por
Rafael Belo
Poucas pessoas passavam
pelo terminal naquele horário. Eram quase 9h da manhã de uma sexta-feira, os
ônibus mal paravam e já partiam. Os passarinhos olhavam... Os funcionários
trocavam de turno e as duas crianças - entre poucos saudáveis 5 e 9 anos – pareciam
com acessórios daquele lugar. Acessórios ignorados, perdidos e praticamente
lutando pela sobrevivência desde o primeiro horário de pico do dia.
Inicialmente eram
obstáculos para os apressados paulistanos (de origem ou por adoção) e depois
elas precisavam se alimentar... Ninguém olhava para baixo, outro desafio... Todos
evitam sentir pesar. Queriam se afastar do contato visual e de
relacionamentos... Nada de se envolver de verdade. Mas sabiam de uma forma que
podiam esquecer... Esqueciam... Como fingir a ausência de duas menininhas?
Presentes embaixo,
famintas como bonecas largadas pelas meninas mimadas que têm demais e quase
nada de afeto de fato. Foi assim que uma jovem devorando um prensado cachorro
quente se encolheu como se fugisse da noiva do Chuck. Ela fazia parte de um
casal solitário. Era aquela parte virando o rosto em pânico, mas indiferente
sem dar qualquer resposta ao pedido vindo de algum ponto daquela mãozinha a
encostar nela.
Ele olha
segurando um lábio retorcido ao mesmo tempo no qual repassa os porquês de terem
chegado até ali. Não consegue sorrir e dobra seu pedido como as meninas
dobraram... “não incomodem. Deixe o cliente em paz...” Ele olha respirando
forte para o funcionário ávido por satisfazer seu comprador... Depois apenas
ignora sua vontade e as palavras desse com a mesma intensidade do abraço para
as meninas. Um capaz de tirá-las daquela realidade exploratória, dali... Desta
cidade fria e distante, mas apenas atende a vontade delas. Felizes elas comem
pão de queijo enquanto ele espera silenciosamente o labirinto com o qual casou.
Um comentário:
Lindo...suave...marcante!
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