sexta-feira, agosto 15, 2014

preso na caixa (miniconto) – por Rafael Belo





Aquela pena representava toda a liberdade. Ele estava confinado em uma caixa a prova de som. Nunca houve grades ou correntes, mas como cresceu sem contatos e relacionamentos, apenas sob a ditadura do silêncio, era prisioneiro do desconhecimento. Saga estava condicionado a não agir e pensar, então, era tão confuso. Era alimentado três vezes ao dia e depois uma bacia com água para se limpar. Até hoje. Uma parte gasta da caixa se abrira...

Lá fora a pena era soprada pelo vento. Para Saga a pena parecia diferente, mas era a primeira a chegar até os olhos dele, então... Estava desorganizada. Era a única palavra a ser entendida quando aquelas mãos entravam e saiam da caixa. Só sabia quando dormir e acordar por meio daquela luz artificial no meio da caixa. Para ele vento era uma respiração forte. Era o som entrando pela parte desgastada à prova de som...

Respiração livre começou a queimar dentro dele como desejo. Seu coração ofegava junto com a aceleração da respiração. Saga não conseguia ficar parado. Só conhecia o cheiro do medo e aquele novo odor, cheira liberdade, mesmo ele não sabendo nomear aquela sensação. Sabia ser... Pensava ser... Bem, ele não entendia ainda como aquele líquido e aquela coisa podre saindo dele sumia a cada novo acender de luz.


Saga não conseguia cortar suas unhas com a boca, então ele as raspava para manter elas rentes aos dedos. Raspava justamente onde o buraco se abriu. Saga forçava a abertura e ela cedia. Lá fora a pena parecia aproveitar o vento e se tivesse olhos, deveriam estar fechados. Saga só queria sentir aquilo. Sua dona tinha medo dele e ele sairia para mostrar a ela não ter motivos para temê-lo. Ele não sabia do motivo do temor dela vir da desinformação sobre sua raça. Mas ele apenas latiria e faria festa, não perguntaria para ela quem era o animal.

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