por Rafael Belo
Varrendo a
calçada alagada na hora da chuva, tentando se ocupar. Parando todo momento e
expondo seu sentimento a quem passar. Um dedo
molhado de prosa sem impermeabilidade, por favor. Depois segue passando a
vassoura na água. Prestando atenção de verdade adiante, lá onde o ônibus para, enchendo e derramando gente encharcando
a roupa aos poucos com a indiferença dos loucos tão sábios em seus próprios
rios.
A senhora via
virem dois jovens com minutos de diferença. Não se conheciam era evidente, só
esperavam, por acaso, o mesmo ônibus, mas não desceriam no mesmo lugar. Porém,
se olharam confidentes. Confidência do que ouviram. Falavam os impermeáveis
motoristas diante da impermeabilidade daquela garoa da noite vermelha. Os dois
estavam protegidos pelo teto do ponto de ônibus.
Sozinho à
frente, cabelo liso-duro-sujo, um universitário nem ligava para a chuva a cutuca-lo
por todos os lados. Não se mexia nem confidenciava aquele segredo de estranhos
entre os dois a o observarem e lá vinha o olhar confidente e o sorrisinho
cúmplice. À direita sobravam explicações e nenhuma resposta se fixava ao
solitário homem também se molhando ou era impermeável também?
Após algum
tempo se protege com o capuz do moletom e se encolhe no próprio mundo da sua
playlist sem ritmo. Só luzes e sombras escorriam com a chuva, tudo mais se
acumulada e os dois desconhecidos dedilhavam com os olhos outras confidências
silenciosas que ali existiam, bastava atentar os ouvidos. Eles ainda esbarravam
o olhar, mas em tantas formas de escolher o autismo impermeável, eles somente
olhavam para a cidade chovida se inundando nos alagamentos de gotas contadas,
sem nenhuma confidência em palavras. Não
queriam mesmo se conhecer ou falar, não havia necessidade.
Um comentário:
"Nao queriam mesmo se conhecer....." as entrelinhas já dizem td....,o silêncio ás vezes é um grito! Muigo bom...m.......nao tenhi conta por isso posto como anonimo
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