quarta-feira, agosto 20, 2014

Foi embora (miniconto) – por Rafael Belo







Qualquer um necessitado de ajuda, logo a via sendo a salvadora, o ombro amigo. Certa deixa, Ternura armou seu melhor sorriso e disparou no auxílio de todo um grupo de irmãos. Eram duas mulheres e dois homens. Não tinham nem 20 nem 30 anos, mas perderam qualquer acúmulo material já conquistado. Ela deu além da metáfora da palavra e criou limitações gerais. Não era mais o outro os limites, era si mesmo.

Ternura nem era dona deste nome. Ela era uma mentira. Seu nome verdadeiro, Tessália, fora deposto há muito tempo. Mas, naquele tempo ela era ela mesma. Tinha percepção, no entanto era submissa. Era menos carente, contudo era compensada pelas visitas furtivas de ex-namorados na casa do ex-marido. Tinha compensações para tudo, mas alguém disse ser essencial ser feliz.

Ternura restituíra uma personalidade meiga, carinhosa, preocupada e solícita. Enfim, fazia jus ao novo nome, mas sua carência só aumentava. Ela chorava escondida e falava pelos cotovelos, não só os dela, mas dos outros também. Fingia ter um rumo, porém, estava totalmente perdida. Precisava dizer a verdade, necessitava contar sua história, não era possível esconder de si mesma tanta carência.

Ela se sentia um cachorro dependente do dono até para comer a ração já posta. Ela queria a presença desta pessoa inexistente, então foi presa na limitação da própria sombra em paralelo com a luz no olhar. Ternura olhava incapaz de enxergar. Suas lágrimas eram que choravam ela. Não havia mais eu naquela carcaça disposta ao sol. Toda Ternura também tinha ido embora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante......para que possamos refletir....mamys