quarta-feira, agosto 06, 2014

sentir para lá (miniconto) – por Rafael Belo





Logo ela estava pensando. Refletia a própria existência e dos outros. Será que existiam mesmo? Por uma questão de raciocínio a resposta óbvia já fora dada. Penso, logo existo... Mas, Soraia não era muito destas reflexões. Impulsiva, gostava de impor seus sentimentos aos outros e queria retribuição instantânea.

Era espontânea... Mas os outros... Os outros... Estes eram ingratos. Não conseguiam ser espontâneos com Soraia. Era pressão demais. A exigência de expor os sentimentos. Falar era perigoso, calar também... Tudo gerava dúvidas em Soraia. A demora de expressar seja lá... A fazia sentir-se mal. Ela estava com dores de cabeça intensa.

Também estava de ponta cabeça há horas. Seu sangue latejava. O pneu do carro estourara em uma curva e quando percebeu estava com as quatro rodas para cima. Era tarde quando em um impulso resolveu dar uma volta pela cidade silenciosa. Quem sabe conseguiria silenciar a mente da mesma forma.


Então, era o momento e o lugar exato para pensar no sentido da vida. Soraia estava intacta. Sem dores, sem traumas, mas não sentia nada... Nem vontade de sair dali. Talvez fosse depressão, pensou. Decidiu se mexer e saiu do carro. Ia caminhar a esmo. Quando estava a cem metros do acidente, o cheiro forte de gasolina chegou até ela ao mesmo tempo em que a explosão. O Ka 2014 com extensas prestações agora era uma grande fogueira de ferro e pano retorcido. Ela pensou: - melhor assim, vou sentir em outro lugar. Quero é me divertir.

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