por Rafael Belo
Estava tão
impermeável sua vida que ela secava. Acumulava pó e o vento a espalhava. Foi assim,
com um pedaço dela chegando com um hálito quente que ele a notou. Ela precisava
de menos poeira e muitos menos do mais em seu depósito mental e material, mas
mesmo sendo uma redundante duna ambulante ele enxergava o brilho fechado nela. A
olhava sem ver nada mais, como se o universo acabasse de começar em um inédito
Big Bang.
Sentiu-se ele
mesmo impermeável. Deu-se conta de ainda não ter saído do pó de onde viemos
todos e com toda a chuva passando por ele diariamente, ainda não se molhara. Ele
realmente enxergava aquela luz nela. Seus olhos lacrimejavam e secavam antes
dele perceber, mas a ardência permanecia. Naquele momento chovia e era como se
as gotas desviassem deles e escorressem por toda cidade.
Ela o viu pelo
canto do olho e ficou sem se mexer, lembrando vez ou outra de respirar, mas
permaneceu intacta. Uma estátua de sal maculada pelo esquecimento. Uma destas
raridades paradas no tempo depois de uma bárbara invasão. Ela estava com a
cabeça doendo de tanto forçar os olhos para não perdê-lo de vista, sem se
virar. Olhava-o como se visse um pôr-do-sol interminável no meio da noite.
Cientes de que sementes e
sequidão eram aridez. Eles tentariam enriquecer seu próprio solo, cultivar
jardins pessoais, se Amar primeiro... Ser tão felizes individualmente a ponto
de um grão de poeira ser praia e uma lágrima o mar. Então navegar... Se
reconheceriam novamente, mas com a sensação, com sentimento totalmente
desconhecido para compartilhar a soma e um no outro, quem sabe, finalmente se
encharcar.
Um comentário:
Lindo,um dos melhores que já li....." e um no outro finalmente se encharcar"...perfeito mamyd
Postar um comentário