não havia mais outros pensamentos. Quem conseguia fugir desta escravidão partia para se embebedar sem saber ao certo porquê, quem não simplesmente só queria dormir para no dia seguinte começar tudo de novo. Então, os grilhões caíram e a liberdade foi dada, mas fazer o quê com isto? Soledad queria perguntar àqueles pássaros, no entanto só conseguia falar e olhar. Mais nada.

Nenhum comentário: