Ele via a cegueira em
todos e se bobear até os cegos viam. O problema é que o escuro já o enchia de
medo e fora isso ele estava vazio. Realmente vivia fora de si. Esbravejava a
qualquer limiar de tensão. Chegava a ficar rouco e tossia, o que o deixava
ainda mais raivoso. Como um cão acuado. Gean estava perdendo a visão.
Não havia médico
capaz de encontrar a razão. Enquanto isso, seus olhos esbranquiçavam. Só vultos
passavam por todo lado. Gean se assustava ainda mais. Naquele dia ele havia
parado o carro em um lugar pouco movimentado. Não tinha planejado nada, muito
menos ficar largado por ali até a noite chegar. Mas, ela chegou revelando a
cegueira de todos e trazendo a dele.
Antes das luzes de
seus olhos se juntarem a tantas pessoas escolhendo não ver. Ele chorou. Suas lágrimas
pareciam se misturar com a chuva escorrendo na janela. Tudo ao alcance da visão
de Gen eram faróis perdidos, vultos correndo e as cores fazendo de prismas toda
aquela água doce por fora e salgada por dentro.
Poderia ser uma água
salobra se realmente se misturassem, mas havia a janela entre elas. A luz do
poste se multiplicava. Parecia criar uma lua própria para Gean enquanto as
estrelas caiam naquele último céu visto por ele. Seu último desejo para seus
olhos, era que quando fechassem e o levassem para a escuridão deixassem todos
os detalhes à vista, até o resto do corpo ir a prazo. Que mesmo ele estando
cego que o mundo parasse de ensaiar a cegueira. E a visão se foi...
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