Há tanto tempo ela
seguia aquelas regras surreais e rígidas que nem sequer se lembrava do motivo
de ser tão caxias. Não lembrava quando a carga horária de trabalho humanamente possível
foi triplicada, no momento do sumiço dos direitos do trabalhador e daquela
insistência do enriquecimento rápido por meio da ditadura e escravidão. Soledad
via as pessoas ao seu redor morrerem como baratas envenenadas com baygon.
Extremos. Mas, os
tempos não mudaram, as pessoas simplesmente aceitaram os corruptos
desdobramentos dos marajás que as comandavam, que invertiam a situação de quem
era empregado e quem era patrão de quem. Aquela imagem dos pássaros voando
unidos e livres, não era uma esperança para Soledad era tortura. Pior que a dor
física estimulada nela diariamente.
Todos os dias,
Soledad era torturada com a promessa de férias, mas o dinheiro oferecido para
trabalhar também em outros setores, em outros turnos a prendiam. Já ganhara
muito dinheiro, mas mal tinha tempo de comer, quem dirá sair e relaxar. Trabalhava
pelo trabalho. Um círculo vicioso só inferior as correntes prendendo os pés e
as mãos. Limitando os movimentos.
Empobrecidos, os pensamentos
também estavam limitados. Era pura rotina de escravidão. Acordar, comer, dormir
e entre estas necessidades fazer a higiene pessoal. Não havia mais outros
pensamentos. Quem conseguia fugir desta escravidão partia para se embebedar sem
saber ao certo porquê, quem não simplesmente só queria dormir para no dia
seguinte começar tudo de novo. Então, os grilhões caíram e a liberdade foi dada,
mas fazer o quê com isto? Soledad queria perguntar àqueles pássaros, no entanto
só conseguia falar e olhar. Mais nada.
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